São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RECEITA ORTODOXA

Pesquisa do BC mostra que analistas esperam novas altas da Selic e que expectativa de inflação não mudou

Mercado vê juros a 19% de março a agosto

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros devem voltar a subir neste mês e no próximo, chegando a 19% ao ano em março e permanecendo nesse nível até agosto. Esse aperto, porém, não será suficiente para fazer com que a inflação deste ano fique dentro da meta fixada pelo Banco Central.
A previsão foi feita por um grupo de cem analistas de mercado consultados pelo BC na última sexta-feira. A cada semana, diante de sinais de novos aumentos nos juros emitidos pelo BC, os analistas elevam suas projeções para o comportamento da taxa Selic, hoje em 18,25% ao ano. A estimativa para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), por sua vez, permanece em torno de 5,7%.
O IPCA serve de parâmetro para as metas de inflação do governo. Para este ano, ela foi fixada pelo BC em 5,1%. Entre setembro e janeiro, a taxa Selic foi elevada de 16% ao ano para 18,25%. Uma das justificativas apresentadas foi a necessidade de aumentar a confiança do mercado na possibilidade de cumprir as metas de inflação -o que, segundo indicam os levantamentos feitos até agora, não ocorreu.
A pesquisa mostra que a maior fonte de pressão inflacionária são os chamados preços administrados, que incluem, entre outros itens, tarifas públicas e combustíveis. A expectativa do mercado é que esse conjunto de preços sofra um reajuste médio de 7% no ano.
Em tese, os preços administrados são menos sensíveis à elevações dos juros. Juros altos inibem a inflação porque desestimulam o consumo e os investimentos do setor privado. Isso desacelera a economia, o que, por sua vez, reduz o espaço que as empresas têm para reajustar seus preços.
No último dia 27, o BC divulgou a ata da reunião de janeiro do Copom (Comitê de Política Monetária), quando os juros foram elevados em 0,5 ponto percentual.
No documento, a diretoria da instituição indica que a série de elevações da taxa Selic deve continuar nos próximos meses. A próxima reunião do Copom será na semana que vem.

Expectativas
Quando o documento foi divulgado, a expectativa do mercado, segundo o levantamento do BC, era que a inflação fosse ficar em 5,70%. Segundo a pesquisa feita na sexta-feira passada, a estimativa foi revisada para 5,75%.
As projeções para o comportamento dos juros também se alteraram nesse período. No final de janeiro, a expectativa era que a Selic subisse 0,25 ponto percentual neste mês -estimativa que, agora, foi elevada para 0,5 ponto. O início do processo de redução da taxa, que antes era esperado para abril, está sendo projetado pelo mercado apenas para agosto. Até dezembro, os juros cairiam para 16,75% ao ano.
Segundo a pesquisa, porém, a expectativa de juros mais altos não modificou as previsões para o comportamento da economia. Para este ano, projeta-se uma expansão de 3,7% para o PIB (Produto Interno Bruto), mesmo valor previsto no final de janeiro. Para a produção industrial, a estimativa é de um crescimento de 4,65%, também próximo dos 4,63% apontados pelo levantamento anterior.
As projeções para o dólar, por sua vez, permanecem em queda. A moeda deve encerrar 2005 cotada a R$ 2,87, contra R$ 2,90 previstos pela pesquisa de janeiro. Por outro lado, mesmo com o real mais forte, a projeção para o saldo da balança comercial deste ano permaneceram praticamente estável: passou de US$ 26,50 bilhões para US$ 26,49 bilhões.


Texto Anterior: Sem efeito
Próximo Texto: Taxa alta anula ganho fiscal, diz economista
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.