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PRÉ-COPOM
Ministro identifica comportamento "favorável" da inflação e diz que único caminho para a estabilidade é "angustiante"
Palocci vê "margem" para a queda de juros
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM PARIS
O ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, deu a entender que
a taxa de juros tende a baixar na
próxima reunião do Copom (o
Comitê de Política Monetária do
Banco Central), apesar de afirmar, como é de praxe, que se trata
de decisão técnica do BC.
Palocci disse que parece haver
"margem" para a redução: "No
geral, o comportamento favorável
da inflação permite que a política
monetária responda a ele".
O "comportamento favorável"
a que se refere o ministro está dado por dois índices (IPC e IGP-M), que foram menores do que o
esperado, apesar de o mais recente (o IPCA divulgado ontem) ter
sido maior. "A transmissão do
aumento de preços do atacado
para o varejo está sendo muito
baixa", disse ele.
O IPCA de março (0,47%) ficou
acima das expectativas e com alta
no chamado núcleo (descontando os efeitos sazonais). Caiu, no
entanto, em relação ao 0,61% de
fevereiro.
Palocci admitiu que escolheu "o
caminho mais difícil, mais lento e
mais angustiante" para assegurar
o equilíbrio econômico.
Mas, absolutamente fiel a seu
comportamento zen em qualquer
circunstância, o ministro é um
dos poucos que não demonstram
angústia com o caminho escolhido -pela simples e boa razão de
que acha que "a experiência, tanto
interna como externa, demonstra
que não há muitas opções para o
crescimento sustentável".
O comentário foi feito em resposta a uma pergunta da Folha
sobre sua eventual responsabilidade na queda do prestígio do
presidente da República e do governo Lula, como conseqüência
das dificuldades econômicas,
conforme mostram as pesquisas.
Palocci preferiu desviar-se do
assunto: "Não acho que haja uma
avaliação negativa da política econômica". Só depois é que admitiu
que o caminho escolhido é "angustiante".
O ministro conversou com jornalistas brasileiros no fim da tarde, na residência do embaixador
do Brasil em Paris, Sergio Amaral.
Apesar de todas as perguntas
feitas a Palocci trazerem embutida uma informação ou avaliação
negativa, o ministro não demonstrou angústia em momento algum. Ao contrário, foi otimista o
tempo todo.
Com relação ao cenário internacional, discordou da avaliação do
FMI (Fundo Monetário Internacional). Em relatório divulgado
anteontem, o Fundo dizia que os
déficits fiscal e externo dos Estados Unidos podem levar a uma alta generalizada nas taxas de juros
em todo o planeta, o que abalaria
países como o Brasil.
Palocci admite que o déficit fiscal norte-americano é um problema, mas acha que "o ajuste virá
suavemente". Mais: aposta em
um ano bom para a economia
mundial e diz que "o Brasil está se
defendendo bem" do recente aumento na avaliação de risco dos
países emergentes.
Segundo o ministro, esse aumento já estaria "precificando"
ajustes futuros. Traduzindo: mesmo que os juros nos Estados Unidos subissem para conter eventual pressão inflacionária decorrente do consumo, o Brasil não
sofreria tanto porque seu nível de
risco futuro já está calibrado.
Palocci acredita que o cenário
internacional seja favorável o suficiente para que não haja necessidade de apressar uma emissão de
títulos, no pressuposto de que "lá
na frente vai ser muito ruim".
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