São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

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Produtores da região se preparam para o plantio de soja transgênica

DO ENVIADO ESPECIAL AO PIAUÍ

O plantio de transgênicos está chegando mais cedo do que se imaginava às novas fronteiras agrícolas. Antoninho Trento diz que, enquanto foi produtor no Paraná, nunca desrespeitou a lei, mas agora vai experimentar essas novas variedades no Piauí.
Semente não vai faltar. José Antônio Görgen, o Zezão, que tem acordos com a Embrapa e a Monsoy, deverá começar a multiplicar as sementes geneticamente modificadas a partir desta safra.
Grande produtor de sementes convencionais, Zezão não parece muito entusiasmado com a transgênica. "É tudo uma questão de produtividade e de custo. Vamos experimentar em pequenas áreas. Se der resultados, ampliamos."
O caminho para os produtores que chegam ao Piauí começa invariavelmente pelo plantio de arroz, produto menos exigente. No segundo ano, vem a soja. O terceiro passo é o milho, seguido do algodão. Este só agora começa a ter os primeiros experimentos de plantio na região.
As vantagens para quem planta no Piauí são grandes. A terra bruta custa de 15 a 30 sacas de soja, dependendo da região. O Banco do Nordeste financia todo o projeto a taxas de 9,43% ao ano. Rogério Rocha da Costa, gerente da instituição, diz que neste ano a disponibilidade de crédito é de R$ 5 bilhões.
As multinacionais, já presentes e atuando na compra de grãos e no fornecimento de crédito, também são um braço de apoio ao financiamento.
Outras vantagens destacadas pelos agricultores são a boa produtividade da região -próxima de 50 sacas por hectare-, o clima favorável e a saída do produto por Itaqui (São Luís - MA), um porto moderno a 700 quilômetros de distância.
O avanço da soja no Piauí é um fator de desenvolvimento da região, mas os moradores locais têm duas preocupações: com o ambiente e com a mão-de-obra local. No caso do ambiente, Fianco diz que o Ibama é rígido e as regras estabelecidas estão sendo respeitadas.
No caso da mão-de-obra, Trento diz que aos poucos parte dos 30 trabalhadores locais que emprega vai assumindo funções mais especializadas, como o trabalho com máquinas.

Muitas dificuldades
Mas o Piauí não traz só vantagens. Apesar da terra barata, os investimentos iniciais são elevados. O primeiro plantio exige de seis a oito toneladas de calcário por hectare para a "correção da terra", e a tonelada do produto custa R$ 45, bem acima dos R$ 15 no Paraná.
A infra-estrutura da região também não é boa. Faltam bancos, serviços diversos e até hotéis. O melhor de Uruçuí é um motel transformado em hotel.
Dois outros sérios problemas são a falta de estradas e de energia. Alguns blecautes chegam a durar 12 horas, segundo os moradores. O escoamento da produção é por uma balsa, onde os caminhões perdem várias horas na fila.
A região é desprovida, ainda, de pesquisas. A Embrapa está começando agora, diz Altair Domingos Fianco, do Sindicato Rural de Uruçuí. Segundo ele, os produtores da região estão fazendo um fundo para auxiliar a Embrapa: um quilo da produção por hectare é destinado a esse fundo. (MZ)

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