São Paulo, sexta-feira, 07 de dezembro de 2007

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Ação nos EUA expõe crise entre brasileiros

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Um processo movido por brasileiros contra corretores e financeiras de imóveis num tribunal da Califórnia expõe um suposto esquema dirigido a imigrantes e mostra que a crise do "subprime" (hipotecas de alto risco) não só atingiu a comunidade que vive nos EUA. Agora há quem esteja lutando para tentar sair da história com o menor prejuízo possível.
A ação está sendo movida por Naira Costa, 27, moradora de South San Francisco, e outros. Do outro lado estão um pastor, uma corretora brasileira e uma americana, num total de quinze acusados. A faxineira evangélica afirma que foi induzida a fazer um financiamento imobiliário que não tinha condições de honrar e sem entender direito o contrato, com a promessa de fazer dinheiro.
Os acusados negam. Resposta de cinco deles adicionada ao processo diz que Naira e outros fraudaram documentos apresentados para os financiamentos e fizeram declarações incorretas ao preencher os formulários. O caso estava na capa do "Wall Street Journal" de ontem.
Segundo Naira, Soário Santos, dublê de pastor da igreja pentecostal Message of Peace International Church e funcionário de uma financeira imobiliária, incentivava seus fiéis a comprar os imóveis que ele e seus colegas financiavam. O pastor teria apresentado Naira e seu marido, o ex-motorista Samir Abdelnur, à corretora brasileira Suzel Serafim.
Essa teria adicionado a mulher à sua conta de cartão de crédito como um modo de aumentar seu histórico de crédito e ajudá-la a qualificar para o financiamento. Faria parte do esquema ainda a americana Gabriela Tigges, ex-sócia do pastor.
"Ela está blefando", disse à Folha Suzel Serafim, em entrevista por telefone. "Eu não forcei ninguém a comprar nada, ela comprou porque quis, assinou toda a papelada sabendo do que estava fazendo, de livre e espontânea vontade." Além disso, afirmou a corretora, "na hora de apresentar as provas no tribunal ela não apareceu. Esse caso vai ser arquivado".
A Folha falou com Adalberto Carvalho, pastor e diretor de comunicação da Message of Peace. "Pessoalmente, eu acho que o Soário cometeu alguns erros, mas para isso existe a corte."
Soário Santos deixou a igreja em South San Francisco e estaria agora cuidando do endereço em San Jose, mais ao sul. Recados deixados nos telefones residenciais, comerciais e celulares dele e de Gabriela Tigges não foram respondidos até a conclusão desta edição.
Uma vez aprovado seu financiamento, Naira e seu marido moraram três semanas na casa nova, na cidade de Hercules, avaliada em US$ 713 mil (cerca de R$ 1,3 milhão). A idéia era aproveitar o boom imobiliário que o país ainda vivia então, em 2005, e tentar vender o imóvel depois, com lucro.
O casal abandonou a casa depois de receber a primeira parcela do financiamento, de US$ 5 mil, ou US$ 1 mil a menos do que os dois ganhavam juntos por mês.
O caso não é único. Além de Naira Costa e dos co-autores da ação, brasileiros estariam procurando recuperar prejuízos que tiveram ao ser influenciados por outras pessoas a entrar no mercado.


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