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São Paulo, terça-feira, 08 de abril de 2003

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TRABALHO

Acordos emergenciais fechados pelo Sindicato dos Metalúrgicos de SP podem gerar dispensas em até três meses

Aumento salarial poderá virar demissão

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES

DA REPORTAGEM LOCAL

Os acordos emergenciais de reposição salarial feitos entre o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, filiado à Força Sindical, e as indústrias do setor devem resultar em demissões em cerca de dois a três meses.
Até julho, as fábricas, principalmente do setor de autopeças, têm pedidos em carteira para exportação. Depois disso, o reajuste dos salários e a pressão de custos dos insumos -o preço do aço subiu cerca de 60% em seis meses- devem resultar em dispensas.
"Pode haver demissão, sim, por causa desse reajuste nos salários dos trabalhadores. Ninguém contava com esse aumento de custo na folha de pagamento", afirma Ricardo Morrone, gerente de Recursos Humanos da metalúrgica Dyna, que faz limpador de pára-brisa de automóveis.
Segundo empresas consultadas, as demissões seriam evitadas em três hipóteses: se o mercado interno reagir, se as encomendas do exterior continuarem firmes e se as indústrias obtiverem sucesso nas negociações para repassar os aumentos de custos.

Retração
No entanto, os empresários não vêem possibilidade de esses cenários se concretizarem, já que as negociações para repassar custos para os preços estão complicadas, e a possibilidade de um conflito mais prolongado entre os Estados Unidos e o Iraque pode tornar a economia internacional ainda mais retraída.
Há três semanas, o sindicato decidiu fazer greves por empresa para tentar recuperar a corrosão nos salários provocada pela inflação no período de novembro de 2002 a fevereiro deste ano, de 10,39%, medida pelo INPC, do IBGE. Até ontem, foram fechados 237 acordos, que envolvem 70.010 trabalhadores.
Nas indústrias de autopeças, que empregam cerca de 220 mil trabalhadores no Estado de São Paulo, o corte de pessoal poderá afetar principalmente as fábricas que atendem o mercado de reposição de peças. Das 250 empresas que existem hoje no Estado de São Paulo, 20% trabalham para o mercado de reposição.

Mercado interno
"Esse setor é o mais fragilizado, pois atende o mercado interno. Se as empresas não conseguirem repassar os aumentos de custos, vai haver redução de pessoal", diz Dráusio Rangel, negociador do Sindipeças (autopeças), Sindiforja (forjarias) e Sinpa (parafusos).
Os representantes das indústrias de autopeças devem se reunir amanhã com o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo para discutir a proposta de reajustar em 10% os salários dos trabalhadores na forma de antecipação salarial. Até a última sexta-feira, os empresários não falavam em conceder reajuste unificado.
"Teremos de avaliar o impacto do aumento de salário nos custos para tentar manter os funcionários", afirma Otávio Rogério Fabri, gerente da Piratininga.

Sem demissões
A primeira empresa a fechar acordo com o sindicato, a Lopsa, avalia que o reajuste de 10% na folha de pagamento resultará num aumento "considerável" de custo para a empresa. "Vamos tentar repassar os custos. Em um primeiro momento, não pretendemos demitir", diz Florivaldo Aparício Caputo, sócio da Lopsa.
Para Valdemar Cardoso de Andrade, coordenador da comissão de negociação do grupo de empresas de máquinas e eletroeletrônicos, os fabricantes do setor não terão condições de arcar com os custos da antecipação salarial.
"Se as empresas demitirem, vamos parar de novo", diz Eleno José Bezerra, presidente do sindicato dos metalúrgicos.


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