São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2005

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AGROFOLHA

FRUTICULTURA

Após 3 décadas, Brasil começa a embarcar produto, mas dificuldades de transporte elevam custo de exportação

Manga chega ao Japão até 80% mais cara

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

O Brasil se destaca no mundo como líder nas exportações de várias commodities. Grandes áreas plantadas, terra disponível, custos reduzidos e boa competitividade externa garantem essa liderança. A participação do país no mercado externo, no entanto, é com produtos de menor valor agregado. O país tem volume, mas não tem os melhores preços.
O setor de frutas quer quebrar esse tradição de só vender quantidade com baixo rendimento. A mais recente conquista foi a abertura do mercado japonês para a manga. Há três décadas buscando esse mercado, o Brasil finalmente começou a colocar os primeiros lotes de manga no país asiático.
Essa conquista é importante para o Brasil porque os japoneses são um cartão de visita para a qualificação dos produtos. A abertura desse mercado deve abrir as portas de toda a Ásia para o produto brasileiro.
Essa a avaliação de Kunio Hatakeyama, diretor de novos negócios da Trablin S.A., empresa que acaba de colocar o primeiro lote de manga no Japão.
Especializado em agronegócio no mercado internacional, Hatakeyama, avisa, no entanto, que os problemas estão apenas começando. O mercado japonês exige produto de "altíssima qualidade, manutenção dessa qualidade e pontualidade na entrega". "Tudo tem de ser muito bem cronometrado", diz ele.
O diretor da Trablin cita o México, que lutou para ganhar o mercado japonês, mas se descuidou desses detalhes e amargou anos difíceis para reconquistar a confiança dos asiáticos.
Hatakeyama afirma que o Brasil possui as frutas que os japoneses e outros mercados exigentes querem, mas o país tem um grau de dificuldade maior que os já tradicionais exportadores -como o Chile e o próprio México- para manter os mercados.
Essas dificuldades ocorrem por conta dos custos de logística e afetam as vendas de uva, manga e de outras frutas.
No caso específico da manga, Hatakeyama diz que "o Brasil chega depois e deve oferecer algo a mais". Esse "algo a mais" inclui um produto de qualidade, tamanho uniforme da fruta, coloração constante e uma pontualidade no cumprimento dos contratos.
Manter qualidade e pontualidade nas exportações de um produto perecível exige operações ousadas. A manga sai do Vale do São Francisco, vai a Salvador, Guarulhos, Campinas e Alemanha antes de chegar ao Japão. Qualquer mudança de temperatura ou problema na embalagem provoca a incineração do produto.
Aí entram os problemas de logística. O aeroporto de Petrolina (PE) -que, ao lado de Juazeiro (BA), é uma das principais áreas de produção de frutas do país- tem boa infra-estrutura, mas não recebe vôos contínuos, o que dificulta o transporte das frutas.
Hatakeyama diz que pequenos detalhes, como a ausência de uma câmara refrigerada para frutas no aeroporto de Viracopos, em Campinas, aumentam ainda mais o grau de dificuldades da operação. As frutas permanecem em caminhões refrigerados antes de seguir para a Alemanha.
Exportar para o Japão compensa. Os japoneses pagam de US$ 4 a US$ 5 por fruto, bem mais do que o US$ 1,5 a US$ 2 pagos pelos europeus e norte-americanos. As exportações para o Japão ainda se iniciam, mas Hatakeyama diz que a remuneração dos produtores será maior do que quando feitas para EUA e Europa -US$ 0,25 a US$ 0,30 o quilo. A remuneração do mercado japonês será maior devido às maiores exigências.
Do valor pago pelos japoneses, só os gastos com a operação de exportação somam até 80% do valor da fruta. Esse custo cairá com o aumento das exportações.

Exagero
O diretor da Trablin acha que os primeiros números de estimativa de venda de manga de 5.000 toneladas por ano são um pouco exagerados. Segundo ele, se o Brasil fizer bem feita a lição de casa, em três anos atingirá volume próximo ao do México, que é de 2.500 toneladas por ano.
O Brasil é o sétimo maior produtor mundial de manga -820 mil toneladas colhidas em 2003. Exportou 126 mil toneladas naquele ano, principalmente para Estados Unidos e Europa, com receitas de US$ 73 milhões.
O Brasil esteve fora do mercado japonês devido à presença da mosca do Mediterrâneo nos pomares brasileiros. O envio de mangas sem a presença de larvas dessa mosca exige cuidados e custos elevados.
Um técnico do governo japonês, custeado pela empresa, permanece na área de produção vistoriando as plantações, o preparo da fruta e o processo de embarque. A constatação da presença de apenas três moscas por dia na lavoura já pode inviabilizar a área para a exportação para o Japão.


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