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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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Jorge Arbache, da Universidade de Brasília, diz que concorrência externa levou país a qualificar mão-de-obra

Educação é arma para a competição global, diz professor

DA REPORTAGEM LOCAL

Competição com países que têm mão-de-obra abundante e mais barata que a brasileira, como China e Índia, e acesso a novas tecnologias fizeram com que a abertura comercial do Brasil acabasse favorecendo os trabalhadores mais qualificados.
Essa é a opinião do professor e economista Jorge Saba Arbache, da Universidade de Brasília, especialistas no assunto. A seguir, trechos da entrevista. (EF)

 

Folha - Quais são as principais conclusões do seu estudo em relação ao efeito da abertura comercial sobre o mercado de trabalho?
Jorge Arbache -
Acho que o principal efeito da abertura no mercado de trabalho foi uma mudança da estrutura de demanda pelo trabalho das pessoas mais qualificados. Isso aconteceu porque, de um lado, houve queda dos preços de máquinas, equipamentos e tecnologias por conta da remoção das barreiras tarifárias e não-tarifárias, favorecendo a aquisição dessas máquinas pelas empresas brasileiras. De outro lado, houve o aumento da competição no mercado interno e, ao mesmo tempo, da concorrência nos mercados internacionais de bens e serviços, incluindo aí aqueles que o Brasil potencialmente exporta. Ambos os fatores forçaram o Brasil a ter de melhorar a qualidade dos produtos e a reduzir os preços de produção, o que levou o país, uma vez mais, a ter de produzir melhores produtos, com menores custos, o que implica utilizar tecnologias mais avançadas.

Folha - A teoria tradicional de comércio defendia que a demanda por trabalhadores poucos qualificados aumentaria no Brasil depois da abertura comercial...
Arbache -
Na verdade, isso não parece ter acontecido, e acho que há algumas razões para tanto. Uma delas é que o Brasil não é um tradicional país em desenvolvimento. É o que chamamos de "país de renda média", que tem um certo parque industrial, que é relativamente desenvolvido e integrado e exporta mais de 50% na forma de bens manufaturados. De outro lado, houve um processo de abertura simultâneo em vários países em desenvolvimento que são potenciais competidores do Brasil. Alguns deles, notadamente China, Paquistão e Índia -que têm mão-de-obra ainda mais barata do que a brasileira-, entraram de forma bastante forte nos mercados internacionais de bens de baixo valor agregado, expulsando o Brasil de alguns mercados de bens mais básicos. Isso forçou o país a ter de buscar um perfil de produção um passo à frente no que tange a tecnologias.

Folha - A baixa qualidade do ensino básico contribui para isso?
Arbache -
Sim. Essa explosão de demanda por trabalhadores de segundo grau completo para cima pode, em parte, refletir o efeito da baixa escolaridade na capacidade ou na acumulação de conhecimento por parte dos trabalhadores. Se a escola funciona mal, se ela treina ou ensina mal as pessoas, se ela desenvolve mal o conhecimento cognitivo dos trabalhadores, eles vão ter de passar mais anos na escola para atingir um determinado nível de conhecimento e qualificação.



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