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UE pressiona Brasil a provar sustentabilidade do álcool
DO ENVIADO ESPECIAL A HOKKAIDO
O presidente da Comissão
Européia, José Manuel Durão
Barroso, cobrou ontem que o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva dê "garantias de sustentabilidade do biocombustível",
ou seja, uma demonstração
inequívoca de que nem "destrói
a floresta nem é feito em substituição à produção agrícola"
[para alimentação humana].
Lula chega hoje a Hokkaido,
no Japão, para participar primeiro de uma reunião com
seus pares do G5 (México, China, Índia e África do Sul) e,
amanhã, de outra cúpula, agora
entre o G5 e o G8 -clube formado pelos sete países mais ricos e a Rússia.
O presidente brasileiro tem
dito à exaustão que o Brasil tornou-se líder na produção de álcool ao mesmo tempo em que é
uma grande potência agrícola,
o que significa que o combustível não interfere com a produção alimentar.
Na recente cúpula sobre segurança alimentar, em Roma,
usou um exemplo fácil de entender para demonstrar que a
cana-de-açúcar, da qual o Brasil extrai o álcool, fica tão longe
da floresta amazônica como o
Vaticano fica do Kremlin.
Mas a frase de Barroso revela
o quanto é complicada a tarefa
do presidente brasileiro de defender o álcool das críticas. Foi
justamente o presidente da Comissão Européia quem se encantou com o entusiasmo de
Lula pelo álcool, durante visita
ao Brasil há cerca de dois anos.
Tanto se encantou que, no
ano passado, levou Lula a Lisboa e depois a Bruxelas para
vender o álcool brasileiro ao
público europeu.
De lá para cá, no entanto,
avolumou-se o ruído em torno
dos danos que o álcool supostamente causa à floresta e sobre
sua responsabilidade no aumento dos preços agrícolas.
Barroso deixou claro ontem
que continua a favor do álcool,
porque acha que "pode ser parte da resposta para reduzir as
emissões de gases que causam o
aquecimento global". Mas sente-se obrigado, como presidente do braço executivo da União
Européia, a tomar nota do "debate no mundo inteiro a esse
respeito".
Tem razão. Ontem, na abertura da cúpula do G8, as duas
autoridades que se apresentaram para entrevistas coletivas
tocaram no assunto.
Fim das tarifas
Primeiro foi Robert Zoellick,
presidente do Banco Mundial,
a instituição da qual vazou documento que diz que os biocombustíveis respondem por
75% da disparada de preços dos
alimentos.
Zoellick disse que há "um
amplo leque de estimativas" sobre os efeitos dos biocombustíveis nos preços agrícolas. "Que
há efeito, há", disse, sem quantificá-lo. Mas separou claramente o álcool derivado da cana, feito no Brasil, do etanol do
milho (especialidade norte-americana) e de oleaginosas.
Chegou a dizer que de dois
terços a três quartos da produção adicional de milho foi desviada para o etanol. Aproveitou
para pedir que tanto a União
Européia como os Estados Unidos eliminem as tarifas sobre a
importação de álcool, o que
soará como música ao ouvido
das autoridades brasileiras.
Os EUA cobram US$ 0,54 por
galão de álcool importado, o
que, como é óbvio, aumenta o
preço para o consumidor e dificulta as importações.
A segunda autoridade a tocar
no assunto foi o secretário-geral da ONU, o coreano Ban Ki-moon, para quem "não é claro o
impacto" da produção de álcool
sobre os preços agrícolas.
"São necessárias mais análises e pesquisas, inclusive sobre
a segunda geração de biocombustíveis" [que extrairá o combustível de produtos que não
servem para consumo humano
como cascas de árvores].
Jogou um cálculo mais preciso sobre os efeitos do álcool nos
preços para a conferência internacional que o governo brasileiro convocou para novembro, no Brasil. É nela também
que Lula aposta para estabelecer, sem paixão, o efeito que o
álcool tem tanto sobre os preços agrícolas como sobre o ambiente.
(CR)
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