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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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MARCHA LENTA

Pesquisa da CNI apura pior junho para a indústria desde 1992

Produção pára, mas venda só cai

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi insuficiente a queda na produção, provocada pela indústria, para acompanhar a atual crise na demanda. Dados apresentados ontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) mostram que as horas trabalhadas nas fábricas caíram 0,43% em junho, em relação a maio (dado dessazonalizado). Mas as vendas sofreram redução maior, de 1,47% no mesmo período.
Resultado: produz-se menos, mas vende-se menos ainda. Há um evidente descompasso entre as duas pontas.
Há outros indicadores negativos. Junho apresentou o pior conjunto de resultados (que inclui itens como emprego e nível de salários) para o mês desde que a pesquisa começou a ser feita, há 11 anos, em 1992. O nível de utilização da capacidade instalada registrou o seu mais baixo patamar desde dezembro de 2001.
O uso da capacidade de produção foi de 79,2%. É como se uma máquina que pudesse produzir cem itens só tivesse fabricado 79. Em junho de 2002, a taxa estava em 80,2%. A queda é reflexo dessa tentativa de cortar o ritmo de atividade das fábricas.
"Ainda não há equilíbrio entre o nível de produção e venda. Como consequência, a ociosidade das fábricas cresce. A solução é apertar mais o cinto e fabricar menos que o calculado para evitar a formação de mais estoques", explica Flávio Castello Branco, economista da CNI.
Na pesquisa foram ouvidas 3.000 empresas em 12 Estados.
Desde o primeiro trimestre, as indústrias tentam acompanhar o nível de redução nas vendas alterando o ritmo de fabricação. "Por mais que se faça, a estratégia das empresas tem sido ineficaz porque as vendas sempre caem mais", diz Clarice Messer, diretora da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Exemplo: houve queda de 5% nas vendas das fábricas de eletrônicos para as lojas. A produção caiu um pouco mais do que isso. As lojas, por sua vez, venderam muito menos: até 20% de queda.
Montadoras de automóveis produziram 141 mil unidades em junho -15 mil a menos do que em maio. Mas ainda comercializaram abaixo disso, 99,8 mil.
Fabricantes de alimentos não reforçaram o ritmo de produção em junho em relação a maio. Supermercados, no entanto, tiveram vendas reais menores em junho -retração de 1,1% em relação a igual mês em 2002.
Com o descompasso entre produção e demanda interna, o nível de mercadorias estocadas acelera. O indicador de nível de estoques da CNI está em 54,2 pontos, recorde para a série. Acima de 50 indica estoque indesejado.

Pior número do ano
Relatório da CNI mostra ainda que, pela primeira vez no ano, houve redução na taxa de emprego do setor. A queda é de 0,14% em junho, em relação a maio. Até então, os números eram positivos no ano.
No acumulado de 2003, entretanto, há dados que mostram retomada. Houve aumento de 0,77% nas vendas, 1,09% no pessoal empregado e 0,37% nas horas trabalhadas em relação ao primeiro semestre do ano anterior.
Porém, na opinião de economistas da CNI, esses indicadores merecem análise cuidadosa. Isso porque a expansão acumulada nos primeiros três meses do ano era bem superior à apurada no semestre. Isso quer dizer que houve forte desaceleração no segundo trimestre.


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