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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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LUÍS NASSIF

Um empreendedor nato

Nos anos 50, o jornal "O Globo" ainda não tinha o peso editorial de hoje, mas a rádio era bastante influente. Tanto que teve papel decisivo no suicídio de Getúlio Vargas, abrindo seus microfones para Carlos Lacerda. Houve algumas experiências na área da revista, com uma publicação acanhada, "Rio Magazine", se não me engano, que tentava emular a "Sombra", a grande revista sofisticada dos anos 40.
Mas a grande aventura empresarial de Roberto Marinho no campo da mídia, algo só superado pelo império de Assis Chateaubriand, foi a fundação da Rede Globo.
Em meados dos anos 60, a televisão estava dividida entre a poderosa Tupi, dos Associados, a Record, dos Machado de Carvalho, a Excelsior, dos Wallace Simonsen.
Marinho entrou na área com lances de pura audácia e visão estratégica. Sua parceria com o grupo Time-Life -alvo de CPI, dentro do clima conspiratório do período- foi jogada de larga visão.
Os americanos entraram com capital, mas, acima de tudo, com know-how. Ensinaram como organizar comercialmente o negócio, como analisar os indicadores de audiência, como gerir aquele bicho TV que mal engatinhava.
Ao mesmo tempo, Marinho foi buscar no mercado o que havia de melhor, do tino comercial de Walter Clark à visão de TV de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Não apenas isso. Conferiu poder e participação nos negócios a ambos e profissionalizou a empresa, acabando com o estilo "bico" que dominava o jornalismo da época.
Quando percebeu que já dominava o veículo TV, começou a pressionar os americanos para que saíssem. Chegou a oferecer os 50% da Time-Life para o banqueiro Walther Moreira Salles, por US$ 5 milhões da época. O negócio não prosperou porque os americanos relutaram em sair.
Coincidência ou não, teve início uma pesada campanha no Congresso contra a presença da Time-Life, capitaneada pelo senador João Calmon, um dos membros do condomínio dos Associados.
Com pressão por todo lado, os americanos aceitaram sair do negócio. Em vez de sócios, Marinho conseguiu um financiamento salvador do banco Nacional, por meio de seu diretor no Rio, José Luiz de Magalhães Lins.
Comprada a parte dos sócios, a Globo explodiu nos anos 70 como o primeiro veículo de massa nacional na área de entretenimento. Foi das primeiras empresas brasileiras a ter padrão internacional de qualidade, a analisar o telespectador como cliente, a planejar cada passo da programação. Ao mesmo tempo, Marinho dava prosseguimento à sua estratégia transformando "O Globo", até então um jornal popular, em publicação com peso editorial. E, em seguida, o Sistema Globo de Rádio em uma das maiores redes de emissoras do país.
Dos anos 70 em diante o poderio da Globo deu margem a inúmeras interpretações conspiratórias, de que só teria sido possível com a ajuda maciça do regime militar.
Foi muito mais que isso. Quase se envolveu com política no início da década de 80, no controvertido episódio Proconsult -de apuração das eleições nacionais. Depois se tocou de que era muito mais poderosa e permanente que as idas e vindas da política. E se tornou uma instituição nacional.

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