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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Palocci exigiu manutenção de preços e garantia de que não haveria demissões para prorrogar redução do IPI

Congelamento e emprego foram condição

JOSÉ ALAN DIAS
CLAUDIA ROLLI
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, condicionou a prorrogação do corte do IPI ao compromisso das montadoras de não reajustar os preços dos carros e manter o nível de emprego.
A exigência foi apresentada na reunião que os representantes do setor tiveram com o ministro na quarta-feira, 26 de novembro, dois dias antes do anúncio da decisão. A Folha apurou que as montadoras resistiam a assumir o compromisso de não reajustar preços sob o argumento de que seus custos aumentaram desde a concessão original do benefício, em agosto. Só com reajustes salariais, houve impacto de 18% na folha de pagamentos -isso representa um aumento de 3% nos custos totais das empresas.
Na quinta, véspera do anúncio, os dirigentes da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e das montadoras se reuniram para discutir a viabilidade do compromisso. No fim da tarde do mesmo dia os negociadores do setor voltaram a Brasília para dar a resposta positiva ao ministro da Fazenda.
Segundo um dos participantes das discussões, em nenhum momento o governo deu sinais de que aceitaria a prorrogação. Na sexta, dia 28, de manhã, o setor chegou a pensar que a possibilidade estava descartada, diante de declarações dadas pelos ministros do Planejamento, Guido Mantega, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.
A confirmação de que o benefício seria prorrogado veio na tarde de sexta-feira, no telefonema de um funcionário do Ministério da Fazenda para o presidente da Anfavea, Ricardo Carvalho.
A Folha apurou que desde a manhã daquele dia sindicalistas da CUT já sabiam da extensão do acordo.
O governo tinha pressa em anunciar a decisão na própria sexta-feira, para não deixar os consumidores desinformados no fim de semana e provocar uma corrida desnecessária a concessionárias.
As montadoras cederam em parte ao pedido do governo. Isso porque os preços serão mantidos somente até o próximo dia 31. Alegaram que, operando no vermelho, não teriam como arcar com o peso do dissídio dos metalúrgicos por um período maior que esse -não por acaso, 30 dias correspondem à média de estoques nos pátios de montadoras e concessionárias.
Paul Fleming, presidente da Volkswagen, argumentara semanas antes do acordo que, além do repasse da alíquota ""cheia" do IPI e do dissídio, precisavam considerar a inflação acumulada desde o último aumento ""geral" do setor, ocorrido em julho. Não fosse o ""auto-congelamento" acertado com o governo, as tabelas de preços teriam um reajuste médio de 9% já neste mês.
""A partir de janeiro, voltaremos a uma situação normal. E os reajustes serão determinados pela concorrência e dentro da estratégia de cada montadora", diz Ricardo Carvalho, da Anfavea.
Com o acordo, os trabalhadores ganham estabilidade no emprego por um prazo de três meses. A contrapartida foi negociada para evitar demissões justamente no setor do qual surgiram vários líderes que estão no governo, entre eles o próprio presidente Lula.

Próximos passos
O governo deve anunciar nas próximas semanas a implementação do Modercarga, programa de financiamento de caminhões para autônomos e pequenos frotistas. A meta é criar 120 mil empregos até 2007, com juros menores e financiamento de até 60 meses.
Esse programa prevê o uso de R$ 2,5 bilhões do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) no financiamento para renovação e aumento da frota de caminhões.
O que emperrava a implementação do programa era o fato de as montadoras recusarem as contrapartidas dos trabalhadores. Os sindicatos dos metalúrgicos pediam redução da jornada para 40 horas semanais nas fábricas que ainda adotam 44 horas (Volks e Agrale) e piso salarial unificado. Pelo acordo feito entre montadoras e trabalhadores, cada sindicato terá liberdade em negociar contrapartidas de forma isolada.



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