São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008

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Prestador de serviço melhora padrão de vida

Enquanto emprego e renda estiverem crescendo, tendência é a demanda por serviços continuar forte, diz presidente do Ipea

Nos últimos 12 meses encerrados em abril, o IPCA geral subiu 5%, contra um aumento de 7,4% nos preços dos serviços pessoais


CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A costureira Antônia, 62, vai viajar de avião pela primeira vez. O carpinteiro Edvaldo, 57, começou a cursar faculdade de Geografia. A babá Ana Lúcia, 42, procura um apartamento para comprar. A massagista Maria Cecília, 59, não tem mais horário para atender novos clientes. A doméstica Cleuza, 32, comprou um terreno e poupa para construir uma casa maior. A auxiliar de enfermagem Maria, 44, conseguiu realizar o sonho de casar e fazer uma festa para 200 pessoas.
O crescimento da renda e do emprego no país resultou no aumento da demanda pelos serviços desse grupo de profissionais que vive um dos seus melhores momentos, segundo levantamento feito pela Folha com dez sindicatos e federações de trabalhadores.
"Os ganhos desses profissionais, principalmente os que prestam serviços pessoais, dependem do nível de renda das famílias. Enquanto emprego e renda estiverem crescendo, a tendência é continuar forte a demanda por esses serviços", diz Marcio Pochmann, presidente do Ipea.
A melhora na economia brasileira teve reflexo na vida da costureira Antônia Bezerra, que conseguiu comprar no ano passado seu primeiro carro, um Gol ano 2001. Registrada como costureira-piloto, executa uma das funções mais bem pagas na sua profissão e ganha R$ 830 mensais mais comissões para ajustar roupas de clientes de uma loja de vestidos de noivas. Desde junho do ano passado, recebe ainda uma aposentadoria de R$ 1.900 mensais. Somados os rendimentos, os planos já foram feitos: "No final do ano, vai dar para ir de avião ao Ceará."
Com maior poder aquisitivo, o consumidor vai mais ao cabeleireiro, à costureira, ao massagista, anda mais de táxi. Indicador de que esses serviços profissionais estão mais demandados é que eles estão mais caros.
Nos últimos 12 meses encerrados em abril, o IPCA geral subiu 5%, enquanto os preços dos serviços pessoais aumentaram 7,4%. "Esses profissionais ganham mais com o aumento da demanda e também consomem mais", afirma Fábio Romão, economista da LCA.
É o que ocorreu com o carpinteiro Edvaldo Ângelo dos Santos. "A minha prioridade era comprar a cesta básica. Agora já consigo incluir mais carne, danone e frios nas compras do mês." Há pouco mais de um ano, o operário realizou um sonho de 40 anos, quando saiu do Piauí: estudar. "Tive de abandonar o curso de história, em 2004, porque não conseguia pagar. Com o salário um pouco melhor, consegui retomar os estudos e pagar a mensalidade de R$ 350 para cursar a faculdade de Geografia."
Após consultar 8.200 domicílios no país em 2007, o estudo "Mais consumo, maior condição de vida", da LatinPanel, mostrou que houve alta de: 9% nos gastos com habitação, 28% com seguro de imóveis, 19% com material de construção, 14% com condomínio, 8% com saúde, 11% com vestuário, 8% com alimentação fora de casa e 7% com lazer.
Doméstica há dez anos, Cleuza dos Santos conseguiu comprar um terreno de cerca de R$ 20 mil na praia José Menino, em Santos, e poupa cada "centavo" dos R$ 810 que recebe por mês em dois empregos para reformar a casa. "Minha casa é pequena e tem umidade. Já consegui poupar R$ 5.000 e vou guardar mais para a obra."
A melhora no padrão de vida dessas categorias profissionais começou há cerca de três anos, na avaliação de Caio Megale, economista da consultoria Mauá. "A economia brasileira cresceu entre 1% e 2% ao ano por 20 anos. Agora o crescimento mudou de patamar e está entre 4% e 4,5% ao ano. Isso provocou uma sensação de mais segurança, o que faz com que o consumidor gaste mais e melhore seu padrão de vida."
Pesquisa da Ipsos mostra que parte da população que pertencia às classes de consumo mais baixas migrou para a classe média. Em 2006, 36% da população pertencia à classe C. No ano passado, eram 46%.
O que favorece também os ganhos desses profissionais, segundo avalia Anselmo Luís dos Santos, professor da Unicamp, é que eles atuam em um setor que não sofre concorrência internacional e fazem jornadas longas para atender a demanda e garantir renda maior.
Com ponto no aeroporto de Congonhas, o taxista Walter S. Lopes diz que é um trabalhador de classe média. Após viajar para quatro Estados e três países (Argentina, Uruguai e Bolívia), tem planos para o próximo destino. "Quero conhecer Fernando de Noronha neste ano."


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