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COMÉRCIO MUNDIAL
Documento europeu critica Mercosul, mas faz proposta similar à do bloco sul-americano para a Alca
União Européia propõe dividir OMC em duas
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
A União Européia está propondo a criação de uma OMC2, na
qual possam ser tratados os temas
que levaram ao fracasso a mais recente Conferência Ministerial da
Organização Mundial do Comércio (por enquanto única), como
regras para investimentos, compras governamentais, política de
concorrência e facilitação de negócios.
O irônico no trabalho preparado pela Comissão Européia, o
braço executivo do conglomerado de 15 países que se tornarão 25
a partir de 2004, é que ele critica o
G20plus, o grupo de países em desenvolvimento liderado pelo Brasil, mas faz uma proposta que se
assemelha à que o Mercosul está
apresentando para a Alca (Área
de Livre Comércio das Américas).
O documento europeu, obtido
pela agência France Presse, diz
que a OMC1 trataria dos temas
clássicos do comércio (redução
das tarifas de importação e regras
básicas), ao passo que a OMC2
iria além e incorporaria os chamados novos temas ou "temas de
Cingapura", porque foram introduzidos na agenda global na 1ª
Conferência Ministerial da instituição, que foi realizada exatamente em Cingapura.
Temas de Cingapura
A evidência de que não há campo fértil para a introdução de temas como regras para investimentos ou compras governamentais está dada pelo fato de
que, sete anos depois de Cingapura, a Ministerial de Cancún fracassou justamente pelo absoluto impasse em torno dos "temas de
Cingapura".
Agora, o documento europeu
propõe que quem quiser aceitar
os novos temas entre para a
OMC2, mas adverte: "Se só os países com mais visão de futuro aceitarem, os países não-participantes se beneficiariam da mesma
maneira devido à cláusula de nação mais favorecida".
A cláusula é regra de ouro na
OMC e determina que uma vantagem oferecida a um dos agora
148 países-membros da instituição terá que ser estendida a todos
os demais.
O Mercosul está propondo algo
parecido na Alca. Como disse o
chanceler brasileiro, Celso Amorim, à Folha na semana passada,
"quem quiser adotar regras para
investimentos, por mais abrangentes que sejam, que o faça, mas
quem não quiser deve ter liberdade para não adotá-las".
De certa forma, portanto, a fórmula dos três trilhos sugerida por
Amorim para a Alca tem parentesco com a idéia européia de
OMC1 e 2. Pela proposta dos três
trilhos, as negociações mais suculentas, como tarifas de importação, seriam negociadas no formato 4+1 (Mercosul mais Estados
Unidos), enquanto os temas sensíveis para, entre outros, Brasil e
EUA, seriam jogados na OMC.
Mercosul
Não obstante, o texto europeu
levanta dúvidas sobre a disposição do Mercosul para negociar de
fato a liberalização comercial, seja
no âmbito global, seja no regional. Depois de mencionar as negociações Mercosul/União Européia, o documento pergunta: "Em
vista do fracasso em Cancún, qual
é o real interesse dedicado a estas
negociações pelos países do Mercosul?".
O texto volta a atacar o G20plus,
ao dizer que "a heterogeneidade
dessa coalizão tornou impossível
para ele negociar com outros a
substância de qualquer item".
Em parte, é verdade: o Brasil tinha uma proposta para liberalização agrícola muito ambiciosa,
mas reduziu a sua ambição para
acomodar a posição defensiva da
Índia, co-líder do G20plus.
Mas, em parte, é um exagero: o
documento do G20plus tratava
unicamente de agricultura, o que
significa que todos os demais
itens que constavam da vasta
agenda de Cancún seriam negociados em separado pelos países-membros do novo bloco.
Desistências
A propósito: o grupo já perdeu
dois de seus integrantes na semana passada. A Colômbia saiu, por
pressão dos Estados Unidos, como admitem até empresários colombianos falando ao jornal local
"El Tiempo": "[Robert] Zoellick
[representante comercial dos
EUA] ou [George W.] Bush [presidente dos EUA] nos disseram
que saíssemos do G21, e assim o
fizemos", afirma candidamente
Luis Carlos Villaveces, presidente
de uma associação de produtores
rurais da Colômbia.
Saiu também do grupo o Peru,
alegando que "o grupo acabou
uma vez finalizada a reunião de
Cancún", como diz seu vice-ministro de Comércio Exterior, Alfredo Ferrero.
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