São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2004

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COMÉRCIO

País encontra barreiras nos setores em que se torna competitivo

Eficiência do Brasil vira "armadilha" na exportação

FABÍOLA SALANI
DA REDAÇÃO

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao mesmo tempo em que o Brasil consegue ampliar sua participação no mercado internacional, vê seus produtos mais competitivos se tornarem "sensíveis" -protegidos com barreiras e subsídios por potenciais clientes.
Os recentes resultados de controvérsias na OMC (Organização Mundial do Comércio) sobre algodão e açúcar ilustram a armadilha do comércio exterior para o Brasil. Os países concorrentes atribuem a dumping -venda abaixo do preço de produção- os valores competitivos alcançados pelos produtores brasileiros devido à maior e melhor produtividade do país.
Ao dar razão ao Brasil, a OMC negou que o país mantivesse práticas ilegais -atestando que o preço baixo é mesmo fruto de vantagens estruturais.
"A escolha do que é sensível não é nossa, mas dos outros. Um país se aproveita das suas capacidades de produzir melhor, mais barato e mais rápido. Esse é precisamente o caso do Brasil no agronegócio", disse Arnaldo Brazil Ferreira, consultor-sênior da Prime Action Consulting.
Para Marcos Jank, diretor-presidente do Icone (Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais), equivoca-se quem diz que o país deve diminuir a ênfase em exportações agrícolas. "O Brasil tem vantagens competitivas na agricultura, como condições climáticas e solo, e não pode virar as costas ao setor."
Por isso, Jank diz que o Brasil tem que continuar a negociar como faz hoje e, quando encontrar barreiras questionáveis a seus produtos, levar o caso à OMC.
Tanto Jank quanto Ferreira lembram que países desenvolvidos são também grandes exportadores de commodities. "Os EUA, por exemplo, antes de serem potência industrial eram potência agrícola", disse o consultor. "Exportar commodities não é errado. Entre os dez maiores exportadores, cinco são países desenvolvidos", afirmou Jank.

Novas estratégias
No final de 2006, cerca de 60% do mercado mundial de produtos agrícolas será dominado por produtos alimentícios processados. Essa mudança no cenário do comércio global vai forçar os setores exportadores brasileiros a buscarem a inserção internacional de novos produtos.
Isso não significa, contudo, que a batalha pela abertura de mercado para os produtos mais protegidos deverá sair do caminho da diplomacia brasileira.
"Taticamente o Brasil tem que lutar por mais acesso a mercado, mas isso já está mais ou menos em andamento na Rodada Doha", diz Mauro de Rezende Lopes, professor da FGV-RJ (Fundação Getúlio Vargas). "Estrategicamente, temos que lutar por novos produtos, novos mercados e por novas estratégias de negócios."
Nesse contexto, Lopes cita a carne cozida congelada. Segundo ele, o Brasil já tem uma exportação relevante desse produto para o mercado europeu. "A Europa não impõe barreiras a esse produto porque precisa desse tipo de carne."
Mas o país não pode descuidar do controle sanitário. "Ainda que todas as regras de impedimento terminassem, as de controle sanitário não terminam nunca e contra elas não há o que fazer, pois se trata de saúde pública", disse Ferreira. "Temos que melhorar a defesa fitossanitária, o controle de qualidade interno e o conhecimento dos mercados [importadores]", ressaltou Lopes.


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