São Paulo, segunda-feira, 07 de novembro de 2005

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FOLHAINVEST

CÂMBIO

Dólar atinge o menor valor desde maio de 2001, e cotação estaria mais baixa ainda não fossem as compras do Banco Central

Real lidera apreciação de moedas da região

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se o Banco Central tinha a intenção de deter a apreciação do real quando decidiu voltar a intervir no mercado, por meio de leilões de compra de dólares, falhou. O dólar atingiu seu mais baixo valor diante do real em 2005 na última sexta-feira, quando encerrou as operações vendido a R$ 2,212.
Mas o real não está sozinho nesse processo: outras moedas latino-americanas também têm subido em relação ao dólar neste ano. Diante do peso uruguaio, a moeda dos EUA registra baixa de 11,25% em 2005. Em relação à moeda mexicana, o dólar perdeu 3,76% de seu valor neste ano.
Porém, o real lidera esse movimento. O dólar tem desvalorização de 16,65% diante do real em 2005, estando em seu menor patamar desde maio de 2001. Se for levada em consideração a taxa real de câmbio -ou seja, descontando-se a variação da inflação no período-, o dólar tem seu menor valor diante do real desde o fim de 1998.
Economistas e analistas financeiros apontam diferentes fatores para explicar essa tendência: há forte liquidez de recursos no mercado internacional, a balança comercial brasileira não pára de bater recordes de superávit e as taxas de juros praticadas por aqui são as maiores do mundo. Assim, mesmo com o BC já tendo comprado cerca de US$ 3,5 bilhões desde que começou o atual ciclo de leilões para adquirir moeda estrangeira, no começo de outubro, o real não deixa de se apreciar.
"O BC até tem capacidade de reverter a tendência [de apreciação do real]. Mas teria de ser mais agressivo, retomando também a recompra da dívida cambial", avalia Darwin Dib, economista sênior do Unibanco.

Especulação
Há também o fator especulativo que ajuda a explicar o porquê de as atuações da autoridade monetária não terem feito com que houvesse uma mudança de tendência no mercado de câmbio.
No exterior, um contrato chamado de NDF (Non Deliverable Forward, um tipo de mercado futuro internacional) tem sido muito utilizado pelos grandes investidores para apostar na valorização do real.
Dessa forma, há muita gente interessada em manter o real em níveis baixos, como forma de garantir lucros.
No mercado doméstico, a posição dos grandes bancos também é majoritariamente de "vendida" em dólar, o que significa que apostam na alta do real.
Alexandre Lintz, estrategista-chefe no Brasil do banco francês BNP Paribas, diz que "o exportador que estava esperando um preço melhor tem vendido mais moeda, achando que talvez [esse preço] nunca chegue".
O quê os analistas dizem é que se o BC não tivesse decidido voltar a operar no mercado, o real estaria com certeza em níveis muitos mais baixos que o atual.
A autoridade monetária comprou dólares das instituições financeiras entre o fim de 2004 e março deste ano. E só retomou esse tipo de operação em outubro último.
Para o governo, o dólar em níveis baixos tem um lado bom, que é o de menor pressão inflacionária. Com o dólar em baixa, diminuem as possibilidades de repasse de custos -especialmente de insumos importados- para os preços finais. E inflação em baixa abre espaço para a queda dos juros, medida sempre popular.
Quem mais reclama da queda no valor da moeda estrangeira são os exportadores, que tendem a perder receita com esse cenário. Isso acontece porquê quando os dólares recebidos com as vendas ao exterior são convertidos em reais acabam dando um montante menor que o de tempos de dólar em alta.
"Acredito que a tendência de apreciação do real permaneça por algum tempo", diz Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
A volta dos leilões de "swap cambial reverso", que não acontecem desde março, poderiam ajudar a depreciar o real, avaliam analistas. Esses contratos tendem a pressionar um pouco o dólar, pois tem efeito técnico similar à compra de moeda no mercado futuro. Mas o BC não deu até agora sinais de que irá retomar esse tipo de operação.

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