São Paulo, quinta-feira, 08 de maio de 2008

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IGP-DI em 12 meses já ultrapassa 10%

Índice, que não é o que baliza a meta oficial de inflação do governo, é o maior desde março de 2005; em abril, variação foi de 1,12%

Custos industriais subiram em vários setores, segundo a FGV; antes concentrada nos agrícolas, inflação está agora mais generalizada


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Pressionado especialmente por altas de produtos industriais no atacado, o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) saltou de 0,70% em março para 1,12% em abril, segundo a FGV (Fundação Getulio Vargas). Em 12 meses, o índice superou a marca de dois dígitos: bateu em 10,24% -maior variação desde março de 2005 (10,90%).
O IPA (Índice de Preços por Atacado) avançou de 0,80% em março para 1,30% em abril. Foi impulsionado pelo aumento dos preços industriais -de 1,77% em abril, contra 0,94% em março. Já os agrícolas, após meses de forte pressão, arrefeceram: subiram só 0,08% em abril, contra 0,46% em março.
"Os custos industriais subiram em muitos setores", disse Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV. Ele citou as altas do minério de ferro, fertilizantes, produtos siderúrgicos e alumínio.
Segundo ele, os reajustes dos industriais mostram que a inflação está agora mais generalizada -antes, as pressões estavam concentradas nos produtos agrícolas, que subiram menos por causa do recuo da soja e dos ovos. Tal fenômeno, diz, talvez demande uma ação mais firme do Banco Central na condução da política monetária.
"As pressões inflacionárias estão mais fortes e generalizadas. Não há um descontrole nem uma disparada, mas talvez o BC tenha de elevar um pouco mais os juros e por um período um pouco maior."
Atualmente, boa parte do mercado espera, pelo menos, mais três aumentos de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros. No mês passado, o BC elevou a Selic de 11,25% ao ano para 11,75% -a primeira alta desde maio de 2005. O BC já sinalizou que o aperto monetário não será prolongado.
Segundo o economista Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-RJ, a alta dos produtos industriais traz um ingrediente novo ao cenário já preocupante de inflação e indica "claramente uma pressão de demanda" -algo que o BC tenta frear com a elevação dos juros.
Com perspectiva de novos aumentos como o do diesel, Cunha diz que o IGP-DI se manterá pressionado e só deve ceder no segundo semestre, para taxas entre 0,30% e 0,50%. Mesmo assim, diz, o indicador deve fechar 2008 num nível "muito alto" -entre 8,5% e 9%.
O índice acumulado em 12 meses continuará subindo e deve chegar a 12%, pois a inflação em maio e junho de 2007 foi baixa, o que não deve se repetir neste ano, diz Cunha.
Outra grande preocupação do BC é que os aumentos no atacado cheguem ao varejo, o que acontece mais facilmente num cenário de consumo aquecido como agora.
Quadros também crê no recuo da inflação somente no segundo semestre. Diz que o aumento de 15% do diesel nas refinarias, a partir do dia 2 deste mês, será uma importante fonte de pressão do IGP-DI -o peso do produto no índice é de 2,54%. Os preços no atacado representam 60% do IGP-DI, e o combustível é usado na indústria e por transportadoras.
A alta do IGP-DI preocupa porque o índice ainda corrige parte da tarifa de telefonia e alguns contratos privados. O IGP-M é o indexador dos contratos de energia e aluguéis. Uma forte alta desses índices neste ano contaminará a inflação ao consumidor em 2009.


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