São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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HUMBERTO BARBATO

"Investment grade" e a indústria


O grau de investimento faz brilhar o setor financeiro e o mercado de capitais, mas, por ora, limita-se a isso

O BRASIL finalmente alcançou o status de grau de investimento. Tal condição deixará a economia brasileira, a médio e longo prazos, menos suscetível à redução da liquidez global em conseqüência da crise norte-americana. O país vai se tornar mais atraente ao capital estrangeiro, principalmente aos investidores institucionais (fundos de pensão e outros) que por razões estatutárias só podem investir em títulos privados e públicos com o "selo" de grau de investimento.
Inegavelmente, a entrada de investidores institucionais é bem-vinda porque permitirá alongar ainda mais o prazo de vencimento dos títulos da dívida pública brasileira, ofertará crédito em condições mais atraentes para as empresas locais e dará maior liquidez ao mercado de capitais.
Com a decisão da S&P (Standard & Poor's), uma certeza e dois questionamentos passaram a fazer do debate sobre a política econômica no Brasil. A certeza é que, se nada for feito, o ingresso de capitais especulativos levará a taxa de câmbio para nível bem inferior ao atual. As dúvidas consistem em, primeiro, saber se a decisão do Copom de iniciar um novo ciclo de aperto monetário contribuiu para a conquista antecipada do grau de investimento. Segundo, se a orientação mais austera vai persistir nas próximas reuniões ou se o novo status do país assegura motivações suficientes para uma reversão na trajetória dos juros.
A intensa apreciação do real já colhe maus resultados: entre janeiro e abril deste ano, o saldo comercial brasileiro afundou, sendo 64,5% menor que o registrado em igual período do ano passado. Os produtos manufaturados retraíram a inserção no comércio internacional e devem ser novamente punidos com o recrudescimento da apreciação do real. Tal inquietação, acreditamos, deve perturbar o sono dos membros do Copom.
Como vemos, a decisão que vier a ser tomada na próxima reunião do Comitê de Política Monetária poderá aprofundar esse processo ou sinalizar a modificação do horizonte. Retornando aos dois questionamentos feitos acima, entendemos que, se os membros do Copom e o conjunto dos analistas financeiros endossarem a tese de que o aumento de meio ponto percentual da taxa Selic foi determinante para o país, antecipadamente, alcançar o grau de investimento, outras elevações da taxa serão efetuadas. O combate incessante ao recrudescimento da inflação será o principal argumento para reafirmar a austeridade da política monetária. Além disso, afirmar-se-á que o endurecimento contra a inflação trará ao país melhor posicionamento no ranking da S&P e a conquista do selo de "investment grade" das outras agências de classificação de risco.
Por outro lado, se a preocupação com o balanço de pagamentos influenciar os rumos da política monetária, é provável que a decisão seja manter os juros no atual patamar para ingressar em um novo ciclo de afrouxamento monetário mais à frente.
A nosso juízo, a decisão que vier a ser tomada deve preservar o crescimento econômico do país, neste e nos próximos anos. O status de grau de investimento faz brilhar o setor bancário/financeiro e o mercado de capitais, mas, por ora, limita-se a isso. É preciso que a política econômica assegure ao setor produtivo as condições necessárias para sustentar o crescimento, do contrário não haverá política industrial que institua mecanismos compensatórios ao cambio desequilibrado ou que favoreça o investimento produtivo, o que trará, mais cedo ou mais tarde, novas fragilidades ao setor industrial e déficits na balança comercial.


HUMBERTO BARBATO , 53, é presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).

Excepcionalmente, hoje, a coluna de PAULO NOGUEIRA BATISTA JR. não é publicada.


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