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"Default" é trunfo político do país, afirma analista
CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK
A queda-de-braço entre a Argentina e o FMI (Fundo Monetário Internacional) tem sido
usada como trunfo político do
governo de Néstor Kirchner.
A afirmação é de Charles Calomiris, professor da Universidade de Columbia. O economista tornou-se um desafeto
do governo argentino em 2001
ao prever a moratória da Argentina em artigo do jornal
"Wall Street Journal". Meses
depois, o "default" ocorreu.
Com ironia, a estratégia argentina é considerada "inteligente" por Calomiris. "Criticar
o FMI tem sido uma política interna muito positiva para o
presidente. O FMI tem sido
usado como um bode expiatório para explicar o porquê de
tudo ter dado tão errado para o
país." O economista completa:
"É uma política muito inteligente porque, sempre que a Argentina latiu, o Departamento
de Tesouro dos EUA vacilou".
Uma possível flexibilidade do
FMI é, para Calomiris, reflexo
da situação interna do governo
americano. "A administração
Bush trata a Argentina como
uma criança mimada, deixando o país negociar os empréstimos incondicionalmente", diz.
Esse mimo refletiria um predomínio da política sobre a
questão puramente econômica. Em um ano eleitoral, o presidente George W. Bush não se
mostra disposto a criar mais
rusgas. "O Departamento do
Tesouro tem exercido pressão
sobre o FMI para não impor
condições à Argentina."
Calomiris, entretanto, diz
acreditar que a possível vitória
argentina sobre o Fundo está
longe de ser um indício de tempos de bonança para o país.
O "abutre", como foi apelidado pelo ex-ministro da Economia Domingo Cavallo, afirmou
que o crescimento da Argentina não vai durar. "No ano que
vem, a história será outra. A
eleição nos EUA terá acabado.
Aí, o sr. Kirchner vai ter que
mudar a sua política."
Uma das receitas prescritas
por Calomiris é um esforço do
governo para melhorar a condição de acesso ao capital externo. Mas a série de processos
de credores da dívida argentina
contra o país tem fechado as
portas do mercado internacional. Outro problema é que boa
parte do crescimento argentino
tem sido apoiada no aumento
dos preços das commodities.
Para Ricardo Fuente, economista da consultoria Ecolatina,
a Argentina já atendeu a todas
as exigências do Fundo que
constavam do acordo.
Segundo ele, todas as metas
monetárias e fiscais e a aprovação de certas leis e normas pelo
Congresso foram cumpridas
-é a mesma defesa que o governo argentino apresenta para
dizer que o Fundo tem de renovar o acordo com o país.
E se houver "default? Na análise de Fuente, "a conseqüência
no curto prazo é quase nenhuma, porque o país de fato está
crescendo com recursos próprios, não está crescendo com
fundos do exterior. O impacto
negativo pode vir no médio ou
longo prazo, na dificuldade de
financiar certas operações".
Colaborou Carolina Vila-Nova, de
Buenos Aires
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