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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Ganho relativo pelo nível universitário era de 74% em 1981; duas décadas depois, indicador avançou para 102%

Curso superior vale o dobro do nível médio

DA REPORTAGEM LOCAL

O indicador que mede a parcela de aumento da remuneração de um trabalhador de acordo com seus anos de estudo só tem mostrado avanços para quem tem diploma universitário.
Em 1981, o nível superior garantia a um trabalhador retorno 74% maior em relação a outro que tivesse concluído apenas o ensino médio. Em 2001, essa mesma diferença -chamada "retorno marginal por educação"- havia saltado para 102%.
Para todas as outras faixas de educação pesquisadas pelo professor Jorge Arbache, da Universidade de Brasília, esse retorno relativo vem caindo.
Segundo Arbache, embora ambas tenham aumentado, a procura por brasileiros com mais de 15 anos de estudo cresceu mais do que a demanda por trabalhadores com nível médio completo.

Preferência
Em 1992, de cada cem brasileiros ocupados, cerca de 19 tinham entre um e três anos de estudo, outros 18 haviam estudado 11 anos ou mais. Passados dez anos, o cenário era outro: apenas 13,2% dos que estavam trabalhando pertenciam à primeira faixa educacional e 30,7% faziam parte da segunda.
Essa é outra indicação dos ganhadores e perdedores do processo de abertura econômica do país, segundo analistas.
Casos do que tem se passado dentro das empresas confirmam o aumento da demanda por trabalhadores mais qualificados. Na Volkswagen, por exemplo, 59% dos trabalhadores tinham, no máximo, o ensino fundamental em 1980. Neste ano, esse percentual era de 28%.
Na contramão desse movimento de redução, no mesmo período o percentual de trabalhadores com ensino médio completo saltou de 23% para 39% do total. Já o dos com diploma universitário passou de 18% para 33%.

Mais anos de estudo
Se forem considerados apenas os brasileiros com 11 a 14 anos de estudo, o salto da participação no mercado de trabalho foi de 13,3% do total dos ocupados, em 1992, para 23,3%, em 2002, segundo os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
Já os brasileiros com 15 ou mais anos de estudo representavam só 5,1% do total de trabalhadores ocupados em 1992. Em 2002, esse percentual subiu para 7,4%.
A grande diferença entre as duas faixas educacionais é que, ao contrário do ocorrido com os brasileiros com diploma universitário, aqueles que concluíram o ensino médio não tiveram ganho real de renda no período.
A principal explicação para isso foi o salto no número total de trabalhadores com ensino médio completo. O que, em outras palavras, tem significado oferta maior dessa mão-de-obra no mercado.
Segundo dados do Censo Demográfico, feito pelo IBGE, entre 1991 e 2000 cresceu 37% o total de brasileiros com mais de 25 anos que concluíram o antigo segundo grau. Para aqueles com mais de 15 anos de estudo, também houve crescimento, embora menor, de 17,2%.

Negociações futuras
Tanto esses dados gerais da economia como informações específicos de empresas (como a Volkswagen) levam especialistas a defender a necessidade de maior investimento em educação no país.
"Todo o processo de globalização, de valorização crescente do conhecimento e de abertura comercial levou a uma maior procura por gente especializada, educada. Para o Brasil, isso é uma prova de que o governo precisa, urgentemente, repensar o sistema educacional, investir na melhoria do ensino básico e médio. Criar incentivos para que o brasileiro inicie e termine o curso universitário", diz Ruy Quintans, professor do Ibmec (Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) no Rio.
Segundo especialistas, possíveis novos acordos comerciais, como a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), devem intensificar esses efeitos verificados no mercado de trabalho brasileiro. (EF)


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