São Paulo, terça-feira, 08 de junho de 2004

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ONU E DESENVOLVIMENTO

Para Ricupero, exportações estão no limite

Reaquecimento interno trará dificuldade para manter vendas externas, pois país tem limitação de oferta, diz ex-ministro

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), disse ontem ter "alguma dúvida" sobre a capacidade de o Brasil continuar ampliando suas exportações porque o país tem "limitações de oferta".
Em dois eventos realizados no Rio de Janeiro, Ricupero disse que o Brasil está no limite da capacidade produtiva de itens importantes da pauta de exportações, como aços e papel e celulose.
Com a retomada do crescimento do consumo interno, o ex-ministro avalia que o país pode enfrentar dificuldades para continuar expandindo suas vendas externas, já que haveria uma concorrência entre o mercado interno e o externo por bens cuja produção seria insuficiente para atender a ambos.
Esse é um problema histórico da economia brasileira. As exportações tendem a crescer em cima da retração do mercado interno.
A equipe econômica do governo do presidente Lula, especialmente o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem dito que essa limitação histórica está sendo superada, entre outras coisas, porque o país começou a crescer com base no aumento dos investimentos.
No ano passado, as exportações brasileiras cresceram 21%, contra 4,7% do comércio internacional, segundo dados da Unctad. Com a previsão de que o comércio internacional cresça 8,6% neste ano, Ricupero acha que o ambiente está ainda mais favorável ao Brasil.
Mas ele acredita que, no atual despertar para o comércio exterior, o Brasil se preocupou mais com as negociações (acordos e tratados internacionais) do que com a oferta. Ricupero disse que a negociação é importante, mas não é o principal.
No entendimento do ex-ministro, é a capacidade de oferecer produtos que dá, em última instância, a medida de quanto o país pode crescer.
Ricupero ressaltou que a China é o país que mais cresce no mundo há 23 anos, embora somente tenha entrado na OMC (Organização Mundial do Comércio) neste século.
No caso brasileiro, ele avalia que, por enquanto, o agronegócio, cuja resposta aos investimentos é mais rápida, tem condições de suprir a limitação de oferta dos setores industriais que estão no limite. "Minha dúvida é quanto à sustentação", disse.
Ricupero participou ontem da abertura da Rio Trade Week, uma semana de discussões prévias à 11ª Conferência da Unctad, que será realizada de 13 a 18 deste mês, em São Paulo.
Ele criticou as dificuldades do Brasil em atrair capitais produtivos e ressaltou que hoje o capital de curto prazo é menos taxado que o investimento.
De acordo com o ex-ministro, a Unctad está preparando, como contribuição ao governo brasileiro, um relatório sobre os motivos que levaram companhias multinacionais a investir ou não no país.
Ricupero disse também que durante a Conferência da Unctad será discutida uma proposta para a criação de uma rede de bancos de fomento às exportações dos países em desenvolvimento.
A rede seria uma força de pressão dentro da OMC para a mudança das regras de financiamento ao comércio que, segundo Ricupero, hoje obedecem aos interesses dos países ricos.


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