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FINANÇAS PESSOAIS
Levantamento mostra que, em crises passadas, quase sempre os mesmos foram melhores que os outros
Investidor deve olhar desempenho de gestor
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Prepare-se para tempos difíceis.
Duas nuvens negras rondam suas
economias -a crise de confiança
nas empresas americanas, com
consequente aumento da aversão
ao risco em todo o mundo, e a incerteza cada vez maior diante das
eleições locais.
Pior: você terá de conviver com
ambas por um longo tempo e o
Banco Central não tem nenhum
antídoto para elas. Neste momento, vale a pena olhar para o passado e tentar aprender com as inúmeras crises financeiras que o
país e o mundo atravessaram. E
tentar se proteger.
Um levantamento feito pelo
Labfin (Laboratório de Finanças
da USP), a pedido da Folha, mostra que, nos piores momentos do
mercado financeiro -as crises da
Ásia, do real, da Argentina e a
atual-, alguns fundos e gestores
de recursos se deram muito bem,
ou, ao menos, conseguiram reduzir as perdas dos seus clientes.
"O estudo mostra que nos fundos de menor risco, como os DI,
há uma persistência de alguns
gestores entre os que obtiveram
melhores resultados. Nos que oscilam mais, como os de ações e os
livres, acaba havendo uma variação grande", diz Rodrigo Takashi
Okimura, que preparou o estudo.
Essa variação, segundo ele, pode resultar da fusão de administradoras de recursos, nos últimos
anos, com consequente mudança
de política de gestão dos fundos.
Anos ruins
Analistas ouvidos pela Folha
apontam para uma piora do quadro atual que está derrubando a
Bolsa, desvalorizando o real e fazendo oscilar a rentabilidade até
dos fundos mais conservadores,
como os de renda fixa e os DI.
Para o consultor financeiro
Walter Mundel, metade da crise
brasileira deriva da crise mundial
de confiança nos fundamentos
das empresas americanas.
O calote dado por empresas que
deixaram de resgatar títulos de dívida nos primeiros quatro meses
do ano chegou a US$ 50 bilhões.
Além disso, a onda de balanços
falsos que derrubou as ações e lesou investidores de Bolsa em bilhões de dólares afeta diretamente
a economia popular naquele país.
Cerca de 55% da poupança das
pessoas está em ações. "Teve gente que perdeu quase 70% de seu
fundo de aposentadoria", diz
Mundel. Para ele, a recuperação
demora "de três a quatro anos e
muita coisa terá de mudar".
Para Jorge Simino, diretor do
Unibanco Asset Management, se
a desconfiança nos padrões de
contabilidade americana e nos órgãos reguladores daquele mercado se generalizar, haverá uma crise de proporções "horrendas". "E
os mercados emergentes, como o
Brasil, não têm o que fazer para
evitar isso", diz. Por isso o risco
das aplicações financeiras está
maior em todo o mundo.
Segundo Simino, o BC não tem
antídoto para a crise externa nem
para parte dos problemas internos, o chamado "risco eleitoral".
Tanto que a "ração diária" de US$
100 milhões com a qual o BC pretende acalmar o mercado não está
sendo capaz de conter a desvalorização do real. Exemplo foi a sexta-feira: a moeda americana fechou
em alta de 0,87%, a R$ 2,88.
O que impulsionou o dólar, na
semana passada, foi o boato de
que uma pesquisa contratada pela
corretora Ágora, cujo resultado
não foi divulgado, mostrava o
candidato Ciro Gomes (PPS) à
frente do candidato do governo e
do mercado, José Serra (PSDB).
Marco Sudano, diretor-executivo do Unibanco Asset Management, recomenda aos investidores não fazerem aplicações com
base em pesquisas eleitorais. "Elas
mudam muito e nem sempre a
tendência do início da campanha
se confirma", diz ele.
Sudano diz que o investidor deve se basear na sua própria análise
do quadro eleitoral: se acha que o
candidato do governo vai ganhar,
o cenário futuro será de alta das
ações e queda dos juros. "Nesse
caso, vale a pena ir para fundos de
ações e de renda fixa", diz ele.
"Quem acredita que as Bolsas
americanas vão cair mais e que a
oposição vai ganhar as eleições no
Brasil deve apostar num cenário
de alta do dólar, queda da Bolsa e
mais volatilidade nos fundos DI",
acrescenta.
Nesse caso ele recomenda um
fundo cambial. "Para o investidor
sem opinião formada sobre o resultado da eleição presidencial, o
melhor é ficar neutro, ou seja, ir
para poupança ou fundo DI."
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