São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005

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COMÉRCIO MUNDIAL

Subsecretário afirma que retaliação pode gerar "agravantes" e é ferramenta que deve ser "usada com cuidado"

EUA criticam ação brasileira contra algodão

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Robert Zoellick, subsecretário de Estado dos EUA, disse ontem que a decisão do governo brasileiro de aplicar retaliações comerciais a seu país por conta dos subsídios agrícolas concedidos aos produtores de algodão é "contraproducente". Em visita a Brasília, o ex-representante de Comércio norte-americano declarou que a adoção de tais medidas pode agravar a situação.
O Brasil pediu ontem autorização à OMC (Organização Mundial do Comércio) para retaliar o parceiro comercial em mais US$ 1 bilhão por ano, suspendendo patentes e serviços do país. O Brasil já tem autorização do órgão para impor sanções no valor de US$ 3 bilhões a produtos americanos.
"Francamente, retaliação poderia ser contraproducente. Da minha experiência, posso dizer que esse tipo de ação faz com que outras coisas aconteçam, gerando agravantes. Retaliação é uma ferramenta, mas deve ser usada com cuidado", afirmou Zoellick.
O Itamaraty não comentou a declaração, mas divulgou nota na qual diz que o "Brasil lamenta essa situação". A nota diz que a implementação das recomendações feitas pela OMC "é fundamental para a credibilidade do sistema multilateral de comércio".
Zoellick lembrou que o governo americano já enviou ao Congresso proposta de alterações na legislação para resolver o problema dos subsídios ao algodão. Na avaliação do subsecretário, o mecanismo de retaliação deve ser aplicado só quando o país acusado não busca resolver o problema.
Ele acrescentou que as discussões no âmbito da Rodada Doha tratam de forma mais ampla da questão dos subsídios agrícolas.
Zoellick aproveitou para criticar o nível de abertura do Brasil.
"O Brasil é muito agressivo quando se trata da venda de produtos agrícolas, mas não quando é para abrir mercado de bens manufaturados e serviços."
Já o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, criticou ontem o comportamento dos EUA no caso, dizendo que o país era "parte do problema" ao não cumprir a decisão da OMC. Lamy disse ainda que o algodão era "de especial importância" para países em desenvolvimento.


Colaborou Ana Flor, da Sucursal de Brasília

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