|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Prestador de serviço melhora padrão de vida
Enquanto emprego e renda estiverem crescendo, tendência é a demanda por serviços continuar forte, diz presidente do Ipea
Nos últimos 12 meses encerrados em abril, o IPCA geral subiu 5%, contra um aumento de 7,4% nos preços dos serviços pessoais
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A costureira Antônia, 62, vai
viajar de avião pela primeira
vez. O carpinteiro Edvaldo, 57,
começou a cursar faculdade de
Geografia. A babá Ana Lúcia,
42, procura um apartamento
para comprar. A massagista
Maria Cecília, 59, não tem mais
horário para atender novos
clientes. A doméstica Cleuza,
32, comprou um terreno e poupa para construir uma casa
maior. A auxiliar de enfermagem Maria, 44, conseguiu realizar o sonho de casar e fazer
uma festa para 200 pessoas.
O crescimento da renda e do
emprego no país resultou no
aumento da demanda pelos
serviços desse grupo de profissionais que vive um dos seus
melhores momentos, segundo
levantamento feito pela Folha
com dez sindicatos e federações de trabalhadores.
"Os ganhos desses profissionais, principalmente os que
prestam serviços pessoais, dependem do nível de renda das
famílias. Enquanto emprego e
renda estiverem crescendo, a
tendência é continuar forte a
demanda por esses serviços",
diz Marcio Pochmann, presidente do Ipea.
A melhora na economia brasileira teve reflexo na vida da
costureira Antônia Bezerra,
que conseguiu comprar no ano
passado seu primeiro carro,
um Gol ano 2001. Registrada
como costureira-piloto, executa uma das funções mais bem
pagas na sua profissão e ganha
R$ 830 mensais mais comissões para ajustar roupas de
clientes de uma loja de vestidos
de noivas. Desde junho do ano
passado, recebe ainda uma
aposentadoria de R$ 1.900
mensais. Somados os rendimentos, os planos já foram feitos: "No final do ano, vai dar
para ir de avião ao Ceará."
Com maior poder aquisitivo,
o consumidor vai mais ao cabeleireiro, à costureira, ao massagista, anda mais de táxi. Indicador de que esses serviços profissionais estão mais demandados é que eles estão mais caros.
Nos últimos 12 meses encerrados em abril, o IPCA geral subiu 5%, enquanto os preços dos
serviços pessoais aumentaram
7,4%. "Esses profissionais ganham mais com o aumento da
demanda e também consomem mais", afirma Fábio Romão, economista da LCA.
É o que ocorreu com o carpinteiro Edvaldo Ângelo dos
Santos. "A minha prioridade
era comprar a cesta básica.
Agora já consigo incluir mais
carne, danone e frios nas compras do mês." Há pouco mais
de um ano, o operário realizou
um sonho de 40 anos, quando
saiu do Piauí: estudar. "Tive de
abandonar o curso de história,
em 2004, porque não conseguia pagar. Com o salário um
pouco melhor, consegui retomar os estudos e pagar a mensalidade de R$ 350 para cursar
a faculdade de Geografia."
Após consultar 8.200 domicílios no país em 2007, o estudo "Mais consumo, maior condição de vida", da LatinPanel,
mostrou que houve alta de: 9%
nos gastos com habitação, 28%
com seguro de imóveis, 19%
com material de construção,
14% com condomínio, 8% com
saúde, 11% com vestuário, 8%
com alimentação fora de casa e
7% com lazer.
Doméstica há dez anos,
Cleuza dos Santos conseguiu
comprar um terreno de cerca
de R$ 20 mil na praia José Menino, em Santos, e poupa cada
"centavo" dos R$ 810 que recebe por mês em dois empregos
para reformar a casa. "Minha
casa é pequena e tem umidade.
Já consegui poupar R$ 5.000 e
vou guardar mais para a obra."
A melhora no padrão de vida
dessas categorias profissionais
começou há cerca de três anos,
na avaliação de Caio Megale,
economista da consultoria
Mauá. "A economia brasileira
cresceu entre 1% e 2% ao ano
por 20 anos. Agora o crescimento mudou de patamar e está entre 4% e 4,5% ao ano. Isso
provocou uma sensação de
mais segurança, o que faz com
que o consumidor gaste mais e
melhore seu padrão de vida."
Pesquisa da Ipsos mostra
que parte da população que
pertencia às classes de consumo mais baixas migrou para a
classe média. Em 2006, 36% da
população pertencia à classe C.
No ano passado, eram 46%.
O que favorece também os
ganhos desses profissionais,
segundo avalia Anselmo Luís
dos Santos, professor da Unicamp, é que eles atuam em um
setor que não sofre concorrência internacional e fazem jornadas longas para atender a demanda e garantir renda maior.
Com ponto no aeroporto de
Congonhas, o taxista Walter S.
Lopes diz que é um trabalhador
de classe média. Após viajar para quatro Estados e três países
(Argentina, Uruguai e Bolívia),
tem planos para o próximo
destino. "Quero conhecer Fernando de Noronha neste ano."
Texto Anterior: Lula autoriza aperto fiscal de 4,5% do PIB Próximo Texto: Foco: Babá vê avanço com estabilidade econômica e valorização da profissão Índice
|