São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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FINANÇAS PESSOAIS

Levantamento mostra que, em crises passadas, quase sempre os mesmos foram melhores que os outros

Investidor deve olhar desempenho de gestor

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Prepare-se para tempos difíceis. Duas nuvens negras rondam suas economias -a crise de confiança nas empresas americanas, com consequente aumento da aversão ao risco em todo o mundo, e a incerteza cada vez maior diante das eleições locais.
Pior: você terá de conviver com ambas por um longo tempo e o Banco Central não tem nenhum antídoto para elas. Neste momento, vale a pena olhar para o passado e tentar aprender com as inúmeras crises financeiras que o país e o mundo atravessaram. E tentar se proteger.
Um levantamento feito pelo Labfin (Laboratório de Finanças da USP), a pedido da Folha, mostra que, nos piores momentos do mercado financeiro -as crises da Ásia, do real, da Argentina e a atual-, alguns fundos e gestores de recursos se deram muito bem, ou, ao menos, conseguiram reduzir as perdas dos seus clientes.
"O estudo mostra que nos fundos de menor risco, como os DI, há uma persistência de alguns gestores entre os que obtiveram melhores resultados. Nos que oscilam mais, como os de ações e os livres, acaba havendo uma variação grande", diz Rodrigo Takashi Okimura, que preparou o estudo.
Essa variação, segundo ele, pode resultar da fusão de administradoras de recursos, nos últimos anos, com consequente mudança de política de gestão dos fundos.

Anos ruins
Analistas ouvidos pela Folha apontam para uma piora do quadro atual que está derrubando a Bolsa, desvalorizando o real e fazendo oscilar a rentabilidade até dos fundos mais conservadores, como os de renda fixa e os DI.
Para o consultor financeiro Walter Mundel, metade da crise brasileira deriva da crise mundial de confiança nos fundamentos das empresas americanas.
O calote dado por empresas que deixaram de resgatar títulos de dívida nos primeiros quatro meses do ano chegou a US$ 50 bilhões.
Além disso, a onda de balanços falsos que derrubou as ações e lesou investidores de Bolsa em bilhões de dólares afeta diretamente a economia popular naquele país. Cerca de 55% da poupança das pessoas está em ações. "Teve gente que perdeu quase 70% de seu fundo de aposentadoria", diz Mundel. Para ele, a recuperação demora "de três a quatro anos e muita coisa terá de mudar".
Para Jorge Simino, diretor do Unibanco Asset Management, se a desconfiança nos padrões de contabilidade americana e nos órgãos reguladores daquele mercado se generalizar, haverá uma crise de proporções "horrendas". "E os mercados emergentes, como o Brasil, não têm o que fazer para evitar isso", diz. Por isso o risco das aplicações financeiras está maior em todo o mundo.
Segundo Simino, o BC não tem antídoto para a crise externa nem para parte dos problemas internos, o chamado "risco eleitoral". Tanto que a "ração diária" de US$ 100 milhões com a qual o BC pretende acalmar o mercado não está sendo capaz de conter a desvalorização do real. Exemplo foi a sexta-feira: a moeda americana fechou em alta de 0,87%, a R$ 2,88.
O que impulsionou o dólar, na semana passada, foi o boato de que uma pesquisa contratada pela corretora Ágora, cujo resultado não foi divulgado, mostrava o candidato Ciro Gomes (PPS) à frente do candidato do governo e do mercado, José Serra (PSDB).
Marco Sudano, diretor-executivo do Unibanco Asset Management, recomenda aos investidores não fazerem aplicações com base em pesquisas eleitorais. "Elas mudam muito e nem sempre a tendência do início da campanha se confirma", diz ele.
Sudano diz que o investidor deve se basear na sua própria análise do quadro eleitoral: se acha que o candidato do governo vai ganhar, o cenário futuro será de alta das ações e queda dos juros. "Nesse caso, vale a pena ir para fundos de ações e de renda fixa", diz ele.
"Quem acredita que as Bolsas americanas vão cair mais e que a oposição vai ganhar as eleições no Brasil deve apostar num cenário de alta do dólar, queda da Bolsa e mais volatilidade nos fundos DI", acrescenta.
Nesse caso ele recomenda um fundo cambial. "Para o investidor sem opinião formada sobre o resultado da eleição presidencial, o melhor é ficar neutro, ou seja, ir para poupança ou fundo DI."



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