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AGROFOLHA
FRUTICULTURA
Após 3 décadas, Brasil começa a embarcar produto, mas dificuldades de transporte elevam custo de exportação
Manga chega ao Japão até 80% mais cara
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
O Brasil se destaca no mundo
como líder nas exportações de várias commodities. Grandes áreas
plantadas, terra disponível, custos
reduzidos e boa competitividade
externa garantem essa liderança.
A participação do país no mercado externo, no entanto, é com
produtos de menor valor agregado. O país tem volume, mas não
tem os melhores preços.
O setor de frutas quer quebrar
esse tradição de só vender quantidade com baixo rendimento. A
mais recente conquista foi a abertura do mercado japonês para a
manga. Há três décadas buscando
esse mercado, o Brasil finalmente
começou a colocar os primeiros
lotes de manga no país asiático.
Essa conquista é importante para o Brasil porque os japoneses
são um cartão de visita para a
qualificação dos produtos. A
abertura desse mercado deve
abrir as portas de toda a Ásia para
o produto brasileiro.
Essa a avaliação de Kunio Hatakeyama, diretor de novos negócios da Trablin S.A., empresa que
acaba de colocar o primeiro lote
de manga no Japão.
Especializado em agronegócio
no mercado internacional, Hatakeyama, avisa, no entanto, que os
problemas estão apenas começando. O mercado japonês exige
produto de "altíssima qualidade,
manutenção dessa qualidade e
pontualidade na entrega". "Tudo
tem de ser muito bem cronometrado", diz ele.
O diretor da Trablin cita o México, que lutou para ganhar o mercado japonês, mas se descuidou
desses detalhes e amargou anos
difíceis para reconquistar a confiança dos asiáticos.
Hatakeyama afirma que o Brasil
possui as frutas que os japoneses e
outros mercados exigentes querem, mas o país tem um grau de
dificuldade maior que os já tradicionais exportadores -como o
Chile e o próprio México- para
manter os mercados.
Essas dificuldades ocorrem por
conta dos custos de logística e afetam as vendas de uva, manga e de
outras frutas.
No caso específico da manga,
Hatakeyama diz que "o Brasil
chega depois e deve oferecer algo
a mais". Esse "algo a mais" inclui
um produto de qualidade, tamanho uniforme da fruta, coloração
constante e uma pontualidade no
cumprimento dos contratos.
Manter qualidade e pontualidade nas exportações de um produto perecível exige operações ousadas. A manga sai do Vale do São
Francisco, vai a Salvador, Guarulhos, Campinas e Alemanha antes
de chegar ao Japão. Qualquer mudança de temperatura ou problema na embalagem provoca a incineração do produto.
Aí entram os problemas de logística. O aeroporto de Petrolina
(PE) -que, ao lado de Juazeiro
(BA), é uma das principais áreas
de produção de frutas do país-
tem boa infra-estrutura, mas não
recebe vôos contínuos, o que dificulta o transporte das frutas.
Hatakeyama diz que pequenos
detalhes, como a ausência de uma
câmara refrigerada para frutas no
aeroporto de Viracopos, em
Campinas, aumentam ainda mais
o grau de dificuldades da operação. As frutas permanecem em
caminhões refrigerados antes de
seguir para a Alemanha.
Exportar para o Japão compensa. Os japoneses pagam de US$ 4 a
US$ 5 por fruto, bem mais do que
o US$ 1,5 a US$ 2 pagos pelos europeus e norte-americanos. As
exportações para o Japão ainda se
iniciam, mas Hatakeyama diz que
a remuneração dos produtores
será maior do que quando feitas
para EUA e Europa -US$ 0,25 a
US$ 0,30 o quilo. A remuneração
do mercado japonês será maior
devido às maiores exigências.
Do valor pago pelos japoneses,
só os gastos com a operação de
exportação somam até 80% do
valor da fruta. Esse custo cairá
com o aumento das exportações.
Exagero
O diretor da Trablin acha que os
primeiros números de estimativa
de venda de manga de 5.000 toneladas por ano são um pouco exagerados. Segundo ele, se o Brasil
fizer bem feita a lição de casa, em
três anos atingirá volume próximo ao do México, que é de 2.500
toneladas por ano.
O Brasil é o sétimo maior produtor mundial de manga -820
mil toneladas colhidas em 2003.
Exportou 126 mil toneladas naquele ano, principalmente para
Estados Unidos e Europa, com receitas de US$ 73 milhões.
O Brasil esteve fora do mercado
japonês devido à presença da
mosca do Mediterrâneo nos pomares brasileiros. O envio de
mangas sem a presença de larvas
dessa mosca exige cuidados e custos elevados.
Um técnico do governo japonês, custeado pela empresa, permanece na área de produção vistoriando as plantações, o preparo
da fruta e o processo de embarque. A constatação da presença de
apenas três moscas por dia na lavoura já pode inviabilizar a área
para a exportação para o Japão.
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