|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FOLHAINVEST
CÂMBIO
Dólar atinge o menor valor desde maio de 2001, e cotação estaria mais baixa ainda não fossem as compras do Banco Central
Real lidera apreciação de moedas da região
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o Banco Central tinha a intenção de deter a apreciação do
real quando decidiu voltar a intervir no mercado, por meio de leilões de compra de dólares, falhou.
O dólar atingiu seu mais baixo valor diante do real em 2005 na última sexta-feira, quando encerrou
as operações vendido a R$ 2,212.
Mas o real não está sozinho nesse processo: outras moedas latino-americanas também têm subido em relação ao dólar neste
ano. Diante do peso uruguaio, a
moeda dos EUA registra baixa de
11,25% em 2005. Em relação à
moeda mexicana, o dólar perdeu
3,76% de seu valor neste ano.
Porém, o real lidera esse movimento. O dólar tem desvalorização de 16,65% diante do real em
2005, estando em seu menor patamar desde maio de 2001. Se for levada em consideração a taxa real
de câmbio -ou seja, descontando-se a variação da inflação no
período-, o dólar tem seu menor
valor diante do real desde o fim de
1998.
Economistas e analistas financeiros apontam diferentes fatores
para explicar essa tendência: há
forte liquidez de recursos no mercado internacional, a balança comercial brasileira não pára de bater recordes de superávit e as taxas de juros praticadas por aqui
são as maiores do mundo. Assim,
mesmo com o BC já tendo comprado cerca de US$ 3,5 bilhões
desde que começou o atual ciclo
de leilões para adquirir moeda estrangeira, no começo de outubro,
o real não deixa de se apreciar.
"O BC até tem capacidade de reverter a tendência [de apreciação
do real]. Mas teria de ser mais
agressivo, retomando também a
recompra da dívida cambial",
avalia Darwin Dib, economista
sênior do Unibanco.
Especulação
Há também o fator especulativo
que ajuda a explicar o porquê de
as atuações da autoridade monetária não terem feito com que
houvesse uma mudança de tendência no mercado de câmbio.
No exterior, um contrato chamado de NDF (Non Deliverable
Forward, um tipo de mercado futuro internacional) tem sido muito utilizado pelos grandes investidores para apostar na valorização
do real.
Dessa forma, há muita gente interessada em manter o real em níveis baixos, como forma de garantir lucros.
No mercado doméstico, a posição dos grandes bancos também é
majoritariamente de "vendida"
em dólar, o que significa que
apostam na alta do real.
Alexandre Lintz, estrategista-chefe no Brasil do banco francês
BNP Paribas, diz que "o exportador que estava esperando um preço melhor tem vendido mais
moeda, achando que talvez [esse
preço] nunca chegue".
O quê os analistas dizem é que
se o BC não tivesse decidido voltar
a operar no mercado, o real estaria com certeza em níveis muitos
mais baixos que o atual.
A autoridade monetária comprou dólares das instituições financeiras entre o fim de 2004 e
março deste ano. E só retomou esse tipo de operação em outubro
último.
Para o governo, o dólar em níveis baixos tem um lado bom, que
é o de menor pressão inflacionária. Com o dólar em baixa, diminuem as possibilidades de repasse
de custos -especialmente de insumos importados- para os preços finais. E inflação em baixa
abre espaço para a queda dos juros, medida sempre popular.
Quem mais reclama da queda
no valor da moeda estrangeira são
os exportadores, que tendem a
perder receita com esse cenário.
Isso acontece porquê quando os
dólares recebidos com as vendas
ao exterior são convertidos em
reais acabam dando um montante menor que o de tempos de dólar em alta.
"Acredito que a tendência de
apreciação do real permaneça por
algum tempo", diz Newton Rosa,
economista-chefe da Sul América
Investimentos.
A volta dos leilões de "swap
cambial reverso", que não acontecem desde março, poderiam ajudar a depreciar o real, avaliam
analistas. Esses contratos tendem
a pressionar um pouco o dólar,
pois tem efeito técnico similar à
compra de moeda no mercado futuro. Mas o BC não deu até agora
sinais de que irá retomar esse tipo
de operação.
Texto Anterior: Opinião econômica - Luiz Carlos Bresser-Pereira: A competência da Argentina Próximo Texto: Dicas: Corretoras modificam carteiras e recomendam papéis da Telemar Índice
|