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OPINIÃO ECONÔMICA
Espirito nacional
BENJAMIN STEINBRUCH
Fizeram piadinhas na semana passada quando o presidente Lula disse que "nós poderemos fazer do século 21 o século do
Brasil". Não achei graça nenhuma, porque endosso totalmente
as palavras do presidente.
Suponho que, em pleno feriadão, no meio da folia ou na praia,
o brasileiro não esteja lá muito
interessado em perorações de política econômica, sobre juros,
câmbio e assemelhados. Mas o
Carnaval, a mais importante manifestação da cultura popular
brasileira, é sempre uma oportunidade para reflexões sobre coisas
nossas, que precisam ser incentivadas.
Carnaval não é invenção brasileira, mas virou coisa nossa, que
sabemos fazer com competência e
da qual podemos nos orgulhar.
Assim como são coisas nossas futebol, álcool, soja, café, frango,
carne, Petrobras, ferro, aço, sol,
praia e até avião.
Piadinhas sobre as fraquezas do
país confirmam o espírito jocoso e
autocrítico do brasileiro. Mas elas
contribuem para cultivar um
complexo de inferioridade que
nos persegue há décadas, forte o
suficiente para impedir o desenvolvimento de um nacionalismo
sadio e indispensável para o
avanço do país.
O século 21 não será o século do
Brasil sem esse espírito nacional e
sem a defesa determinada dos interesses do país.
Nacionalismo é proteger do assédio estrangeiro aqueles setores
empresariais que julgamos importantes e nos quais somos competitivos, como agronegócios, papel e celulose, mineração, siderurgia, têxteis e calçados, entre outros. Nessas áreas, não podemos
aceitar mais desnacionalizações,
como houve no passado recente,
nem deixar corporações desamparadas por falta de crédito e capital. Ao contrário, temos de estimulá-las a inverter o processo e
passar a comprar empresas no exterior. Também é indispensável
incentivar setores de ponta, como
biotecnologia, nanotecnologia
etc.
Nacionalismo é tirar o traseiro
da cadeira e sair para vender o
Brasil no mercado internacional,
apesar da taxa de juros e da política cambial, que sobrevalorizam
o real e encarecem os produtos
brasileiros. Nacionalismo é ter coragem e disposição para defender
os interesses comerciais do país
nos fóruns internacionais, contra
os subsídios protecionistas dos
países mais ricos.
A globalização é uma realidade
irrefutável, mas ela não nos desobriga da tarefa de estabelecer
prioridades nacionais, cujo desenvolvimento deve ser sustentado sem economia de recursos. A
educação, por exemplo, exige investimentos pesados e persistentes. Isso é nacionalismo sadio.
Lula, intuitivo, já percebeu que
os brasileiros precisam elevar o
seu nível de auto-estima, derrubado durante várias décadas de
decadência econômica. Defende
um lugar no Conselho de Segurança da ONU, vai a reuniões internacionais, lidera a campanha
pelo combate mundial à fome, faz
marketing lá fora, veste a camisa
verde-amarela, vende o Brasil.
Com essa atitude, o presidente
apenas cumpre sua obrigação de
autoridade suprema do país. Mas
essa tarefa não cabe só a ele. Recolocar na moda o sentimento
nacional é um dever de todos os
brasileiros em posições de liderança, nos partidos, nas universidades, nas empresas e nas diversas instituições da sociedade.
Livre de doentios complexos de
inferioridade, o país poderá, sim,
conquistar um lugar de destaque
no século 21, muito antes do que
imaginam os que debocham de
manifestações de orgulho nacional. O Carnaval é bom, entre outras razões, porque nele os brasileiros, desinibidos, cantam e dançam as coisas do Brasil.
Benjamin Steinbruch, 50, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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