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LUÍS NASSIF
Um empreendedor nato
Nos anos 50, o jornal "O Globo" ainda não tinha o
peso editorial de hoje, mas a rádio era bastante influente. Tanto
que teve papel decisivo no suicídio de Getúlio Vargas, abrindo
seus microfones para Carlos Lacerda. Houve algumas experiências na área da revista, com uma publicação acanhada, "Rio Magazine", se não me engano, que
tentava emular a "Sombra", a grande revista sofisticada dos
anos 40.
Mas a grande aventura empresarial de Roberto Marinho no
campo da mídia, algo só superado pelo império de Assis Chateaubriand, foi a fundação da
Rede Globo.
Em meados dos anos 60, a televisão estava dividida entre a poderosa Tupi, dos Associados, a
Record, dos Machado de Carvalho, a Excelsior, dos Wallace Simonsen.
Marinho entrou na área com
lances de pura audácia e visão
estratégica. Sua parceria com o
grupo Time-Life -alvo de CPI,
dentro do clima conspiratório do
período- foi jogada de larga visão.
Os americanos entraram com
capital, mas, acima de tudo, com
know-how. Ensinaram como organizar comercialmente o negócio, como analisar os indicadores de audiência, como gerir
aquele bicho TV que mal engatinhava.
Ao mesmo tempo, Marinho foi
buscar no mercado o que havia
de melhor, do tino comercial de
Walter Clark à visão de TV de
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Não apenas isso.
Conferiu poder e participação
nos negócios a ambos e profissionalizou a empresa, acabando
com o estilo "bico" que dominava o jornalismo da época.
Quando percebeu que já dominava o veículo TV, começou a
pressionar os americanos para
que saíssem. Chegou a oferecer
os 50% da Time-Life para o banqueiro Walther Moreira Salles,
por US$ 5 milhões da época. O
negócio não prosperou porque os
americanos relutaram em sair.
Coincidência ou não, teve início uma pesada campanha no
Congresso contra a presença da
Time-Life, capitaneada pelo senador João Calmon, um dos
membros do condomínio dos Associados.
Com pressão por todo lado, os
americanos aceitaram sair do
negócio. Em vez de sócios, Marinho conseguiu um financiamento salvador do banco Nacional,
por meio de seu diretor no Rio,
José Luiz de Magalhães Lins.
Comprada a parte dos sócios, a Globo explodiu nos
anos 70 como o primeiro veículo de massa nacional na
área de entretenimento. Foi
das primeiras empresas brasileiras a ter padrão internacional de qualidade, a analisar o
telespectador como cliente, a
planejar cada passo da programação. Ao mesmo tempo,
Marinho dava prosseguimento à sua estratégia transformando "O Globo", até então
um jornal popular, em publicação com peso editorial. E,
em seguida, o Sistema Globo
de Rádio em uma das maiores
redes de emissoras do país.
Dos anos 70 em diante o poderio da Globo deu margem a
inúmeras interpretações conspiratórias, de que só teria sido
possível com a ajuda maciça
do regime militar.
Foi muito mais que isso.
Quase se envolveu com política no início da década de 80,
no controvertido episódio Proconsult -de apuração das
eleições nacionais. Depois se
tocou de que era muito mais
poderosa e permanente que as
idas e vindas da política. E se
tornou uma instituição nacional.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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