São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAIBA MAIS

Déficits gêmeos são ameaça à economia global

DA REPORTAGEM LOCAL

A iniciativa do governo dos EUA de reduzir seus gastos é uma resposta a críticos -no país e em todo o mundo-, que constantemente têm alertado para os riscos que o déficit fiscal do país representam para a economia mundial, emergentes e Brasil inclusos.
Na verdade, são dois os déficits que preocupam: o fiscal e o comercial. Para a maioria dos analistas, não se resolve um sem atacar o outro.
A lógica: os gastos do governo sustentam um nível de consumo exagerado, que acaba elevando as importações e o buraco nas contas externas. Cortando os gastos públicos, elimina-se, portanto, parte do incentivo a importar.
Sem ação do governo, o mercado acabaria fazendo o ajuste. Que seria mais penoso, para os EUA e para o mundo, pois viriam com elevação de juros. O motivo: cedo ou tarde a percepção dos investidores sobre a solidez dos fundamentos da economia americana mudaria e, para comprar títulos do governo, eles passariam a exigir taxa de juros mais altas.
Juros mais altos reduziriam a atividade econômica e a arrecadação do governo. Menos atividade interna ajuda a reduzir importações e a aumentar exportações, o caminho para o ajuste externo. Menos arrecadação obriga o governo a se ajustar, na direção de mais ajuste fiscal. Um mecanismo perfeito na teoria, mas que só funciona à custa de recessão.
Para o Brasil, claro, o melhor cenário seria aquele em que o ajuste anunciado ontem fosse para valer. Cenário no qual os analistas e investidores passem a realmente acreditar que o governo Bush começará a gastar menos e a reduzir seu déficit.
O outro cenário inclui alta generalizada dos juros no mercado internacional -a taxa de juros do mercado americano é a base que define a quanto se empresta para os demais países, principalmente os emergentes como o Brasil.
Além de aumento do custo de financiamento para empresas e governo brasileiros, juros mais altos reduzirão a atividade econômica mundial, má notícia para países que, como o Brasil, continuam se esforçando para exportar cada vez mais.
O ajuste recessivo nos EUA criaria outro problema. Uma vez reduzido o déficit comercial, que economia se tornaria a locomotiva mundial? Quem cresceria e gastaria o suficiente para compensar no plano mundial a retração de gastos e importações dos EUA?
As economias européia e japonesa continuam vacilando entre pequenas recuperações e a estagnação. Os chineses, com o câmbio desvalorizado, não parecem dispostos, ao menos por enquanto, a se tornarem importadores como os EUA.
Para a economia brasileira, o ideal seria que a intenção de ajuste fiscal sinalizada ontem pelo Orçamento federal se torne o primeiro passo para a eliminação, ou redução, dos desequilíbrios da maior economia do planeta.


Texto Anterior: Governo propõe cortar subsídios agrícolas, o que favorece o Brasil
Próximo Texto: Proposta de Orçamento dá fôlego à alta do dólar
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.