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LUÍS NASSIF
As razões da crise
O atual nervosismo do mercado tem componentes previsíveis e incompetência técnica
do Banco Central. A parte previsível é a contagem regressiva para a saída dos fundos voláteis do
país.
Qualquer analista técnico está
cansado de saber que capital volátil é, por definição... volátil. Ou
seja, é da sua natureza ir atrás de
investimentos baratos, ganhar
na valorização e aguardar o momento certo para vender a sua
posição, derrubando o ativo que
ajudou a subir. Esses movimentos não dependem da situação
específica sobre o ativo, mas da
maneira como os investidores se
vêem entre si. Como são movimentos voláteis, quando começa
o movimento de retirada, há
uma pressão de venda que pune
quem sai por último. Por isso
mesmo, todos ficam se avaliando, aguardando o momento de
detonar a saída. No caso do movimento de alta dos países emergentes, o sinal seria a alta das taxas de juros norte-americanas.
No ano passado, mais uma vez
o Banco Central e os "cabeças de
planilha" de sempre repetiram a
mesmíssima cantilena furada de
que bastaria o país ser ao mesmo
tempo severo nos juros e responsável fiscalmente (nas demais
despesas, não com juros) que a
confiança seria restabelecida e o
risco-país cairia, abrindo caminho para o "espetáculo do desenvolvimento". O capital especulativo deixaria de ser especulativo
se os fundamentos melhorassem.
Fantástico!
Passado o ciclo de alta, qualquer justificativa serve para explicar o aumento do risco Brasil,
inclusive o desgaste político que
já era previsível no bojo da política monetária adotada.
Para completar esse épico, o BC
e o Tesouro cometeram erros básicos de sincronização de ações.
Há anos foi criada a LFT (Letra
Financeira do Tesouro), um título prefixado destinado a monitorar ações de curto prazo da política monetária. O objetivo era reduzir a memória inflacionária,
açulada pelos títulos pós-fixados.
As LFTs são adequadas para
monitorar o curto prazo. Só servem para o longo prazo em economias absolutamente estáveis
-o que está longe do caso da
brasileira.
No começo do ano, o Tesouro
passou a esticar o prazo de colocação das LFTs. Quando deu início a esse movimento, sobreveio
a fatídica ata do Copom, prenunciando o fim do mundo e
vendo inflação em todos os cantos -onde ninguém do mercado
via. Criou-se um curto-circuito
infernal nas expectativas dos
operadores, especialmente dos
gestores de fundos.
A cada dia que passava, o terrorismo do BC assustava os investidores, que sacavam dos fundos prefixados. Os fundos tinham que vender títulos para
pagar o resgate. Com a venda,
caía o valor do papel, reduzindo
o valor das cotas dos fundos.
Ao mesmo tempo, os gênios da
lâmpada do BC passaram a remunerar integralmente as aplicações de curto prazo dos bancos.
Ou seja, numa ponta fragilizaram expressamente as LFTs
(ajudados pela insistência cega
do Tesouro em esticar o prazo
dos títulos). Na outra, deram
uma porta de saída para o dinheiro que ficou no caixa dos
bancos.
Somado à crise internacional
mais que previsível, o resultado
foi esse.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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