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ONU E DESENVOLVIMENTO
Para Ricupero, exportações estão no limite
Reaquecimento interno trará dificuldade para manter vendas externas, pois país tem limitação de oferta, diz ex-ministro
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, secretário-geral
da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento), disse ontem
ter "alguma dúvida" sobre a capacidade de o Brasil continuar ampliando suas exportações porque
o país tem "limitações de oferta".
Em dois eventos realizados no
Rio de Janeiro, Ricupero disse que
o Brasil está no limite da capacidade produtiva de itens importantes da pauta de exportações,
como aços e papel e celulose.
Com a retomada do crescimento do consumo interno, o ex-ministro avalia que o país pode enfrentar dificuldades para continuar expandindo suas vendas externas, já que haveria uma concorrência entre o mercado interno e o externo por bens cuja produção seria insuficiente para
atender a ambos.
Esse é um problema histórico
da economia brasileira. As exportações tendem a crescer em cima
da retração do mercado interno.
A equipe econômica do governo do presidente Lula, especialmente o presidente do Banco
Central, Henrique Meirelles, tem
dito que essa limitação histórica
está sendo superada, entre outras
coisas, porque o país começou a
crescer com base no aumento dos
investimentos.
No ano passado, as exportações
brasileiras cresceram 21%, contra
4,7% do comércio internacional,
segundo dados da Unctad. Com a
previsão de que o comércio internacional cresça 8,6% neste ano,
Ricupero acha que o ambiente está ainda mais favorável ao Brasil.
Mas ele acredita que, no atual
despertar para o comércio exterior, o Brasil se preocupou mais
com as negociações (acordos e
tratados internacionais) do que
com a oferta. Ricupero disse que a
negociação é importante, mas
não é o principal.
No entendimento do ex-ministro, é a capacidade de oferecer
produtos que dá, em última instância, a medida de quanto o país
pode crescer.
Ricupero ressaltou que a China
é o país que mais cresce no mundo há 23 anos, embora somente
tenha entrado na OMC (Organização Mundial do Comércio) neste século.
No caso brasileiro, ele avalia
que, por enquanto, o agronegócio, cuja resposta aos investimentos é mais rápida, tem condições
de suprir a limitação de oferta dos
setores industriais que estão no limite. "Minha dúvida é quanto à
sustentação", disse.
Ricupero participou ontem da
abertura da Rio Trade Week, uma
semana de discussões prévias à
11ª Conferência da Unctad, que
será realizada de 13 a 18 deste mês,
em São Paulo.
Ele criticou as dificuldades do
Brasil em atrair capitais produtivos e ressaltou que hoje o capital
de curto prazo é menos taxado
que o investimento.
De acordo com o ex-ministro, a
Unctad está preparando, como
contribuição ao governo brasileiro, um relatório sobre os motivos
que levaram companhias multinacionais a investir ou não no
país.
Ricupero disse também que durante a Conferência da Unctad será discutida uma proposta para a
criação de uma rede de bancos de
fomento às exportações dos países em desenvolvimento.
A rede seria uma força de pressão dentro da OMC para a mudança das regras de financiamento ao comércio que, segundo Ricupero, hoje obedecem aos interesses dos países ricos.
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