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Alvo de disputas, VarigLog vive crise
Fundo americano diz que ex-sócios brasileiros deixaram empresa em situação precária; eles negam
Companhia atrasa salários e pagamentos a prestadoras de serviços e não deposita FGTS há um ano, afirmam funcionários e sindicatos
MARINA GAZZONI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Dois anos após a compra da
VarigLog, ex-subsidiária de
cargas da Varig, o fundo americano Matlin Patterson diz que a
empresa está se recuperando
dos problemas financeiros que
enfrentou decorrentes das disputas judiciais e administrativas do fundo com os sócios brasileiros afastados pela Justiça.
Dois sindicatos da categoria e
funcionários da empresa ouvidos pela Folha discordam. Para eles, a situação financeira da
VarigLog ainda é precária.
A VarigLog está no centro
das denúncias contra a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil),
acusada por ex-diretores da
Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) de ter pressionado pela aprovação de sua venda, apesar de alertas sobre a
condição irregular da sociedade formada pelo fundo americano e os sócios brasileiros.
Os funcionários da VarigLog
em Guarulhos paralisaram as
atividades na madrugada de
ontem. Segundo Raphael Moraes, um dos integrantes da Comissão Interna de Representantes dos Trabalhadores da
VarigLog de Guarulhos, eles
querem o fim da "seqüência de
demissões" e o pagamento dos
salários atrasados.
Moraes afirma que a empresa não deposita o FGTS (Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço) dos trabalhadores desde
junho do ano passado.
Os benefícios que a VarigLog
se comprometeu a pagar aos
trabalhadores que aderiram ao
PDV (Programa de Demissão
Voluntária) também não foram
acertados, afirma Moraes.
Um dos funcionários que
aderiram ao PDV foi o auxiliar
de carga Reginaldo Ferreira,
28, que optou por sair da empresa em maio. Ele temia que a
disputa entre os sócios sacrificasse os pagamentos dos trabalhadores e pensou que seria um
bom negócio se demitir e receber benefícios trabalhistas.
Desempregado, Ferreira diz
enfrentar dificuldades financeiras, pois, conforme relata,
não recebeu os benefícios acertados. Segundo ele, a rescisão
do contrato ainda não foi homologada e, por isso, não pode
receber o seguro-desemprego.
Mesmo assim, ele afirma que
não se arrepende da decisão.
"Ao menos estou livre para
procurar outra coisa."
De acordo com Moraes, cerca de 500 funcionários foram
demitidos nas duas últimas semanas. Segundo o sindicato
dos aeroviários, outros 266 foram dispensados entre outubro de 2007 e janeiro deste
ano. A entidade também diz
que a empresa anunciou corte
de 856 aeroviários e 112 aeronautas para os próximos 12
meses. A VarigLog não dá informações sobre esses dados.
A ameaça da Anac de cassar a
concessão da VarigLog também assustou os trabalhadores,
diz o funcionário Ailton Gonçalves. "O governo não pode
parar as operações. Os funcionários querem trabalhar."
Falta de pagamento
O sindicato dos aeroviários
diz que é comum empresas
prestadoras de serviços à VarigLog suspenderem a atividade
por falta de pagamento. "Eles
contratam, atrasam o pagamento e as prestadoras abandonam os postos. Eles [VarigLog] contratam outras e fazem tudo de novo." Moraes cita
como exemplo a empresa que
operava empilhadeiras em
Guarulhos, que teria desistido
por falta de pagamento. Segundo ele, hoje os próprios funcionários da VarigLog, que não são
treinados para a função, operam os equipamentos.
O Matlin afirma que a VarigLog está melhor hoje do que
quando assumiu a empresa,
após o afastamento dos ex-sócios do fundo -Marco Antonio
Audi, Marcos Haftel e Luiz
Eduardo Gallo- por ordem judicial, em abril deste ano.
Na época, a empresa operava
com apenas um avião, sem manutenção da frota e com contratos rescindidos por clientes,
diz o Matlin. Segundo o fundo,
hoje a VarigLog tem sete aviões
em operação, e sua diretoria
negocia com os sindicatos dos
funcionários um processo de
reestruturação da companhia.
Audi nega que a VarigLog esteja melhor hoje. Ele diz que, na
gestão dos brasileiros, os empregos e os vôos internacionais
foram mantidos. Segundo ele,
quando o fundo dos EUA assumiu o comando, a empresa deixou de voar ao exterior e quase
mil funcionários foram demitidos. "Desde que largamos a
companhia, ela se reduziu a um
quinto do seu tamanho."
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