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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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"MIRAGEM"

Segundo ministro, haveria espaço para o Banco Mundial aumentar de 30% a 50% o dinheiro destinado ao Brasil

Arrocho barra recursos do Bird, diz Furlan

Bruno Stuckert - 13.abr.03/Folha Imagem
O ministro brasileiro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan


ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

Sobra dinheiro agora no caixa do Banco Mundial para emprestar a países como Brasil, mas o arrocho fiscal acertado pelo governo e pelo FMI transforma os recursos em miragem.
Quem diz isso é o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, que se reuniu na última semana nos EUA com representantes do banco e de duas instituições coligadas: o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o IFC (Corporação Financeira Internacional, na sigla em inglês).
"A gente ficou sabendo do Jim Wolfensohn [presidente do Banco Mundial] que está sobrando dinheiro, o que deveria criar uma oportunidade para o Brasil, não fosse o constrangimento fiscal que temos hoje de não poder avançar nos empréstimos", diz.
O dinheiro descansa nas mãos do banco porque seus usuais destinatários não demandam os recursos neste momento. "China, Rússia e Índia estão pagando empréstimos", afirma Furlan.
O ministro diz que se deve trabalhar agora para baixar a meta de superávit fiscal -estabelecida em 4,25% para este ano. "A saída é, à medida que melhorarem as contas, termos algum tipo de negociação com o FMI de forma a não ficarmos de mãos amarradas. Há Estados e municípios que têm superávit e que estão restritos em questões de financiamentos internacionais pelo compromisso que o Brasil assumiu."
Segundo disse anteontem Anoop Singh, diretor do FMI para o hemisfério ocidental, o órgão deverá anunciar nas próximas semanas sua usual revisão periódica do acordo com o Brasil. "A gente sabe que isso é um problema de transição num momento em que era importantíssimo para o novo governo e para o país restaurar o processo de credibilidade. Mas essa coisas vão precisar ter uma evolução", diz Furlan.
A idéia do ministro seria utilizar o dinheiro do Banco Mundial e das instituições sob seu guarda-chuva em coisas como obras que serviriam a dois países, "nessa parte de integração física com o Mercosul e com os países limítrofes mais ao norte".
Segundo ele, haveria espaço para o banco aumentar de 30% a 50% seus empréstimos ao Brasil.
Em seu último relatório, o Banco Mundial diz ter 50 projetos no país, com comprometimento total de US$ 4,5 bilhões. A instituição é responsável por 12% dos investimentos públicos do país.
Já órgãos coligados, como o BID e o IFC, planejam aplicar no Brasil de US$ 6 bilhões a US$ 10 bilhões durante o atual governo.
O IFC, que destina seu dinheiro à iniciativa privada, poderia funcionar como meio para aumentar os empréstimos do grupo ao Brasil, já que seus recursos não têm que passar pelo das metas de superávit. O problema, segundo Furlan, é que a instituição já está operando em seu limite para o Brasil -25% do orçamento.
Enquanto deixa de tomar dinheiro do Banco Mundial por causa dos limites do acordo fiscal, o governo brasileiro tenta cavar investimentos privados.
Nesta semana foi a vez do próprio Furlan fazer uma ronda em bancos e agências de classificação de risco em Nova York -menos de dois meses depois de o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ter completado seu ciclo de visitas.
Furlan esteve nas três grandes agências que classificam a qualidade de investimentos -Standard & Poors, Fitch e Moody's-, além do banco JP Morgan, que elabora o índice de risco-país. "Eu não coloquei nenhuma pressão nesse pessoal. Simplesmente coloquei minha equipe à disposição para que, em próximas visitas, eles também nos ouçam. Nós lidamos com a parte concreta da economia brasileira."
Se o esforço der certo e o risco-país cair até 700 pontos, o ministro já sabe o que fazer: abrir uma garrafa do champanhe "La Grande Dame". Ele também se diz preparado para o caso de o índice melhorar muito -já comprou uma garrafa do champanhe "Cristal" para o dia em que o indicador bater em 400 pontos. "Aliás, dei de presente para o Palocci. Vou tomar na casa dele. Essa é ele que tem que pôr no refrigerador", afirma. Anteontem, o índice fechou em 730 pontos.

Alca
Furlan insiste em que as negociações entre o Brasil e os EUA pela área de livre comércio nos EUA vêm em marcha lenta, uma visão bem diferente da que o governo americano tenta passar.
Sobre tal contraste, diz: "Os antigos tinham uma frase que descreve bem essa situação: palavras comovem, e o exemplo arrasta. Nós estamos à espera de um gesto concreto dos Estados Unidos".
Como exemplo, cita o caso do álcool, que, segundo ele, os EUA poderiam importar do Brasil. "Para isso, tem que tirar essa maldita sobretaxa de US$ 0,54 por galão que os americanos puseram no etanol. Esse seria um grande gesto, um gesto concreto."
"Não dá para esconder que nós nos sentimos discriminados. Isso está lá, para quem quiser ver. Aliás, a oferta americana é pior do que a situação de hoje. Hoje nós já temos mais concessões de alíquota zero do que eles estão oferecendo. É igual casamento. Ninguém casa se não enxergar mais vantagens do que desvantagens", afirma o ministro.



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