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São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2003

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FRUTICULTURA

Estado produz milhões de machos estéreis a fim de tentar reduzir população de insetos que infestam plantações

Bahia cria mosca para controlar "praga"

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

As restrições à exportação da manga produzida na Bahia impostas pelos Estados Unidos e por alguns países da Comunidade Européia levaram o governo do Estado a apelar para a tecnologia a fim de combater os "parasitóides" que infestam os 2.000 hectares de plantação em Livramento de Nossa Senhora (717 km de Salvador).
Desde a semana passada, as moscas das espécies Seratitis capitata e Anastrepha, que depositam os parasitas na manga e causam o apodrecimento da fruta ou a redução de seu tamanho, estão provando o próprio veneno.
Para tentar impedir o aumento da "praga", técnicos da Adab (Agência de Defesa Agropecuária da Bahia) espalharam em toda a área plantada 12 milhões de machos estéreis para competir com os insetos silvestres, que atacam plantações de frutas e legumes.
"A idéia não é acabar com as moscas, mas reduzir os insetos", afirma Cássio Peixoto, 39, diretor do Departamento de Defesa Sanitária Vegetal, órgão ligado à Secretaria da Agricultura.
De acordo com Peixoto, experiências realizadas na Argentina, em Portugal e na Guatemala demonstram que o projeto implantado na Bahia tem tudo para dar certo. "Com certeza, vamos aumentar consideravelmente as nossas exportações, oferecendo produtos sem nenhum tipo de restrição sanitária", afirma.
O processo competitivo com os insetos silvestres é simples: após a cópula com os estéreis, as fêmeas colocam apenas ovos que não foram fecundados, o que reduz as moscas na geração seguinte.
Os técnicos do governo também contam com o curto tempo de vida de uma mosca (21 a 30 dias) para reduzir a proliferação dos insetos que estão dificultando as exportações da manga.
"Com a competição, o processo será repetido por várias gerações, mantendo a baixa densidade populacional", diz Cássio Peixoto. O projeto elaborado pelo governo baiano prevê a construção de uma biofábrica em Juazeiro (500 km de Salvador), com capacidade para produzir 200 milhões de machos estéreis por semana.
Os primeiros dois galpões para o funcionamento da biofábrica já foram construídos. "No total, o projeto vai abranger uma área de 60 mil m2, sendo 5.000 m2 de área construída", afirma Peixoto.
Luciano Figueiredo, diretor da Adab, diz que a técnica de acasalamento de fêmeas nativas com machos estéreis é ambientalmente segura e permite a associação com outras formas de controle biológico. "Além dos insetos estéreis, a biofábrica também vai produzir vespas que atacam as larvas das moscas."
Cássio Peixoto aponta outras vantagens na técnica utilizada para combater a proliferação dos insetos nas plantações frutíferas.
"Vamos reduzir os tratamentos com inseticidas e melhorar a qualidade final do produto, oferecendo uma maior segurança alimentar à população."
Além das duas espécies que atacam as lavouras na cidade, a biofábrica também vai produzir a Cydia pomonella, popularmente conhecida como lagarta da macieira, praga que ataca as plantações de maçã, pêra e ameixa.
Peixoto afirma que as vendas para o exterior de machos estéreis deverão representar uma importante fonte de recursos para o governo estadual. "Países como Espanha, Israel, Portugal e África do Sul necessitam de 350 milhões de machos por semana."
Segundo maior produtor de manga do Brasil, o município de Livramento de Nossa Senhora deve fechar o ano com 500 mil toneladas do produto. O cultivo da fruta na região gera cerca de 8.000 empregos diretos.
"Com a tecnologia empregada na Bahia, outros Estados também serão beneficiados. Já recebemos sondagem de produtores de uva da região Sul, que também querem se livrar das moscas que atacam as plantações", diz Peixoto.


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