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COMÉRCIO GLOBAL
Após pressão de empresários e sem acordo com Pequim, país inicia processo para limitar entrada de produtos chineses
Lula regulamenta salvaguardas contra China
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de quatro meses de espera e muita pressão dos empresários, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva assinou ontem dois
decretos que regulamentam a
adoção de restrições às importações da China. Na prática, abriu
caminho para diminuir a participação dos produtos chineses na
economia brasileira, com a fixação de cotas ou sobretaxas para as
compras daquele país (salvaguardas), se for comprovado que elas
ameaçam as indústrias locais.
No entanto, segundo previsões
do ministro do Desenvolvimento,
Luiz Fernando Furlan, nenhuma
barreira aos bens chineses deve
ser imposta neste ano. "Nada vai
acontecer antes de 60 dias. Tudo
vai depender da agilidade dos setores e da qualidade das informações nos processos de verificação
de danos à indústria nacional."
Antes de o governo decidir pela
restrição às importações chinesas,
há um longo caminho a percorrer. O próximo passo será a apresentação formal de pedidos de
salvaguardas pelos produtores
brasileiros ao Decom (Departamento de Comércio Exterior do
Ministério do Desenvolvimento).
Nos cálculos do presidente da
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo), Paulo
Skaf, ao menos dez pedidos poderão ser registrados nos próximos
dias, já que alguns setores vinham
trabalhando havia meses na elaboração de documentos sobre os
efeitos nocivos das importações
da China. Entre os setores afetados, estão o de eletroeletrônicos,
produtos óticos, pneus, têxteis,
brinquedos, cerâmicas e calçados.
Esses pedidos, segundo Furlan,
serão avaliados "levando em conta a participação do produtos chineses na economia brasileira e
também a velocidade de crescimento dessa participação". Antes
de abrir um processo de investigação, porém, o Brasil tentará
uma negociação com Pequim, o
que pode acelerar o trâmite burocrático das discussões.
Pelas regras fixadas, o Decom
terá até quatro meses para analisar os processos referentes ao setor têxtil, que tem uma regulamentação específica, e até oito
meses para os demais setores.
No caso específico dos têxteis,
as conversas bilaterais entre os
governos só ocorrerão se a China
limitar, imediatamente após ser
comunicada do processo, as exportações ao Brasil. A idéia é não
permitir que o crescimento das
importações chinesas ultrapasse
7,5% do total importado nos 12
meses anteriores. Para os produtos de lã, esse percentual é de 6%.
A adoção de restrições aos produtos chineses está prevista no
protocolo de adesão da China à
OMC (Organização Mundial do
Comércio), de 2001. Esse instrumento de defesa comercial poderá ser utilizado até 2013. Para o setor têxtil, o prazo é só até 2008.
Normalmente, pelas regras da
OMC, essas medidas de salvaguardas são estabelecidas para todos os parceiros comerciais. No
entanto, durante as negociações
para a China ingressar na organização, Pequim aceitou a aplicação
de salvaguardas só para seus produtos como forma de pedágio.
Alguns países, como os EUA e
membros da União Européia, regulamentaram as restrições rapidamente. O Brasil demorou para
tratar do assunto. Somente em junho deste ano, a Camex (Câmara
de Comércio Exterior) definiu
que seria publicado um decreto
regulamentando as restrições.
Por questões políticas, o governo brasileiro vinha adiando a publicação dos decretos. Furlan, que
foi à China na semana passada
tentar um acordo, enfrentou resistências dentro do governo para
a edição dos decretos antes da viagem para pressionar Pequim.
Entre janeiro e agosto, as importações da China somaram
US$ 3,308 bilhões -alta de 47,4%
ante igual período de 2004, quando ficaram em US$ 2,245 bilhões.
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