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POLÊMICA
Mario Engler Pinto Junior defende atual controlador da Tatuzinho em processo movido na Justiça por ex-sócios
Corregedoria investiga procurador que advoga
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Corregedoria da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo
decidiu abrir inquérito para verificar se houve ou não infração disciplinar do procurador Mario Engler Pinto Junior. Ele ocupa o cargo de procurador do Estado de
São Paulo e defende a indústria de
bebidas Tatuzinho, dona da marca de cachaça Velho Barreiro, em
processo em que ex-sócios da empresa movem na Justiça, conforme reportagem publicada pela
Folha no último domingo.
Pinto Junior é advogado e porta-voz do grupo Tavares de Almeida, que controla a empresa
Tatuzinho e o banco Luso Brasileiro, no processo movido na Justiça desde o ano passado pelos irmãos Zwecker (Reinold e Ricardo), ex-sócios da cachaçaria.
Nessa ação, são citados vários
autos de infração aplicados à empresa pela Secretaria da Fazenda
do Estado de São Paulo para cobrar suposto uso indevido de créditos fiscais e supostas operações
com empresas inidôneas. A Folha
apurou com fiscais da Fazenda
que os autos de infração aplicados
à cachaçaria somam cerca de R$
120 milhões nos últimos dez anos.
Procuradores do Estado de São
Paulo, especialmente os que
atuam na Secretaria da Fazenda
do Estado de São Paulo, consideraram "estranho" o fato de Pinto
Junior defender a Tatuzinho nesse processo, segundo a Folha apurou. Isso porque o advogado-procurador teria agido como defensor da empresa contra o Estado.
A lei complementar 478, de
1986, exige que o procurador do
Estado dedique todo o seu tempo
a favor do Estado -isto é, que
não advogue para terceiros. Como Pinto Junior já era procurador
e advogado antes dessa legislação,
pode atuar como procurador e
advogado. Não pode, entretanto,
defender clientes que vão à Justiça
contra os interesses do Estado.
Sérgio D'Amico, corregedor-geral da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo, diz que Pinto Junior é um dos procuradores que
possui permissão para dar dedicação parcial ao Estado. "Vamos
apurar se houve ou não infração
disciplinar por parte do procurador. Em tese, nenhum procurador de Estado pode advogar contra as Fazendas."
Na entrevista concedida à Folha
na semana passada, Pinto Junior
afirmou que, apesar de ser o porta-voz do grupo Tavares de Almeida, não atuava como advogado tributarista. Informou que defendia os atuais controladores da
Tatuzinho no processo movido
pelos ex-sócios da cachaçaria.
Procuradores do Estado entendem que o fato de a empresa discutir há anos com a Fazenda paulista o uso de créditos fiscais já seria motivo para Pinto Junior evitar a defesa da companhia.
D'Amico afirma que, como o
assunto teve "grande repercussão" entre os procuradores, a
Corregedoria vai averiguar se
houve ou não infração disciplinar
por parte do procurador Pinto Junior "de forma rápida". Caso se
constate a infração, as punições
podem ser: repreensão, suspensão e até exoneração do cargo.
Além de procurador do Estado
e advogado, Pinto Junior é secretário-executivo do Codec (Conselho de Defesa dos Capitais do Estado), que assessora o governo na
fixação de políticas para o Estado,
e presidente da CPP (Companhia
Paulista de Parcerias).
Existem cerca de 930 procuradores no Estado, mas não mais de
20 deles podem também advogar,
segundo informa Marcos Fábio
de Oliveira Nusdeo, presidente da
Associação dos Procuradores do
Estado de São Paulo. "Cabe à Corregedoria averiguar o que de fato
ocorreu nesse caso [do procurador Pinto Junior]", diz Nusdeo.
Especialista em direito constitucional, o procurador aposentado
do Estado José Afonso da Silva diz
que, em tese, o procurador que
trabalha para o Estado -e recebe
por isso do Estado- "tem de tomar cuidado para não contrariar
as normas que o limitam".
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