São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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PRÉ-COPOM

Ministro identifica comportamento "favorável" da inflação e diz que único caminho para a estabilidade é "angustiante"

Palocci vê "margem" para a queda de juros

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA, EM PARIS

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, deu a entender que a taxa de juros tende a baixar na próxima reunião do Copom (o Comitê de Política Monetária do Banco Central), apesar de afirmar, como é de praxe, que se trata de decisão técnica do BC.
Palocci disse que parece haver "margem" para a redução: "No geral, o comportamento favorável da inflação permite que a política monetária responda a ele".
O "comportamento favorável" a que se refere o ministro está dado por dois índices (IPC e IGP-M), que foram menores do que o esperado, apesar de o mais recente (o IPCA divulgado ontem) ter sido maior. "A transmissão do aumento de preços do atacado para o varejo está sendo muito baixa", disse ele.
O IPCA de março (0,47%) ficou acima das expectativas e com alta no chamado núcleo (descontando os efeitos sazonais). Caiu, no entanto, em relação ao 0,61% de fevereiro.
Palocci admitiu que escolheu "o caminho mais difícil, mais lento e mais angustiante" para assegurar o equilíbrio econômico.
Mas, absolutamente fiel a seu comportamento zen em qualquer circunstância, o ministro é um dos poucos que não demonstram angústia com o caminho escolhido -pela simples e boa razão de que acha que "a experiência, tanto interna como externa, demonstra que não há muitas opções para o crescimento sustentável".
O comentário foi feito em resposta a uma pergunta da Folha sobre sua eventual responsabilidade na queda do prestígio do presidente da República e do governo Lula, como conseqüência das dificuldades econômicas, conforme mostram as pesquisas.
Palocci preferiu desviar-se do assunto: "Não acho que haja uma avaliação negativa da política econômica". Só depois é que admitiu que o caminho escolhido é "angustiante".
O ministro conversou com jornalistas brasileiros no fim da tarde, na residência do embaixador do Brasil em Paris, Sergio Amaral.
Apesar de todas as perguntas feitas a Palocci trazerem embutida uma informação ou avaliação negativa, o ministro não demonstrou angústia em momento algum. Ao contrário, foi otimista o tempo todo.
Com relação ao cenário internacional, discordou da avaliação do FMI (Fundo Monetário Internacional). Em relatório divulgado anteontem, o Fundo dizia que os déficits fiscal e externo dos Estados Unidos podem levar a uma alta generalizada nas taxas de juros em todo o planeta, o que abalaria países como o Brasil.
Palocci admite que o déficit fiscal norte-americano é um problema, mas acha que "o ajuste virá suavemente". Mais: aposta em um ano bom para a economia mundial e diz que "o Brasil está se defendendo bem" do recente aumento na avaliação de risco dos países emergentes.
Segundo o ministro, esse aumento já estaria "precificando" ajustes futuros. Traduzindo: mesmo que os juros nos Estados Unidos subissem para conter eventual pressão inflacionária decorrente do consumo, o Brasil não sofreria tanto porque seu nível de risco futuro já está calibrado.
Palocci acredita que o cenário internacional seja favorável o suficiente para que não haja necessidade de apressar uma emissão de títulos, no pressuposto de que "lá na frente vai ser muito ruim".


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