São Paulo, domingo, 8 de junho de 1997.



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Reeleição de FHC é faca de dois gumes

da Reportagem Local

A corrida pela reeleição do presidente FHC, autorizada na semana passada pelo Congresso Nacional, é uma faca de dois gumes para as Bolsas de Valores.
De um lado, a possibilidade de o presidente reeleger-se e dar continuidade ao Plano Real anima o mercado. Para os analistas, se a coligação PSDB/PFL vencer novamente, a moeda poderá continuar estável, amarrada à "âncora cambial" (controle da inflação por meio do freio na taxa de câmbio e abertura às importações). Além disso, as privatizações prosseguirão, bem como as principais reformas do Estado brasileiro (fiscal, administrativa, previdenciária).
De outro lado, porém, o início precoce da disputa eleitoral pode atrasar ainda mais as votações das mudanças na composição das receitas e despesas do governo nas três esferas (federal, estadual e municipal), dos fins dos privilégios do funcionalismo público e do saneamento e privatização de um pedaço da Previdência Social.
O jogo, afinal, é político e já começou, afirma Walter Brasil, presidente da Lloyds Asset Management. "Vai ser difícil conciliar as reformas do Real num ano eleitoral, pois os 'lobbies' são muito fortes. No máximo, o governo vai promover uma reforma administrativa mixuruca", avalia Brasil.
Os economistas Carlos Kawall Ferreira e Antonio de Castro, do Citibank, têm a mesma preocupação. Para eles, o fato de FHC ter convencido o deputado Luís Eduardo Magalhães a exercer a coordenação política na Câmara mostra que o governo não está seguro de dispor da maioria necessária para prosseguir com as reformas em ritmo acelerado.
"De qualquer forma, não parece haver muito espaço para prolongar a votação da reforma administrativa, sob pena de inviabilizar sua conclusão antes do início da próxima temporada eleitoral de 1998", escreveram ambos no último relatório de mercado ("stock guide") enviado aos clientes.
Para Marcelo Audi, chefe da área de análise de investimentos da Merrill Lynch, as reformas continuarão lentas, mas o importante é que não haverá reversão na tendência de abertura da economia, da privatização e do ajuste das empresas brasileiras à globalização.
"Não dá para ser otimista demais com as reformas constitucionais", afirma Audi.
Por razões diferentes, Audi e Brasil acham que mais importante -do ponto de vista negativo- será a gradual redução dos fluxos de investimento para a América Latina, em benefício dos mercados asiáticos. (MILTON GAMEZ)



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