São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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SINAIS MISTOS

Produção subiu 1,1% no mês, mas IBGE vê desaceleração no trimestre

Indústria reage em agosto, mas 3º trimestre será pior

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de reagir em agosto, a indústria perdeu fôlego no terceiro trimestre deste ano, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Depois de cair 1,9% em julho, a produção do setor subiu 1,1% em agosto, na comparação com o mês anterior.
De julho a setembro, porém, o setor sofreu desaceleração, e o IBGE estima que o crescimento será menor do que no segundo trimestre. Na média de julho e agosto, houve alta de só 0,3% na produção industrial. No segundo trimestre, a expansão havia sido de 2%. Em relação a agosto de 2004, a indústria cresceu 3,8%.
"O terceiro trimestre vai ter um incremento menor. Há uma desaceleração em curso", afirmou o chefe da Coordenação de Indústria do IBGE, Sílvio Sales.
Especialistas já prevêem que tal movimento terá impacto no PIB. Sob influência de um crescimento mais baixo da indústria, a Tendências Consultoria prevê que o PIB tenha subido 0,5% no terceiro trimestre -menos do que os 2,4% do segundo trimestre.
"O resultado de agosto ficou acima das expectativas, mas o dado do terceiro trimestre deve vir fraco. Só esperamos uma reação mais forte nos três últimos meses do ano", disse Guilherme Maia, economista da Tendências. A indústria, prevê, deve fechar o trimestre com taxa estável. A menor confiança do consumidor e o aumento da inadimplência -que afetam as vendas de bens duráveis (móveis, eletrodomésticos e veículos)- são algumas das causas da desaceleração, acredita Maia.
Para o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a perda de ritmo do setor está ligada à política de juros altos: "A instabilidade [do crescimento da produção] decorre do fato de que a indústria ainda não reencontrou uma trajetória regular de expansão após a estagnação que a política monetária restritiva determinou para o setor entre setembro de 2004 e fevereiro de 2005", diz o instituto em relatório.
Em suas vendas, a indústria já sente mais o desaquecimento. Anteontem, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgou recuo de 1,08% nas vendas.
Tal indicador aparentemente contradiz os dados de produção, que apresentaram expansão em agosto. Para especialistas, há um movimento de formação de estoques para vendas de fim de ano.
Sob impacto do aumento da renda e da queda da inflação, os bens não-duráveis lideraram o crescimento da indústria em agosto, com alta de 1,6% ante julho, a maior variação do desde janeiro. O desempenho da categoria foi impulsionado por farmacêuticos, bebidas e combustíveis. "Esse resultado aponta novo padrão de crescimento, antes baseado em crédito e exportação. Agora, há indicadores de melhora da massa de salários, expansão da renda e preços em queda, especialmente alimentos", diz Sales.
Já a produção de bens duráveis teve queda de 1,7%. Sales e Maia não crêem que essa seja uma tendência nem que o crédito, propulsor desse setor, esteja se esgotando. Vêem um refluxo após meses de forte alta: 13% no ano. Em agosto, o destaque negativo foi o setor de material eletrônico e equipamentos de comunicação.
Já a produção de bens de capital subiu 3,1% em agosto, sinal de recuperação na produção de máquinas e equipamentos, que havia recuado em julho.


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