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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Cultos exaltam negócios e dão orientação financeira

DA REPORTAGEM LOCAL

Para "acrescentar à fé os princípios da administração moderna", o bispo Robson Rodovalho, fundador da Igreja Sara Nossa Terra, oferece aos fiéis, em cultos semanais, auxílio para gerir novos negócios e orientações sobre questões empresariais e financeiras.
Além disso, a igreja realiza seminários nos quais são ministradas palestras que abordam matérias específicas de administração -desde recursos humanos e empreendedorismo até finanças.
Essas atividades fazem parte da Rede Ministerial de Empresários e Empreendedores, criada há seis para satisfazer o já citado ideal do bispo.
O grupo, que começou, por iniciativa de Rodovalho, com quatro empresários, reúne hoje mais de 800 apenas em Brasília. A crise pela qual o país passa teria contribuído bastante para o crescimento do número de adeptos.
Essa relação de religião e administração pode ser estranha para muitos, mas, para Rodovalho, "a fé está na base de um negócio bem-sucedido". "Os princípios de administração e vitória são os mesmos para qualquer relação."
Os conceitos gerenciais, aliás, estão sempre presentes. No site da igreja, por exemplo, é possível encontrar textos como "11 Passos para o Sucesso", que cita desde métodos de administração de produção como CPM (Método do Caminho Crítico) até a lei de Pareto -do sociólogo italiano Vilfredo Pareto (1848-1923).
Características como liderança e motivação são fundamentais, de acordo com o bispo, para o sucesso profissional e nas demais áreas da vida. Ele próprio é um exemplo do que prega: mais de 11 anos após sua fundação, em fevereiro de 1992, a Sara Nossa Terra possui hoje cerca de 650 templos espalhados pelo país e no exterior, além de ser apontada como a igreja que tem, entre as evangélicas, o maior crescimento proporcional do Brasil.
As idéias de Rodovalho, no entanto, não ficam restritas à sua igreja e à rede. O bispo, que tem formação em física, teologia, filosofia e nutrição, tem expandido seus negócios. Já publicou livros, entre os quais "Construindo Sistemas que Vencem", que trata de empreendedorismo, e deve lançar mais um em março próximo, sobre "formação de líderes para negócios lucrativos".

Psicologia da fé
O discurso da Igreja Renascer em Cristo, que hoje tem 71 templos somente na cidade de São Paulo, afirma o sociólogo Ricardo Mariano, "é mais psicológico, para agradar à classe média".
No ramo dos homens de negócio há mais tempo, a igreja possui uma associação, a Arepe (Associação Renascer de Empresários e Profissionais Evangélicos), que organiza até uma bolsa de negócios entre os cadastrados.
Os cultos, frequentados por empresários e profissionais liberais, acontecem nas noites de segunda-feira, em todos os templos da Renascer. A pregação envolve sempre estímulo ao crescimento profissional e, como a maioria das neopentecostais, a colaboração financeira à igreja.

Cartão de crédito
Da mesma forma, muitas dessas igrejas não têm restrições em entrar em assuntos considerados mundanos por religiões mais conservadoras. Os fiéis da Renascer, da Assembléia de Deus e da Convenção Batista Brasileira têm a opção de utilizar cartões de crédito fidelizados do Bradesco com as logomarcas dessas igrejas.
A anuidade do cartão, segundo o Bradesco, é dividida entre o banco e a instituição religiosa. O banco diz que o dinheiro das igrejas é direcionado para programas sociais mantidos por elas.
A Folha procurou a Renascer, mas a igreja afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não falaria sobre a Arepe.
Há no país outras duas instituições evangélicas de peso para empresários: a Adhonep (Associação dos Homens de Negócios do Evangelho Pleno), que reúne participantes de diferentes igrejas evangélicas, e o CCHN (Comitê Cristão de Homens de Negócios). (MAELI PRADO E BERTA MARCHIORI)


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