São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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DRAGÃO DOMADO

Índice acumulado em 12 meses já é o menor desde 99; resultado, porém, frustrou previsão do mercado

IPCA aponta queda da inflação para 0,47% em março

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Sob efeito do final do período de reajustes das mensalidades escolares, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) cedeu em março, embora vários preços tenham apontado repasses do atacado para o varejo. A taxa ficou em 0,47% -menor do que o 0,61% de fevereiro-, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Em 12 meses, o índice acumulado ficou em 5,89%, no menor nível desde agosto de 1999 (5,69%). Está, porém, um pouco mais alto do que o centro da meta de inflação do BC (Banco Central), de 5,5% em 2004. No primeiro trimestre, o IPCA registrou alta de 1,85%, contra 5,13% no mesmo período de 2003. Com o resultado, 35% da meta deste ano já está comprometida.
A meta de inflação tem uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais, para mais ou para menos, mas o Banco Central insiste em perseguir o centro da meta de inflação.
Apesar do recuo, o IPCA ficou acima da média das previsões do mercado, que eram de 0,43%. Além disso, produtos como automóveis novos (que tiveram uma alta de 2,33%), eletrodomésticos (1,76%), óleo de soja (7,60%), ovos (6,86%) e café (3,55%) sofreram contágios dos aumentos do atacado.
Eulina Nunes dos Santos, gerente do Departamento de Índices de Preço do IBGE, afirmou que as altas no atacado estão se refletindo agora no varejo, mas que "não há sinais de descontrole da inflação". "Não existem evidências de inflação generalizada. São só alguns itens que tiveram aumento", afirmou.

Repasses
Especialistas ouvidos pela Folha concordam que os repasses estão acontecendo de forma moderada e contida, embora afirmem que eles são motivo de atenção do BC.
"Os repasses são pequenos e limitados", afirmou Ana Paula Almeida, economista da Tendências Consultoria.
Já Ricardo Denadai, economista da consultoria LCA, afirmou que o BC terá "pouco espaço para manejar a política monetária", considerando a inflação acumulada no trimestre e a concentração de reajustes de tarifas no início do segundo semestre.
Apesar disso, Denadai considera que há espaço para a redução dos juros nos próximos meses, ainda que a queda seja numa velocidade mais lenta.
Para Carlos Thadeu de Freitas Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os aumentos que estão acontecendo caracterizam pressões de oferta -ou seja, algo pontual e passageiro. "Nada tem a ver com inflação de demanda, o que realmente preocupa o BC. A renda em queda não permite um crescimento do consumo", afirmou.
Em março, puxaram o índice para cima os reajustes de cigarros (4,76%), taxas de esgoto (2,62%) e gás de cozinha (1,51%). Pressionados pelo atacado, os alimentos subiram 0,43%, numa alta maior do que a de fevereiro (0,15%).
Na outra ponta, contribuíram para a redução do IPCA o fim da pressão das mensalidades escolares -subiram 8,11% em fevereiro e tiveram alta de 0,66% em março. Também teve um impacto importante a queda dos preços do álcool combustível (12,87%) e da gasolina (1,41%), em conseqüência da boa safra de cana.

Novos recuos
No segundo trimestre, os economistas prevêem um recuo da inflação, pois não estão programados reajustes de tarifas públicas, e o período é de pico da safra agrícola.
Sazonalmente, disse Denadai, a inflação é mais alta nos dois primeiros meses do ano por causa da alta dos colégios e do efeito das chuvas sobre os alimentos.
Em 2003, porém, a inflação acumulada subiu até maio por causa do choque cambial do final de 2002, ocasionado pelas eleições.
Para o segundo trimestre, especialistas esperam uma inflação menor. Freitas Filho estima que ficará em cerca de 0,35% ao mês. A Tendências espera um IPCA de 0,4% em abril.


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