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Ação nos EUA expõe crise entre brasileiros
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Um processo movido por
brasileiros contra corretores
e financeiras de imóveis num
tribunal da Califórnia expõe
um suposto esquema dirigido a imigrantes e mostra que
a crise do "subprime" (hipotecas de alto risco) não só
atingiu a comunidade que vive nos EUA. Agora há quem
esteja lutando para tentar
sair da história com o menor
prejuízo possível.
A ação está sendo movida
por Naira Costa, 27, moradora de South San Francisco, e
outros. Do outro lado estão
um pastor, uma corretora
brasileira e uma americana,
num total de quinze acusados. A faxineira evangélica
afirma que foi induzida a fazer um financiamento imobiliário que não tinha condições de honrar e sem entender direito o contrato, com a
promessa de fazer dinheiro.
Os acusados negam. Resposta de cinco deles adicionada ao processo diz que
Naira e outros fraudaram documentos apresentados para
os financiamentos e fizeram
declarações incorretas ao
preencher os formulários. O
caso estava na capa do "Wall
Street Journal" de ontem.
Segundo Naira, Soário
Santos, dublê de pastor da
igreja pentecostal Message
of Peace International
Church e funcionário de uma
financeira imobiliária, incentivava seus fiéis a comprar os imóveis que ele e seus
colegas financiavam. O pastor teria apresentado Naira e
seu marido, o ex-motorista
Samir Abdelnur, à corretora
brasileira Suzel Serafim.
Essa teria adicionado a
mulher à sua conta de cartão
de crédito como um modo de
aumentar seu histórico de
crédito e ajudá-la a qualificar
para o financiamento. Faria
parte do esquema ainda a
americana Gabriela Tigges,
ex-sócia do pastor.
"Ela está blefando", disse à
Folha Suzel Serafim, em entrevista por telefone. "Eu
não forcei ninguém a comprar nada, ela comprou porque quis, assinou toda a papelada sabendo do que estava fazendo, de livre e espontânea vontade." Além disso,
afirmou a corretora, "na hora
de apresentar as provas no
tribunal ela não apareceu.
Esse caso vai ser arquivado".
A Folha falou com Adalberto Carvalho, pastor e diretor de comunicação da
Message of Peace. "Pessoalmente, eu acho que o Soário
cometeu alguns erros, mas
para isso existe a corte."
Soário Santos deixou a
igreja em South San Francisco e estaria agora cuidando
do endereço em San Jose,
mais ao sul. Recados deixados nos telefones residenciais, comerciais e celulares
dele e de Gabriela Tigges não
foram respondidos até a
conclusão desta edição.
Uma vez aprovado seu financiamento, Naira e seu
marido moraram três semanas na casa nova, na cidade
de Hercules, avaliada em
US$ 713 mil (cerca de R$ 1,3
milhão). A idéia era aproveitar o boom imobiliário que o
país ainda vivia então, em
2005, e tentar vender o imóvel depois, com lucro.
O casal abandonou a casa
depois de receber a primeira
parcela do financiamento, de
US$ 5 mil, ou US$ 1 mil a menos do que os dois ganhavam
juntos por mês.
O caso não é único. Além
de Naira Costa e dos co-autores da ação, brasileiros estariam procurando recuperar prejuízos que tiveram ao
ser influenciados por outras
pessoas a entrar no mercado.
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