São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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LEITE DERRAMADO

Para grupo, interventores serão destituídos

Matriz italiana quer reassumir controle da Parmalat no Brasil

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Após a decisão que reconduziu Ricardo Gonçalves à presidência da Parmalat Alimentos, a Parmalat Itália começa a se movimentar para reassumir o controle sobre a empresa, que está sob intervenção desde o mês passado.
A Folha apurou que os interventores da matriz escolheram uma empresa especializada em gestão de crises para representar seus interesses no país.
Caso a intervenção no Brasil caia, e com um mandato da Parmalat italiana nas mãos, esses representantes poderiam nomear novo conselho de administração e nova diretoria por meio de uma assembléia de acionistas.
A aposta dos advogados que representam a matriz é exatamente que os interventores Keyler Carvalho Rocha, Rubens Salles de Carvalho e Aroldo Camillo Filho, nomeados pelo juiz Carlos Henrique Abrão, da 42ª Vara Cível de São Paulo, serão destituídos.
Isso porque, na semana passada, uma decisão do juiz Roque Mesquita, do 1º Tribunal de Alçada, reconduziu Ricardo Gonçalves e Andrea Ventura -respectivamente presidente e diretor financeiro da empresa antes da intervenção- aos seus cargos.
Mesquita, no entanto, não fez referência aos interventores, o que criou uma discussão sobre quem está no comando da empresa. Os advogados da Parmalat Brasil nomeados pelos interventores e os que representam a matriz encaminharam recursos pedindo esclarecimentos sobre a extensão da decisão do juiz.
Outro golpe na intervenção foi dado na última quinta-feira, quando o terceiro vice-presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Flávio Pinheiro, criticou Abrão em despacho preliminar. A decisão de intervir na empresa, segundo Pinheiro, foi "excessiva".
O desembargador apresentou o despacho após os advogados da Parmalat Participações entraram com um mandato de segurança pedindo a que a decisão do juiz da 42ª Vara seja revogada.
Antes de dar sua decisão final, no entanto, Pinheiro estabeleceu um prazo de dez dias a Abrão para que se pronuncie sobre o caso.
Na tarde da última quinta-feira, os administradores judiciais, os advogados da matriz e o juiz Abrão tiveram uma reunião a portas fechadas no tribunal.
O objetivo, segundo o interventor Keyler Carvalho Rocha, foi "discutir o interesse da Parmalat Itália em participar da solução da crise". "Existe um interesse comum em se dar uma solução comum para a Parmalat. Toda a ajuda é bem-vinda", afirmou ele.
Segundo Rocha, os advogados da Parmalat Itália informaram aos interventores que um executivo representaria a empresa no Brasil. "Mas não foi apresentada nenhuma procuração da matriz." Disse ainda que "existe um interesse de que a empresa ande com suas próprias pernas". "A briga estava piorando o quadro. O assunto é muito sério para perder tempo com discussões judiciais."
O combinado, segundo Rocha, foi que as conversas continuariam nesta semana. "Por enquanto é um início de conversa", disse.
Segundo uma fonte, os interventores estariam mais flexíveis porque teriam percebido que, em uma situação de disputas judiciais, ninguém está disposto a oferecer crédito para a empresa.
Mesquita deve esclarecer hoje sua decisão de reconduzir Gonçalves e Ventura -que viajou para a Itália na semana passada- a seus cargos.
No mesmo dia, também pode se determinar em qual vara será julgado o pedido de concordata da Parmalat, suspenso por causa de um conflito de competência entre a 29ª Vara e a 42ª Vara, que estão analisando processos diferentes que envolvem o grupo. Antes da intervenção, a Parmalat Alimentos havia contratado o consultor Cláudio Galeazzi, que atuou, entre outras empresas, na Artex, Lojas Americanas e Mococa, para reestruturar a empresa.



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