São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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CAPITALISMO VERMELHO

Plano qüinqüenal de 2006 a 2011 reduz ênfase no crescimento e defende redução das disparidades

China quer menos expansão e mais igualdade

28.set.2005/Reuters
Criança que deixou escola faz acrobacia por dinheiro em Zhejiang


CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O plano que orientará o desenvolvimento chinês pelos próximos cinco anos deverá reduzir a ênfase no crescimento econômico e investir na redução das disparidades sociais, em um momento em que aumentam os protestos contra o governo e o risco de instabilidade política.
Entre sábado e terça-feira, a cúpula do Partido Comunista da China se reunirá para aprovar o 11º Plano Qüinqüenal do país, que traçará as linhas gerais que irão orientar o desenvolvimento entre 2006 e 2011.
"O objetivo do Partido é redirecionar as políticas públicas do crescimento pelo crescimento para um modelo mais sustentável, que ataque a injustiça refletida na crescente desigualdade entre ricos e pobres, que ameaça a estabilidade social", publicou ontem o jornal oficial "China Daily".
Desde o início das reformas econômicas, em dezembro de 1978, a China manteve uma média de crescimento anual de 9,4%. Ao mesmo tempo, registrou um dos mais rápidos aumentos de desigualdade do mundo.
A expansão econômica beneficiou principalmente os moradores da cidade. A maioria da população, que vive no campo, ficou virtualmente excluída desse processo. Esse universo reúne quase 800 milhões de pessoas, o equivalente a 60% dos chineses.
O governo considera alarmante o crescimento no número de manifestações em todo o país, muitas das quais terminam em confronto com a polícia. Dados do Ministério da Segurança mostram que houve 74 mil protestos violentos em 2004, comparados a 10 mil registrados dez anos antes.
O 11º Plano Qüinqüenal também terá como meta deter a degradação ambiental provocada pelo rápido ritmo de crescimento. A poluição é um dos mais graves problemas da China: já provoca chuva ácida em 30% do território e contamina em diferentes graus quase todos os rios do país.
A intenção manifesta da cúpula do PC é criar o "PIB Verde", pelo qual governantes locais passarão a ser avaliados pelas ações de proteção e conservação ambiental.
O novo plano qüinqüenal representa uma mudança na orientação do partido dos últimos 26 anos, extremamente focada no crescimento econômico. Reflete também preocupações do presidente, Hu Jintao, e do premiê, Wen Jiabao, que defendem a construção de uma "sociedade harmoniosa" e repetem gestos vistos por analistas como populistas. Wen é constantemente mostrado nos jornais e TVs em reuniões com cidadãos comuns.
No início do ano, ele desceu a uma mina de carvão e almoçou com os trabalhadores, depois de acidente que matou dezenas de mineiros. Também foi a primeira autoridade da China a ser fotografada dando a mão a um doente de Aids, durante visita a um hospital.
A preocupação com a "sociedade harmoniosa" foi objeto de análise publicada ontem no "Diário do Povo", o jornal oficial do Partido Comunista. "A China é confrontada com potencial de instabilidade social crescente e agudo, causado por disparidades no desenvolvimento e distribuição, desigualdade, injustiça e corrupção, a despeito do rápido progresso econômico", dizia o texto.
A mudança de prioridade, porém, não deve significar uma redução significativa do ritmo de crescimento da economia, até porque ele é essencial para a redução dos problemas sociais. O que o governo procura é uma expansão sustentada do PIB e aumento de gastos em áreas sociais.
O problema é que as últimas tentativas de segurar a economia não foram bem-sucedidas e todas as metas oficiais de expansão foram superadas na prática.


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