São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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DIAS DE TENSÃO

Bolsa cai 2,97% e fecha quinta semana em queda; petróleo e temor de taxa de juros nos EUA afetam mercado

Dólar passa de R$ 3; risco-país sobe 5,4%

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A divulgação de dados sobre emprego nos EUA trouxe nova turbulência ao mercado. No Brasil, o dólar subiu 2,1% e foi a R$ 3,062. A Bolsa caiu 2,97% e encerrou a quinta semana seguida com perdas. O risco-país subiu 5,4%.
Nem mesmo os dados do IPCA de abril, que ratificaram a trajetória de queda do índice de preços, foi suficiente para melhorar o ânimo dos investidores.
O petróleo, outro fator de preocupação, fechou em seu nível mais alto desde a Guerra do Golfo. Com o valor do petróleo novamente pressionado lá fora, analistas já temem seus possíveis reflexos internos, como a elevação no preço da gasolina.
Os dados de emprego nos EUA mostraram uma criação de vagas acima do estimado pelos analistas. Isso mostra que a economia do país está mais aquecida, o que fez crescer as expectativas de que os juros poderão ser elevados nos EUA já no próximo mês.
O temor de que os juros norte-americanos subam em breve tem feito os investidores venderem títulos de países emergentes. Como os papéis dos EUA são mais seguros, a tendência é os investidores se desfazerem de títulos de emergentes (mais arriscados) para comprar os americanos.
Ontem o risco (espécie de termômetro da confiança do investidor em um país) brasileiro fechou a 761 pontos, com alta acumulada de 14,8% na semana. O risco da Turquia teve elevação de 16,5% ontem, e o da Rússia, 5,1%.
O cenário político também sofreu turbulências na semana. A derrota do governo Lula no caso da proibição aos bingos e a formação de uma comissão mista para discutir o valor do salário mínimo repercutiram mal no mercado, sendo encaradas como sinais de fraqueza do governo.
Na semana, as perdas da Bovespa foram de 5%. A desvalorização da Bolsa paulista no ano chega a 16,23%. O dólar subiu 4,4% na semana e foi a seu maior valor desde agosto do ano passado.

Preocupações
"Além dos EUA, a preocupação com a alta no preço do petróleo cresceu. O pior é que, depois de o risco ser muito pressionado, o dólar está subindo expressivamente. Esse ambiente reduziu as possibilidades de corte na taxa básica de juros", afirma Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos.
Relatório da Global Invest alerta que a mudança do cenário externo "se sobrepõe aos fatores internos", o que pode fazer com que "o ciclo de quedas de juros esteja em seu fim". A consultoria diz que na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deste mês ainda deve haver uma decisão por redução na taxa básica de juros. "Mas ressaltamos que essa seria uma das últimas quedas do ano", diz o relatório.
As projeções dos juros futuros subiram na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). No contrato DI (que segue as taxas interbancárias) mais negociado, com prazo em janeiro, a taxa foi de 15,76% para 15,87%.

Resgate
Nesse cenário de turbulência, o Tesouro Nacional realizou ontem, pelo terceiro dia consecutivo, um leilão de recompra de títulos públicos pós-fixados (LFTs). Esses papéis, que estavam nas mãos das instituições financeiras, têm perdido seu valor no mercado, o que faz com que os fundos que os carregam (como fundos DI e de renda fixa) percam rentabilidade. Nos três dias, o Tesouro recomprou cerca de R$ 3,3 bilhões em títulos.


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