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CRISE DO DÓLAR
Maioria dos economistas ouvidos pela Folha diz que o Banco Central erra estratégia para conter alta do dólar
Analistas pedem choque agressivo de juros
ISABEL CLEMENTE
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Falta agressividade ao BC (Banco Central). De oito economistas
ouvidos pela Folha, sete não vêem
outra saída contra o dólar a não
ser um choque de juros.
O economista Renê Garcia, consultor da FGV (Fundação Getúlio
Vargas) e ex-diretor da CVM (Comissão de Valores Mobiliários),
chega a defender a repetição da
"fórmula 99", quando o governo
aumentou os juros e recorreu a
empréstimos externos para acalmar os investidores.
"Há momentos em que a economia precisa de um governo-xerife, daqueles que chegam ao bar e
mostram suas armas. A fórmula
de 99 pode ser repetida. O mercado está querendo isso, até porque
tudo indica que a Argentina está
saindo de um drama para entrar
numa tragédia", afirmou Garcia.
Os juros precisam responder
mais rapidamente, defende Garcia, para quem o Copom (Comitê
de Política Monetária) tem de agir
independentemente das reuniões
previamente marcadas.
O ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas é mais enfático.
Acha que a maior liberdade do BC
deveria ser traduzida em mexidas
diárias na Selic [taxa de juros básica da economia". "Se o BC começar a sinalizar os juros diariamente, o que eu acho que é o mais importante hoje, e tirar o viés de baixa da taxa, como fez na crise da
Ásia, ele erra menos", disse.
Para ele, o BC, ao elevar os juros
para 18,25% na última reunião do
Copom, "achou que os juros estavam no lugar certo, mas não estavam". "Tanto é que o dólar começou a subir. E vender dólar ou papel cambial com juros no lugar errado só queima reservas e aumenta a dívida cambial de curto prazo." A saída imediata, continua, é
o BC subir os juros de forma mais
drástica, o que garantiria intervenções esporádicas e bem-sucedidas no mercado.
O ex-diretor do BC enxerga
uma "sucessão de erros", que começou com a sinalização do viés
de baixa anunciado junto com a
alta de juros, num momento desfavorável. "O viés de baixa amarrou o BC." O segundo erro da autoridade monetária foi vender
LTNs (Letras do Tesouro Nacional) a 22%. "Se o BC queria ser
consistente com os juros de
18,25%, não venderia o papel prefixado a 22% [de juros"."
Outro economista da FGV, Lauro Vieira de Faria, concorda que
houve um erro de estratégia do
BC de privilegiar a venda de dólares e de títulos cambiais em detrimento de juros mais altos.
"Foi uma estratégia errada porque o mercado se utilizou dos títulos para comprar dólar mais barato e se financiar com taxas de
juros camaradas", disse. Faria
considerou o anúncio de US$ 6
bilhões em intervenções "estranhíssimo". "Não se sabe mais
qual é a política cambial do país."
O economista da FGV faz coro
aos que acham que o BC abusou
das intervenções no mercado. "O
sistema tem que funcionar via juros, com intervenções esporádicas. E aumento de 0,5 ponto percentual nos juros num país como
o nosso é praticamente nada."
Nem todos os especialistas, no
entanto, concordam que o BC
abusou das intervenções. O economista Luiz Roberto Cunha, da
PUC-Rio, por exemplo, defende
uma atuação mais frequente no
mercado. Para tanto, considera
válida inclusive uma nova negociação com o FMI, para a obtenção de recursos que garantam
mais munição.
Choque, mas não tanto
Para o economista Raul Velloso,
um "choque de juros" poderia
conter o dólar, mas refuta a idéia
de elevar a taxa para 45%, como
logo após a crise do real, no início
de 1999. Para Velloso, subir os juros é parte da solução, pois atrai
investimentos do exterior, irriga o
mercado de dólares, fazendo a cotação cair. "Também torna mais
caras as aventuras no mercado",
diz, referindo-se a movimentos
especulativos. José Márcio Camargo, da PUC-Rio, diz mais: para manter a alta dos juros dentro
da meta, a alta dos juros "certamente não será desprezível".
Questionado se cinco pontos
percentuais a mais na taxa seriam
suficientes para conter a fúria do
mercado, Camargo disse ser exatamente o que ele espera.
Para Camargo, a crise argentina
e o racionamento de energia estão
mexendo com as expectativas do
mercado, que passou a buscar cada vez mais proteção cambial. A
munição anunciada de US$ 6 bilhões para intervir no mercado foi
um erro do BC, diz. "Acho que o
BC se colocou numa camisa de
força desnecessária."
Para o economista Eustáquio
Reis, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a taxa de
câmbio está fora do ponto de
equilíbrio, que, na sua avaliação, é
de R$ 2,15 a R$ 2,20. Portanto, há
espaço para "um movimento
mais agressivo de juros".
Ele ressalva, entretanto, que há
uma tendência recessiva se desenhando à frente, o que pode inibir
o uso desse instrumento (juros).
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