São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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Até analista acha difícil escolher investimento

DA REPORTAGEM LOCAL

O quadro de incerteza crescente tornou espinhosa a tarefa de escolher um abrigo para o dinheiro que irá garantir a aposentadoria, a faculdade dos filhos ou a compra da casa própria. Até para quem é do ramo.
"Está cada vez mais difícil aconselhar o investidor, pois há dois tipos de risco: da oscilação dos preços dos ativos e o risco de crédito -de calote na dívida pública", diz Mauro Halfeld, consultor e professor de economia da Universidade Federal do Paraná.
A maioria dos analistas diz não acreditar num calote, mas afirma que o temor existe entre os investidores.
"Se isso ocorrer, todas as aplicações serão atingidas", diz Halfeld. Isso porque 80% da poupança do país está aplicada em títulos públicos e apenas 20% em títulos privados (ações e CDBs, por exemplo).
Mesmo a parcela aplicada em papéis privados acabaria atingida. O banco que emite um CDB compra títulos públicos com o dinheiro que capta do cliente. Se houver calote, terá dificuldade de honrar o CDB. As empresas que têm ações em Bolsa também aplicam em fundos lastreados em títulos federais e, se tiverem perdas com eles, seus balanços pioram e as ações despencam. Até a poupança destina parte dos recursos para os papéis do governo.

Exterior difícil
A saída para o exterior está cada vez mais inviável: "Quem mandou dinheiro para fora para especular nas Bolsas americanas está sujeito a um alto risco", diz Jorge Simino, diretor da Unibanco Asset Management.
Se não há para onde fugir, o melhor é saber escolher sua aplicação para atravessar a crise atual, se segurar e aguentar os solavancos. Um critério, segundo Halfeld, é conferir os fundos de investimento e os gestores que tiveram desempenho melhor, ou perderam menos, nos meses de maio e junho, quando mudou o sistema de contabilização das carteiras.
Desde o final de maio os fundos passaram a contabilizar seus ativos -em sua maioria títulos públicos- pelo seu valor diário de mercado. Antes, a contabilidade era feita pelo valor de aquisição dos papéis, corrigido por uma taxa de juro. "Quem se saiu bem nos últimos dois meses já fazia a marcação a mercado. Portanto, merece um crédito do investidor", diz Halfeld.
Já Carlos Foz, diretor da Fama Investimentos, diz que quem atravessou as crises passadas com menos arranhões também deve ser lembrado. "É fácil ganhar dinheiro na alta, basta alavancar e fundo e multiplicar o ganho", diz ele. Alavancagem, no caso, é aplicar mais do que o patrimônio do fundo.
Como vivemos numa montanha-russa nos últimos anos, ele diz que o bom gestor é aquele que administrou bem os riscos. "Vale a pena conferir o desempenho do gestor nas crises passadas", afirma Foz.
Já Marco Sudano, diretor-executivo do Unibanco Asset Management, diz que o mercado mudou muito nos últimos anos.
Por isso, ele recomenda conferir a performance dos fundos nos últimos 12 meses para decidir onde aplicar. "Muitos gestores que acertaram no passado erraram agora", diz.
É o caso, por exemplo, do Bank of America e do JP Morgan, cujos fundos livres (que hoje são classificados como multicarteira e balanceados) se destacaram nas crises da Ásia, da Rússia e do real, mas tiveram perdas em junho deste ano.
Segundo analistas, o Bank of America surpreendeu o mercado pois, além de apostar errado na queda dos juros, quando ele disparou no mercado futuro, ainda não respeitou os limites de perdas estabelecidos no regulamentos dos fundos.
"A Anbid [Associação Nacional dos Bancos de Investimento", órgão regulador da indústria de fundos, que deveria zelar pelo cumprimento das normas do setor, nada fez" , critica o consultor Walter Mundel.



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