São Paulo, terça-feira, 08 de maio de 2007

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Comitê julga Wolfowitz culpado, diz jornal

Presidente do Banco Mundial pode ter de deixar seu cargo devido a caso envolvendo sua namorada

DE WASHINGTON

A permanência de Paul Wolfowitz à frente do Banco Mundial (Bird) pode ser uma questão de dias. Um dos arquitetos da Guerra do Iraque, o presidente da entidade multilateral foi considerado culpado de conflito de interesses por um comitê interno ao manobrar para que a namorada, Shaha Ali, também funcionária do banco, fosse promovida e recebesse um aumento salarial em 2005.
A conclusão do comitê não viria com uma recomendação de punição ao executivo e ainda não foi divulgada oficialmente, mas o jornal "The New York Times" a publicou em seu site ontem, baseado em entrevistas com membros que participaram das reuniões ou tiveram acesso aos documentos.
O comitê é formado por sete dos 24 diretores-executivos do banco. Pode tanto sugerir a renúncia de Wolfowitz quanto afirmar que o presidente perdeu a confiança de seus diretores, o que o levaria a pedir demissão.
O ex-membro do gabinete de George W. Bush encontra mais resistência entre os europeus.
Esses ameaçam acabar com a regra não-escrita segundo a qual a presidência do banco ficaria sempre com um norte-americano, enquanto a de sua entidade-irmã, o Fundo Monetário Internacional (FMI), caberia a um europeu.
O acordo vem sendo seguido desde a criação das entidades, logo após a Segunda Guerra Mundial.
"Acho que o banco só pode realizar um bom trabalho se tiver uma reputação boa e sólida", disse o ministro das Finanças holandês, Wouter Bos, ao chegar a um encontro realizado com outros ministros europeus em Bruxelas, segundo a agência de notícias "Bloomberg". "Estou preocupado com sua reputação."

Saída de assessor
A aumentar a pressão, ontem ainda um dos homens de confiança do presidente anunciou que deixaria o banco dentro de uma semana. Trata-se de Kevin Kellems, 42, ex-porta-voz do vice-presidente Dick Cheney e ex-funcionário do Pentágono, levado ao Bird por Wolfowitz para ser seu principal assessor na área de comunicações.
Numa declaração por escrito confirmada por Marwan Muasher, diretor de relações externas do banco, o ex-assessor diz que sua ação foi motivada pelo "atual ambiente em torno da liderança", o que tornaria "impossível levar adiante a missão da instituição".
Kellems, que esteve no Brasil em dezembro de 2005, era chamado por seus críticos de "guardião do pente".
O apelido se deve a sua aparição involuntária em "Fahrenheit 11 de Setembro", de Michael Moore. No documentário, é Kellems quem entrega um pente a Wolfowitz antes de uma aparição gravada desse, ainda como subsecretário de Defesa de Bush; numa das seqüências mais famosas do filme, o chefe passa o pente na boca antes e depois de pentear o cabelo.
O apelido ilustra a resistência encontrada por Wolfowitz internamente. Além do caso de nepotismo, ele é criticado por membros do banco pela contratação de Kellems e de Robin Cleveland, outra assessora levada por ele, por seus salários elevados para o padrão da instituição (US$ 250 mil por ano cada um, ou cerca de R$ 44 mil por mês) e pelo grau de poder que tinham.
Até a conclusão desta edição, Cleveland continuava no Bird. (SÉRGIO DÁVILA)

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