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ARTIGO
Alta dos preços é tendência inevitável
PAUL KRUGMAN
Antes do início da Guerra no Iraque, que seu império da mídia tanto promoveu, Rupert Murdoch
explicou a recompensa: "A melhor
coisa que poderia surgir para a
economia mundial, se pudermos
falar assim, seria o petróleo a US$
20". Os preços em Nova York subiram para quase US$ 40 o barril
ontem, um pico de 13 anos.
Os que esperavam grandes benefícios econômicos da guerra estavam enganados sobre como as
coisas se desenrolariam no Iraque.
Mas a ocupação desastrosa é apenas uma parte do motivo de o petróleo estar ficando mais caro; a
outra, que vai durar mesmo que
encontremos alguma maneira de
sair desse pesadelo, é a concorrência intensificada por uma oferta
mundial limitada de petróleo.
Graças à confusão no Iraque, as
exportações de petróleo ainda não
recuperaram seu nível anterior à
guerra, quanto menos ofereceram
os barris extras que os otimistas
imaginavam. E os efeitos da guerra
assustaram os mercados, que hoje
temem ataques contra instalações
de petróleo e estão começando a se
preocupar com a radicalização em
todo o Oriente Médio.
Mesmo que as coisas tivessem
corrido bem, no entanto, o Iraque
não poderia ter-nos dado petróleo
barato por mais que alguns anos,
no máximo, porque hoje os EUA e
outros países avançados competem por petróleo com as economias asiáticas em ascensão.
O petróleo é um recurso finito;
não foram descobertos grandes
campos desde 1976, e os especialistas suspeitam que não haja mais a
descobrir. Alguns analistas afirmam que a produção já esteja no
pico ou próximo dele. Mas a data
do pico físico da produção não é
realmente a questão crucial.
A questão, de fato, é quando a
tendência dos preços vai virar decisivamente para cima. Essa virada
é inevitável enquanto a economia
mundial em crescimento enfrenta
um recurso de suprimento limitado. Mas quando isso acontecerá?
Talvez já tenha acontecido.
Eu sei, é claro, que essas previsões já foram feitas antes, durante
a crise energética da década de 70.
Mas o fim daquela crise foi de modo geral mal compreendido: os
preços baixaram não porque o
mundo encontrou novas fontes de
petróleo, mas porque encontrou
maneiras de utilizar menos.
Nos anos 80, o consumo de petróleo caiu em todo o mundo,
quando os efeitos retardados da
crise energética levaram à utilização de carros mais eficientes, melhor calefação nas residências e assim por diante. Embora o crescimento tenha causado uma recuperação gradual, até 1993 o consumo
de petróleo foi só ligeiramente
maior que em 1979. Nos EUA, o
consumo só recuperou seu nível
de 1979 em 1997.
Desde então, porém, a demanda
mundial cresceu rapidamente: o
consumo diário de petróleo no
mundo é 12 milhões de barris superior ao de uma década atrás,
praticamente igual à produção
combinada da Arábia Saudita e do
Irã. A paixão dos americanos pelos
carros de alto consumo, apesar de
míope, não é a principal culpada:
os grandes aumentos de demanda
vieram dos países em desenvolvimento acelerado. A China ainda
consome só 8% do petróleo mundial -mas foi responsável por
37% do crescimento do consumo
mundial nos últimos quatro anos.
O choque entre a demanda em
rápido crescimento e uma oferta
limitada é o motivo pelo qual o
mercado de petróleo está tão vulnerável a oscilações. Talvez consigamos passar por este mal momento e o petróleo caia novamente para US$ 30 o barril. Mas seria
apenas um alívio temporário.
De certa maneira é irônico. Ultimamente temos ouvido falar muito sobre a concorrência da indústria chinesa e dos centros de atendimento indianos. Mas um tipo
diferente de competição -pelo
petróleo e outros recursos- representa uma ameaça maior à
nossa prosperidade.
Então, o que deveríamos fazer?
Uma dica: não podemos perfurar
nem conquistar o caminho para
solucionar o problema. Seja o que
fizermos, os preços vão subir. O
que temos de fazer é nos adaptar.
Paul Krugman, economista, é colunista
do "New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA).
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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