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Taxa alta anula ganho fiscal, diz economista
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Os ganhos fiscais obtidos pelo
governo Luiz Inácio Lula da Silva
poderão ser anulados com a política de juros altos do Banco Central. A conclusão é do economista
José Roberto Afonso, ao analisar
o desempenho das contas públicas dos dois anos do governo, a
pedido da lideranças do PSDB.
"As perspectivas fiscais são tenebrosas com a política de elevação
de juros e de freada na economia", afirma Afonso.
Em seu trabalho, Afonso chegou a duas conclusões. A primeira: não foi o superávit primário de
4,6% do PIB (Produto Interno
Bruto) obtido em 2004 o principal
responsável pela queda do déficit
nominal (necessidade de financiamento do setor público) de
5,1% do PIB para 2,7% do PIB no
ano passado, e sim o declínio dos
juros, que foram excessivamente
altos em 2003. Apesar de o governo ter aumentado a carga tributária no ano passado, as despesas
subiram na mesma proporção.
"O tão famoso ajuste fiscal pelo
lado da despesa não passa de mais
uma peça de marketing do governo federal", diz o economista. "Os
juros são os fatores decisivos para
explicar a melhora ou a piora dos
resultados fiscais", acrescenta.
Além disso, outra conclusão a
que ele chegou foi que a redução
que ocorreu na dívida total de
55,5% do PIB no final da administração FHC para 51,8% do PIB em
dezembro do ano passado se deveu principalmente ao crescimento do PIB em 2004, e não a
um ajuste fiscal bem-sucedido. O
desempenho da economia contribuiu para reduzir a dívida em 7,7
pontos percentuais do PIB. Afonso usou como base do trabalho
dados já publicados pelo Banco
Central.
Diante dessas conclusões, Afonso chama a atenção para as recentes decisões de elevação da Selic
(os juros básicos da economia)
pelo Copom (Comitê de Política
Monetária). Os aumentos dos juros poderão piorar tanto o resultado fiscal como a relação dívida/
PIB, ao frear a economia. A relação dívida/PIB é um dos principais termômetros para medir a
saúde da economia. "Não há nada
melhor para a política fiscal do
que juros decrescentes e crescimento acelerado. O resto é só discurso", diz o economista tucano.
Afonso não entende por que
tanto otimismo com o superávit
primário obtido em 2004, que foi
só 0,4 ponto percentual acima do
alcançado em 2003. Esse resultado, de acordo com o economista,
não contribuiu em nada para melhorar a situação do déficit público (necessidade de financiamento
do setor público). O déficit caiu de
5,1% para 2,7% do PIB em razão
da queda dos juros, que foram
brutalmente elevados em 2003,
no primeiro ano do governo Lula.
Segundo Afonso, em 2003, o setor público pagou 9,3% do PIB em
juros. Em 2004, foram gastos
7,3%. Ou seja, dois pontos percentuais a menos que o ano anterior. Para Afonso, foi essa redução
no pagamento dos juros que explica o melhor desempenho fiscal
do governo em 2004. Em relação a
2002, a queda dos juros no ano
passado foi de apenas 0,6 ponto
percentual do PIB.
Os juros internos pagos no ano
passado não variaram muito em
comparação a 2002, apesar de terem apresentado uma redução
significativa de 2003 para 2004.
Em 2004, os juros incidentes sobre a dívida pública interna atingiram 6,3% do PIB, e em 2002 correspondiam a 7,2% do produto.
Dívida/PIB
Uma parte importante do trabalho de Afonso diz respeito à melhora da relação dívida/PIB. A dívida pública, que no final do governo FHC totalizava 55,5% do
PIB, em 2003 subiu para 57,2%.
Ou seja, um aumento de 1,7 ponto
percentual. Em 2004, a relação dívida/PIB caiu para 51,8% do PIB.
Segundo Afonso, o crescimento
do PIB no ano passado, estimado
em 5,3%, foi o principal responsável por essa queda no nível do endividamento. De acordo com o
economista, o superávit primário,
embora tenha contribuído para
diminuir a dívida em 4,6 pontos
percentuais do produto, foi mais
do que compensado pelo montante de juros nominais pagos pelo setor público.
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