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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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Caixa deve manter rentabilidade para atingir objetivos, diz Mattoso

VIVALDO DE SOUSA
COORDENADOR DE ECONOMIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, 53, disse que, nas atuais circunstâncias, "as operações de crédito da Caixa estão de bom tamanho".
 

Folha - O presidente Lula orientou os bancos públicos a baixar os juros para forçar uma baixa das taxas cobradas pelos bancos privados. A Caixa fará isso já?
Jorge Mattoso -
Em primeiro lugar, a Caixa já opera com taxas inferiores ao mercado. Em segundo, é nossa intenção preservar e ampliar as condições de rentabilidade e de equilíbrio econômico e financeiro da Caixa. Tivemos no primeiro trimestre um aumento de 60% [na rentabilidade] em relação ao primeiro trimestre de 2002. É obvio que é em termos nominais, tem aí de 10% a 15% ou mais de inflação, tem o efeito taxa de juros, mas, objetivamente, a rentabilidade tem sido boa.

Folha - Reduzir as taxas agora seria pôr em risco essa rentabilidade?
Mattoso -
Teremos condições de reduzir essa taxa e aumentar a participação dos bancos públicos no crédito com a ampliação da atividade econômica. Dadas as restrições macroeconômicas que existem hoje, que implicam juros elevados e a obtenção de 4,25% de superávit primário com um crescimento relativamente baixo, as operações de crédito da Caixa estão de bom tamanho. Nosso objetivo é preparar a Caixa para o momento seguinte, que esperamos que seja o mais próximo possível, de redução das taxas de juros e ampliação do crescimento econômico. Isso estamos fazendo.

Folha - Qual é o "spread" bancário médio da Caixa hoje?
Mattoso -
Pessoa física, 58%, contra 61,7% do mercado, tirando dessa média a Caixa.

Folha - E não daria para a Caixa diminuir seu ganho para se distanciar mais da média de mercado?
Mattoso -
Já é mais baixo do que o mercado. E, se você pegar o "spread" da Caixa por faixa, é maior: o "spread" pessoa física é de 58% contra 86% do mercado, é enorme a diferença; o "spread" pessoa jurídica é de 22% contra 35%. Para o conjunto das operações de pessoas físicas e jurídica, são 46,6% contra 71,4%.

Folha - Sem baixar a Selic não dá para fazer o que o presidente Lula achou que dava para fazer?
Mattoso -
O crédito não se amplia somente pela redução das taxas de juros, essa é uma questão importante. Depende de questões referentes ao mercado de trabalho, à distribuição de renda. Se você achar que só os juros vão resolver o problema, está errado. A Caixa faz o esforço de bancarização, de microcrédito e de alavancar o crédito privado para a construção civil. A Caixa faz isso prevendo a redução futura das taxas de juros para ter uma maior participação na oferta de crédito.

Folha - Esse futuro é para quando, para o segundo semestre?
Mattoso -
É o futuro, a Deus pertence. E essa é uma decisão do BC. Estamos trabalhando com uma redução da taxa de juros no segundo semestre e estamos operando no sentido de capacitar a Caixa para enfrentar essa redução. Porque vamos deixar claro: é muito fácil para os bancos operar com taxas de juros elevadas, as pessoas nem gostam de dizer isso.

Folha - Em quanto deve aumentar em termos de bilhões a oferta de crédito?
Mattoso -
A Caixa financia 90% da construção civil. É um erro. Na maioria dos países avançados, a participação do setor privado é muito elevada, é dominante. A Caixa assumiu isso aqui, e 67% das operações são destinadas às faixas até cinco salários mínimos. É uma demonstração de espírito público. São R$ 5,3 bilhões disponíveis para 2003, dos quais já usamos 30%. Para enfrentar o déficit habitacional num prazo razoável de dez anos, seriam necessários R$ 10 bilhões. Achamos que é insuficiente porque o setor privado não participa. Estamos fazendo um esforço para alavancar recursos do setor privado através do lançamento desses projetos pilotos de dois fundos de recebíveis de direitos creditórios. Isso deve ser anunciado pelo presidente da República proximamente.

Folha - Vai ser anunciado junto com o microcrédito?
Mattoso -
Não, vai ser depois do microcrédito. Soubemos pelo presidente do BNDES. O professor [Carlos] Lessa nos garantiu que o banco teria condições de alavancar recursos que podem chegar a R$ 700 milhões, só o BNDES, no próximo ano. É muito dinheiro, no ano passado, foram investidos R$ 4 milhões.

Folha - E o papel da Caixa?
Mattoso -
A Caixa está desenvolvendo é um processo intenso de bancarização. Com esse processo, acreditamos favorecer o processo de microcrédito, através sobretudo dos correspondentes bancários. O papel da Caixa é expandir o número de contas para a população de baixa renda.

Folha - Existe alguma regra que exija uma rentabilidade mínima nas operações comerciais da Caixa?
Mattoso -
Existem sim determinações legais, inclusive estatutárias. Temos de cumprir as regras.

Folha - O sr. acha que houve curto-circuito de informação para o presidente Lula defender algo que não é possível fazer? Faltou informação à cruzada do governo contra os juros cobrados pelos bancos?
Mattoso -
Entendo a inquietação e a preocupação, mas os bancos oficiais já funcionam como chamariz da redução das taxas.

Folha - A Caixa é mais um banco comercial do que social?
Mattoso -
No passado, se trabalhou muito com essa dicotomia. Ou era um banco ou era uma agência social. Ao longo do tempo, essa dicotomia deixou de existir. A Caixa apresenta rentabilidade e é crescentemente um banco social. E pode fazer isso graças à rentabilidade. As taxas em operações comerciais garantem que possamos fazer políticas públicas. A Caixa já tem dado uma contribuição extraordinária.



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