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Até analista acha difícil escolher investimento
DA REPORTAGEM LOCAL
O quadro de incerteza crescente
tornou espinhosa a tarefa de escolher um abrigo para o dinheiro
que irá garantir a aposentadoria, a
faculdade dos filhos ou a compra
da casa própria. Até para quem é
do ramo.
"Está cada vez mais difícil aconselhar o investidor, pois há dois tipos de risco: da oscilação dos preços dos ativos e o risco de crédito
-de calote na dívida pública",
diz Mauro Halfeld, consultor e
professor de economia da Universidade Federal do Paraná.
A maioria dos analistas diz não
acreditar num calote, mas afirma
que o temor existe entre os investidores.
"Se isso ocorrer, todas as aplicações serão atingidas", diz Halfeld.
Isso porque 80% da poupança do
país está aplicada em títulos públicos e apenas 20% em títulos
privados (ações e CDBs, por
exemplo).
Mesmo a parcela aplicada em
papéis privados acabaria atingida.
O banco que emite um CDB compra títulos públicos com o dinheiro que capta do cliente. Se houver
calote, terá dificuldade de honrar
o CDB. As empresas que têm
ações em Bolsa também aplicam
em fundos lastreados em títulos
federais e, se tiverem perdas com
eles, seus balanços pioram e as
ações despencam. Até a poupança destina parte dos recursos para
os papéis do governo.
Exterior difícil
A saída para o exterior está cada
vez mais inviável: "Quem mandou dinheiro para fora para especular nas Bolsas americanas está
sujeito a um alto risco", diz Jorge
Simino, diretor da Unibanco Asset Management.
Se não há para onde fugir, o melhor é saber escolher sua aplicação
para atravessar a crise atual, se segurar e aguentar os solavancos.
Um critério, segundo Halfeld, é
conferir os fundos de investimento e os gestores que tiveram desempenho melhor, ou perderam
menos, nos meses de maio e junho, quando mudou o sistema de
contabilização das carteiras.
Desde o final de maio os fundos
passaram a contabilizar seus ativos -em sua maioria títulos públicos- pelo seu valor diário de
mercado. Antes, a contabilidade
era feita pelo valor de aquisição
dos papéis, corrigido por uma taxa de juro. "Quem se saiu bem
nos últimos dois meses já fazia a
marcação a mercado. Portanto,
merece um crédito do investidor", diz Halfeld.
Já Carlos Foz, diretor da Fama
Investimentos, diz que quem
atravessou as crises passadas com
menos arranhões também deve
ser lembrado. "É fácil ganhar dinheiro na alta, basta alavancar e
fundo e multiplicar o ganho", diz
ele. Alavancagem, no caso, é aplicar mais do que o patrimônio do
fundo.
Como vivemos numa montanha-russa nos últimos anos, ele
diz que o bom gestor é aquele que
administrou bem os riscos. "Vale
a pena conferir o desempenho do
gestor nas crises passadas", afirma Foz.
Já Marco Sudano, diretor-executivo do Unibanco Asset Management, diz que o mercado mudou muito nos últimos anos.
Por isso, ele recomenda conferir
a performance dos fundos nos últimos 12 meses para decidir onde
aplicar. "Muitos gestores que
acertaram no passado erraram
agora", diz.
É o caso, por exemplo, do Bank
of America e do JP Morgan, cujos
fundos livres (que hoje são classificados como multicarteira e balanceados) se destacaram nas crises da Ásia, da Rússia e do real,
mas tiveram perdas em junho
deste ano.
Segundo analistas, o Bank of
America surpreendeu o mercado
pois, além de apostar errado na
queda dos juros, quando ele disparou no mercado futuro, ainda
não respeitou os limites de perdas
estabelecidos no regulamentos
dos fundos.
"A Anbid [Associação Nacional
dos Bancos de Investimento", órgão regulador da indústria de fundos, que deveria zelar pelo cumprimento das normas do setor,
nada fez" , critica o consultor
Walter Mundel.
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