São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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ARTIGO

Alta dos preços é tendência inevitável

PAUL KRUGMAN

Antes do início da Guerra no Iraque, que seu império da mídia tanto promoveu, Rupert Murdoch explicou a recompensa: "A melhor coisa que poderia surgir para a economia mundial, se pudermos falar assim, seria o petróleo a US$ 20". Os preços em Nova York subiram para quase US$ 40 o barril ontem, um pico de 13 anos.
Os que esperavam grandes benefícios econômicos da guerra estavam enganados sobre como as coisas se desenrolariam no Iraque. Mas a ocupação desastrosa é apenas uma parte do motivo de o petróleo estar ficando mais caro; a outra, que vai durar mesmo que encontremos alguma maneira de sair desse pesadelo, é a concorrência intensificada por uma oferta mundial limitada de petróleo.
Graças à confusão no Iraque, as exportações de petróleo ainda não recuperaram seu nível anterior à guerra, quanto menos ofereceram os barris extras que os otimistas imaginavam. E os efeitos da guerra assustaram os mercados, que hoje temem ataques contra instalações de petróleo e estão começando a se preocupar com a radicalização em todo o Oriente Médio.
Mesmo que as coisas tivessem corrido bem, no entanto, o Iraque não poderia ter-nos dado petróleo barato por mais que alguns anos, no máximo, porque hoje os EUA e outros países avançados competem por petróleo com as economias asiáticas em ascensão.
O petróleo é um recurso finito; não foram descobertos grandes campos desde 1976, e os especialistas suspeitam que não haja mais a descobrir. Alguns analistas afirmam que a produção já esteja no pico ou próximo dele. Mas a data do pico físico da produção não é realmente a questão crucial.
A questão, de fato, é quando a tendência dos preços vai virar decisivamente para cima. Essa virada é inevitável enquanto a economia mundial em crescimento enfrenta um recurso de suprimento limitado. Mas quando isso acontecerá? Talvez já tenha acontecido.
Eu sei, é claro, que essas previsões já foram feitas antes, durante a crise energética da década de 70. Mas o fim daquela crise foi de modo geral mal compreendido: os preços baixaram não porque o mundo encontrou novas fontes de petróleo, mas porque encontrou maneiras de utilizar menos.
Nos anos 80, o consumo de petróleo caiu em todo o mundo, quando os efeitos retardados da crise energética levaram à utilização de carros mais eficientes, melhor calefação nas residências e assim por diante. Embora o crescimento tenha causado uma recuperação gradual, até 1993 o consumo de petróleo foi só ligeiramente maior que em 1979. Nos EUA, o consumo só recuperou seu nível de 1979 em 1997.
Desde então, porém, a demanda mundial cresceu rapidamente: o consumo diário de petróleo no mundo é 12 milhões de barris superior ao de uma década atrás, praticamente igual à produção combinada da Arábia Saudita e do Irã. A paixão dos americanos pelos carros de alto consumo, apesar de míope, não é a principal culpada: os grandes aumentos de demanda vieram dos países em desenvolvimento acelerado. A China ainda consome só 8% do petróleo mundial -mas foi responsável por 37% do crescimento do consumo mundial nos últimos quatro anos.
O choque entre a demanda em rápido crescimento e uma oferta limitada é o motivo pelo qual o mercado de petróleo está tão vulnerável a oscilações. Talvez consigamos passar por este mal momento e o petróleo caia novamente para US$ 30 o barril. Mas seria apenas um alívio temporário.
De certa maneira é irônico. Ultimamente temos ouvido falar muito sobre a concorrência da indústria chinesa e dos centros de atendimento indianos. Mas um tipo diferente de competição -pelo petróleo e outros recursos- representa uma ameaça maior à nossa prosperidade.
Então, o que deveríamos fazer? Uma dica: não podemos perfurar nem conquistar o caminho para solucionar o problema. Seja o que fizermos, os preços vão subir. O que temos de fazer é nos adaptar.


Paul Krugman, economista, é colunista do "New York Times" e professor na Universidade Princeton (EUA).
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves



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