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MARCHA LENTA
Pesquisa da CNI apura pior junho para a indústria desde 1992
Produção pára, mas venda só cai
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Foi insuficiente a queda na produção, provocada pela indústria,
para acompanhar a atual crise na
demanda. Dados apresentados
ontem pela CNI (Confederação
Nacional da Indústria) mostram
que as horas trabalhadas nas fábricas caíram 0,43% em junho,
em relação a maio (dado dessazonalizado). Mas as vendas sofreram redução maior, de 1,47% no
mesmo período.
Resultado: produz-se menos,
mas vende-se menos ainda. Há
um evidente descompasso entre
as duas pontas.
Há outros indicadores negativos. Junho apresentou o pior conjunto de resultados (que inclui
itens como emprego e nível de salários) para o mês desde que a
pesquisa começou a ser feita, há 11
anos, em 1992. O nível de utilização da capacidade instalada registrou o seu mais baixo patamar
desde dezembro de 2001.
O uso da capacidade de produção foi de 79,2%. É como se uma
máquina que pudesse produzir
cem itens só tivesse fabricado 79.
Em junho de 2002, a taxa estava
em 80,2%. A queda é reflexo dessa
tentativa de cortar o ritmo de atividade das fábricas.
"Ainda não há equilíbrio entre o
nível de produção e venda. Como
consequência, a ociosidade das
fábricas cresce. A solução é apertar mais o cinto e fabricar menos
que o calculado para evitar a formação de mais estoques", explica
Flávio Castello Branco, economista da CNI.
Na pesquisa foram ouvidas
3.000 empresas em 12 Estados.
Desde o primeiro trimestre, as
indústrias tentam acompanhar o
nível de redução nas vendas alterando o ritmo de fabricação. "Por
mais que se faça, a estratégia das
empresas tem sido ineficaz porque as vendas sempre caem
mais", diz Clarice Messer, diretora da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Exemplo: houve queda de 5%
nas vendas das fábricas de eletrônicos para as lojas. A produção
caiu um pouco mais do que isso.
As lojas, por sua vez, venderam
muito menos: até 20% de queda.
Montadoras de automóveis
produziram 141 mil unidades em
junho -15 mil a menos do que
em maio. Mas ainda comercializaram abaixo disso, 99,8 mil.
Fabricantes de alimentos não
reforçaram o ritmo de produção
em junho em relação a maio. Supermercados, no entanto, tiveram vendas reais menores em junho -retração de 1,1% em relação a igual mês em 2002.
Com o descompasso entre produção e demanda interna, o nível
de mercadorias estocadas acelera.
O indicador de nível de estoques
da CNI está em 54,2 pontos, recorde para a série. Acima de 50 indica estoque indesejado.
Pior número do ano
Relatório da CNI mostra ainda
que, pela primeira vez no ano,
houve redução na taxa de emprego do setor. A queda é de 0,14%
em junho, em relação a maio. Até
então, os números eram positivos
no ano.
No acumulado de 2003, entretanto, há dados que mostram retomada. Houve aumento de
0,77% nas vendas, 1,09% no pessoal empregado e 0,37% nas horas
trabalhadas em relação ao primeiro semestre do ano anterior.
Porém, na opinião de economistas da CNI, esses indicadores
merecem análise cuidadosa. Isso
porque a expansão acumulada
nos primeiros três meses do ano
era bem superior à apurada no semestre. Isso quer dizer que houve
forte desaceleração no segundo
trimestre.
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