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NEGÓCIO MILIONÁRIO
Com entidades criadas para os inativos, CUT e Força Sindical disputam associados e contribuições
Aposentado pode render R$ 40 mi a centrais
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
Força Sindical e CUT (Central
Única dos Trabalhadores) estão
de olho num mercado que pode
render cerca de R$ 40 milhões por
mês: o dos aposentados.
Na próxima quarta-feira, as
duas centrais sindicais vão pedir,
numa reunião do Conselho Nacional de Previdência, autorização para descontar da folha de pagamento dos beneficiários um valor para poder bancar os seus sindicatos nacionais de aposentados.
Os R$ 40 milhões seriam arrecadados se cada aposentado -hoje
existem 20,5 milhões no país-
concordasse em descontar R$ 2
do benefício que recebe por mês.
Isso renderia aos cofres das instituições R$ 480 milhões anuais.
Há dois anos Força Sindical e
CUT negociam, sem sucesso, autorização para efetuar esse desconto de forma voluntária. É que
em 2000 as duas centrais sindicais
criaram os seus sindicatos nacionais de aposentados.
A estratégia delas é disputar um
filão de mercado que até agora está nas mãos de apenas duas entidades: a Cobap (Confederação
Brasileira de Aposentados e Pensionistas) e a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura), que já têm permissão para fazer o desconto.
Mas entrar nesse negócio não
está fácil. CUT e Força informam
que o Ministério da Previdência
não dá a permissão do desconto
na folha do aposentado porque o
Ministério do Trabalho não reconhece os dois sindicatos como representantes dos aposentados.
O Ministério do Trabalho, por
sua vez, entende que os sindicatos
nacionais dos aposentados não
seguem a legislação sindical do
país, já que representam trabalhadores inativos. Não formam, portanto, uma categoria profissional
específica, como metalúrgicos,
bancários e químicos.
Para as centrais, esse jogo de
empurra-empurra do governo dá
a Cobap e Contag o monopólio de
representação dos aposentados
no país.
Discriminação
"Isso é discriminação com a
CUT e com a Força", afirma Remigio Todeschini, primeiro-secretário nacional da CUT e membro titular da CUT no Conselho
Nacional de Previdência Social.
Para ele, o governo deve autorizar o desconto por meio da folha
de pagamento da Previdência e
deixar que o aposentado decida a
qual sindicato quer se filiar. "O
governo está sendo arbitrário, autoritário pelo fato de não permitir
o desconto para nós."
"Dizer que o aposentado não é
categoria é o mesmo que dizer
que o aposentado não existe no
país", afirma João Batista Inocentini, presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical.
Enquanto essa autorização não
chega, a CUT cobra o valor que
seria descontado do aposentado
para bancar o seu sindicato nas
mensalidades.
O Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas filiado à
CUT cobra 0,5% do benefício
mensal do aposentado -R$ 1 em
média, considerando que a maioria dos aposentados recebe cerca
de R$ 200 por mês.
O problema é que, nesse caso, a
inadimplência é muito alta. É comum o aposentado pagar um
mês e não o seguinte, o que não
ocorre quando o desconto é feito
diretamente na folha de pagamento da Previdência.
A CUT informa, por exemplo,
que seu sindicato de aposentados
tem 40 mil sócios, mas está arrecadando hoje apenas R$ 5.000 por
mês, quando teria condições de
obter R$ 40 mil, considerando o
desconto de R$ 1 de todos eles.
O sindicato dos aposentados da
Força -bancado até agora pela
central e pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo-, segundo
Inocentini, está hoje inativo.
Segundo ele, foram distribuídos
130 mil cartões aos sócios. Esses
cartões possibilitam descontos de
até 47% na compra de medicamentos. "Quem arcou com esse
custo [cerca de R$ 150 mil] foram
os metalúrgicos e a Força", diz. O
sindicato dos aposentados da
Força Sindical, que informa não
cobrar nem sequer mensalidade,
aguarda agora decisão do governo para filiar outros 200 mil aposentados já na fila de espera.
Concorrentes
A Cobap, criada em 85, tem hoje
800 mil sócios e faz o desconto em
folha da Previdência de 82 mil
aposentados -o que lhe rende
cerca de R$ 331 mil.
A Contag, entidade que surgiu
em 1963, desconta de 1,6 milhão
de aposentados rurais, obtendo
arrecadação mensal de R$ 6,25
milhões. Juntas, as duas entidades
arrecadam R$ 6,59 milhões por
mês, informa o Ministério da Previdência Social.
Cobap e Contag informam que
têm autorização para fazer o desconto na folha da Previdência por
causa de convênios feitos há cinco
anos com o Ministério da Previdência Social. Elas conseguiram
isso porque, não sendo sindicatos, não precisam do aval do Ministério do Trabalho.
Esses convênios se amparam na
lei 8.213 de julho de 91, que permite o desconto na folha de pagamento da Previdência desde que o
aposentado autorize e desde que a
entidade que receberá o dinheiro
seja reconhecida legalmente.
O Ministério do Trabalho informa, por meio de sua assessoria de
imprensa, que os pedidos de registro dos sindicatos foram negados porque um sindicato tem de
representar uma categoria econômica ou profissional e ter como
base territorial mínima um município, o que não é o caso.
Opinião
Na opinião de João Teodoro de
Gouveia, 73, metalúrgico aposentado há 23 anos que recebe mensalmente R$ 250, o sindicato nacional dos aposentados e pensionistas é importante. "Mas desde
que ofereça bons serviços."
Para José Carlos de Moura, 66,
aposentado desde 96 por invalidez e dono de uma aposentadoria
de um salário mínimo, a criação
de sindicato garante lucro apenas
para seus dirigentes. "Certamente
o lucro não vem para nós."
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