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FRUTICULTURA
Estado produz milhões de machos estéreis a fim de tentar reduzir população de insetos que infestam plantações
Bahia cria mosca para controlar "praga"
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR
As restrições à exportação da
manga produzida na Bahia impostas pelos Estados Unidos e por
alguns países da Comunidade Européia levaram o governo do Estado a apelar para a tecnologia a
fim de combater os "parasitóides"
que infestam os 2.000 hectares de
plantação em Livramento de Nossa Senhora (717 km de Salvador).
Desde a semana passada, as
moscas das espécies Seratitis capitata e Anastrepha, que depositam os parasitas na manga e causam o apodrecimento da fruta ou
a redução de seu tamanho, estão
provando o próprio veneno.
Para tentar impedir o aumento
da "praga", técnicos da Adab
(Agência de Defesa Agropecuária
da Bahia) espalharam em toda a
área plantada 12 milhões de machos estéreis para competir com
os insetos silvestres, que atacam
plantações de frutas e legumes.
"A idéia não é acabar com as
moscas, mas reduzir os insetos",
afirma Cássio Peixoto, 39, diretor
do Departamento de Defesa Sanitária Vegetal, órgão ligado à Secretaria da Agricultura.
De acordo com Peixoto, experiências realizadas na Argentina,
em Portugal e na Guatemala demonstram que o projeto implantado na Bahia tem tudo para dar
certo. "Com certeza, vamos aumentar consideravelmente as
nossas exportações, oferecendo
produtos sem nenhum tipo de
restrição sanitária", afirma.
O processo competitivo com os
insetos silvestres é simples: após a
cópula com os estéreis, as fêmeas
colocam apenas ovos que não foram fecundados, o que reduz as
moscas na geração seguinte.
Os técnicos do governo também
contam com o curto tempo de vida de uma mosca (21 a 30 dias)
para reduzir a proliferação dos insetos que estão dificultando as exportações da manga.
"Com a competição, o processo
será repetido por várias gerações,
mantendo a baixa densidade populacional", diz Cássio Peixoto. O
projeto elaborado pelo governo
baiano prevê a construção de uma
biofábrica em Juazeiro (500 km
de Salvador), com capacidade para produzir 200 milhões de machos estéreis por semana.
Os primeiros dois galpões para
o funcionamento da biofábrica já
foram construídos. "No total, o
projeto vai abranger uma área de
60 mil m2, sendo 5.000 m2 de área
construída", afirma Peixoto.
Luciano Figueiredo, diretor da
Adab, diz que a técnica de acasalamento de fêmeas nativas com machos estéreis é ambientalmente
segura e permite a associação
com outras formas de controle
biológico. "Além dos insetos estéreis, a biofábrica também vai produzir vespas que atacam as larvas
das moscas."
Cássio Peixoto aponta outras
vantagens na técnica utilizada para combater a proliferação dos insetos nas plantações frutíferas.
"Vamos reduzir os tratamentos
com inseticidas e melhorar a qualidade final do produto, oferecendo uma maior segurança alimentar à população."
Além das duas espécies que atacam as lavouras na cidade, a biofábrica também vai produzir a
Cydia pomonella, popularmente
conhecida como lagarta da macieira, praga que ataca as plantações de maçã, pêra e ameixa.
Peixoto afirma que as vendas
para o exterior de machos estéreis
deverão representar uma importante fonte de recursos para o governo estadual. "Países como Espanha, Israel, Portugal e África do
Sul necessitam de 350 milhões de
machos por semana."
Segundo maior produtor de
manga do Brasil, o município de
Livramento de Nossa Senhora deve fechar o ano com 500 mil toneladas do produto. O cultivo da
fruta na região gera cerca de 8.000
empregos diretos.
"Com a tecnologia empregada
na Bahia, outros Estados também
serão beneficiados. Já recebemos
sondagem de produtores de uva
da região Sul, que também querem se livrar das moscas que atacam as plantações", diz Peixoto.
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