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SALTO NO ESCURO
Diretor que fez contrato com termelétrica é hoje senador pelo PT
Petrobras rejeita culpar ex-dirigente
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A diretoria da Petrobras descartou qualquer estratégia jurídica
que possa significar responsabilização de ex-dirigentes por prejuízos nos contratos firmados com a
americana El Paso e a brasileira
MPX para a construção de termelétricas no país. O principal motivo é que o diretor de Gás e Energia
na época do primeiro contrato é o
atual senador Delcídio Amaral
(MS), do PT.
Ele era da Diretoria de Engenharia e foi o primeiro diretor de
Gás e Energia, função criada em
outubro de 2000. Dali, saiu para
concorrer às eleições de 2002.
Amaral participou da operação
com a El Paso para a construção
da usina Macaé Merchant, no Rio
de Janeiro, que inspirou e serviu
de parâmetro para a TermoCeará,
da MPX. De propriedade do empresário Eike Batista, a MPX, agora, negocia a instalação da TermoPantanal no Estado que elegeu
Amaral ao Senado.
Ontem, a Folha revelou que a
Petrobras decidiu abrir um processo de arbitragem contra as empresas. Na prática, isso significa
que a contenda será examinada
por um tribunal composto por especialistas indicados pela estatal e
as empresas, em esfera privada,
distante do Judiciário. A decisão
do tribunal é final, sem possibilidade de recurso.
Outra decisão tomada com aval
do Planalto e comunicada ao escritório de advocacia Pinheiro
Neto, de São Paulo, é que o processo de arbitragem a ser iniciado
a partir desta semana contra a El
Paso e a MPX tem o objetivo de
renegociar os contratos, não de
anulá-los. Nem governo nem Petrobras querem passar a impressão ao mercado de "rompimento
de contrato".
O escritório Pinheiro Neto foi
chamado para defender a Petrobras, que vai formalizar o processo de arbitragem sob a alegação
de prejuízos de R$ 4,51 bilhões à
estatal caso os termos originais sejam mantidos.
Apagão
Os dois contratos foram fechados durante a crise de energia elétrica, no segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso. O primeiro, com a El Paso, foi
feito com base em prognósticos
que indicavam escassez na oferta
de energia e crescimento da demanda. O segundo, com a MPX,
foi assinado quando a crise já estava passando, e o mercado, se estabilizando.
Sob a alegação da necessidade
de uma resposta rápida, o governo Fernando Henrique Cardoso
optou por reduzir os riscos para
os investidores. Para isso, a Petrobras assinou um acordo de participação paralelo aos contratos,
instituindo uma "contribuição de
contingência".
Esse instrumento prevê que a
Petrobras pague às empresas um
valor suficiente para que sejam
honrados os impostos, o custo
operacional, o retorno do capital e
uma margem de lucro. Como o
cenário de escassez de oferta previsto em 2001 não se confirmou, o
preço de mercado não cobriu a diferença. E o prejuízo sobrou para
a Petrobras, que paga mensalmente cerca de US$ 20 milhões
(R$ 52 milhões) para a El Paso e
US$ 4,8 milhões (R$ 12,5 milhões)
para a MPX.
As empresas negam irregularidade e apregoam que a estatal
quer romper os contratos. Afirmam que elas assumiram o risco
nas construções das usinas e responderam rapidamente à necessidade do governo de mais energia, durante um período crítico
no fornecimento. Se as tendências
se confirmassem, acrescentam as
empresas, a Petrobras também teria lucrado, pois cabe a ela o fornecimento do gás natural como
matéria-prima.
Parecer
A responsabilização de ex-dirigentes e até mesmo de ministros
de Estado que aprovaram os contratos no Conselho de Administração da Petrobras foi defendida
pelo advogado Eros Grau, em um
parecer elaborado antes que ele
assumisse o cargo de ministro do
Supremo Tribunal Federal.
O parecer de Grau foi à gaveta, e
a diretoria da Petrobras optou por
centrar esforços na "contribuição
de contingência" e deixou de lado
as alternativas de pedir a anulação
dos contratos, o retorno dos valores já pagos e a responsabilização
dos ex-dirigentes.
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