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SAIBA MAIS
Déficits gêmeos são ameaça à economia global
DA REPORTAGEM LOCAL
A iniciativa do governo dos
EUA de reduzir seus gastos é
uma resposta a críticos -no
país e em todo o mundo-, que
constantemente têm alertado
para os riscos que o déficit fiscal do país representam para a
economia mundial, emergentes e Brasil inclusos.
Na verdade, são dois os déficits que preocupam: o fiscal e o
comercial. Para a maioria dos
analistas, não se resolve um
sem atacar o outro.
A lógica: os gastos do governo sustentam um nível de consumo exagerado, que acaba
elevando as importações e o
buraco nas contas externas.
Cortando os gastos públicos,
elimina-se, portanto, parte do
incentivo a importar.
Sem ação do governo, o mercado acabaria fazendo o ajuste.
Que seria mais penoso, para os
EUA e para o mundo, pois viriam com elevação de juros. O
motivo: cedo ou tarde a percepção dos investidores sobre a
solidez dos fundamentos da
economia americana mudaria
e, para comprar títulos do governo, eles passariam a exigir
taxa de juros mais altas.
Juros mais altos reduziriam a
atividade econômica e a arrecadação do governo. Menos atividade interna ajuda a reduzir
importações e a aumentar exportações, o caminho para o
ajuste externo. Menos arrecadação obriga o governo a se
ajustar, na direção de mais
ajuste fiscal. Um mecanismo
perfeito na teoria, mas que só
funciona à custa de recessão.
Para o Brasil, claro, o melhor
cenário seria aquele em que o
ajuste anunciado ontem fosse
para valer. Cenário no qual os
analistas e investidores passem
a realmente acreditar que o governo Bush começará a gastar
menos e a reduzir seu déficit.
O outro cenário inclui alta generalizada dos juros no mercado internacional -a taxa de
juros do mercado americano é
a base que define a quanto se
empresta para os demais países, principalmente os emergentes como o Brasil.
Além de aumento do custo
de financiamento para empresas e governo brasileiros, juros
mais altos reduzirão a atividade econômica mundial, má notícia para países que, como o
Brasil, continuam se esforçando para exportar cada vez mais.
O ajuste recessivo nos EUA
criaria outro problema. Uma
vez reduzido o déficit comercial, que economia se tornaria a
locomotiva mundial? Quem
cresceria e gastaria o suficiente
para compensar no plano
mundial a retração de gastos e
importações dos EUA?
As economias européia e japonesa continuam vacilando
entre pequenas recuperações e
a estagnação. Os chineses, com
o câmbio desvalorizado, não
parecem dispostos, ao menos
por enquanto, a se tornarem
importadores como os EUA.
Para a economia brasileira, o
ideal seria que a intenção de
ajuste fiscal sinalizada ontem
pelo Orçamento federal se torne o primeiro passo para a eliminação, ou redução, dos desequilíbrios da maior economia
do planeta.
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