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Eleição determinou acerto sobre gastos públicos
DE WASHINGTON
O chefe da missão brasileira em
Washington, Amaury Bier, disse
ontem que os principais candidatos à Presidência apoiaram as negociações do governo com o FMI
e que o acordo final tem amplo
respaldo político.
"As declarações que tenho visto
são todas de apoio. Acho que (os
candidatos) já expressaram esse
apoio", disse Bier, secretário-executivo do Ministério da Fazenda.
"Evidentemente que [foram" cautelosas [as declarações", no sentido de que ainda não se conhece o
detalhe do que foi acertado. O
apoio político existe, não tenho
dúvida de que ele existe."
No entanto, apesar do valor expressivo do novo pacote e das declarações otimistas de Bier, as negociações foram marcadas por
uma divergência séria entre o desejo do FMI de elevar a meta de
superávit primário (receita menos despesa sem contar gastos
com juros da dívida pública) e a
resistência do PT (que não fez
parte das negociações, mas relatou ao governo suas condições) a
essa idéia.
Esse impasse consumiu boa
parte do tempo das negociações e
sobreviveu a elas, embora tenha
sido habilmente camuflado pela
nota divulgada ontem pelo diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler.
A nota de Köhler indica não ter
havido elevação da meta de superávit primário para 2002. No entanto, para 2003, o diretor-gerente informou que essa meta não
poderá ficar abaixo da meta atual,
de 3,75% do PIB, e que será revisada a cada trimestre. Köhler informa ainda que o patamar mínimo de 3,75% de superávit primário terá que estar previsto na LDO
(Lei de Diretrizes Orçamentárias,
uma espécie de prévia do Orçamento) em 2004 e 2005.
Revisão do superávit
A Folha perguntou a um dos
negociadores brasileiros o que
significa esse "patamar mínimo".
O negociador reconheceu que,
em tese, o FMI poderá exigir, no
futuro, um aumento da meta de
superávit primário durante as revisões trimestrais previstas no
acordo. Nada mais lógico, já que
essas revisões foram estabelecidas
pelo FMI com essa finalidade. Um
funcionário do FMI comentou
que "em nenhum momento o
FMI comprometeu-se a não exigir a elevação da meta de superávit primário".
Segundo esse funcionário, o governo brasileiro conseguiu obter
um acordo do tipo "copo-meio-cheio-meio-vazio". A gerência do
FMI poderá dizer à diretoria da
instituição que obteve do Brasil o
compromisso de que a meta de
superávit primário nunca ficará
abaixo de 3,75% do PIB. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro e
o PT poderão dizer que resistiram
às pressões do FMI a fim de elevar
a meta.
Confrontado com essa comparação, o negociador brasileiro riu.
Disse que se trata de um problema mais político do que econômico, já que, ao impor algumas condições para aceitar o acordo, o PT
buscou incorporar-se às negociações. De resto, era importante,
sob o ponto de vista do FMI, que
isso ocorresse.
No entanto, disse ter sido um
avanço o Fundo ter reconhecido
que o Brasil fez todos os esforços
fiscais que poderia ter feito.
Bier, na saída do FMI, resumiu o
acordo da seguinte maneira. "Foi
um resultado bom. É do que o
país precisa. Foi um trabalho bem
concluído."(MARCIO AITH)
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