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ARTIGO
Propriedade intelectual na China preocupa
NAOTAKA MATSUKATA
DO "FINANCIAL TIMES"
A elaboração de uma reação
adequada ao surgimento da China como um dos principais atores
econômicos provocou intenso
debate em todo o mundo. Nos
EUA, um dos temas dos debates
de campanha entre os candidatos
presidenciais é o tratamento dado
pela China aos direitos de propriedade intelectual (DPI).
O tratamento da China aos DPI
representa uma ameaça considerável para importantes fontes de
valor duradouro em economias
da América do Norte, da União
Européia e da Ásia. Novos eventos no setor farmacêutico deveriam fazer governos e investidores pararem para pensar sobre a
confiabilidade da China como
parceiro econômico.
A pedido de 12 farmacêuticas
chinesas, o Departamento Estatal
de Propriedade Intelectual da
China derrubou no mês passado a
patente do Viagra detida no país
pela Pfizer. Os detalhes da medida
demoraram para vir à tona, e a
Pfizer está apelando da decisão,
mas ela parece se basear em uma
interpretação muito curiosa dos
padrões internacionais relativos à
proteção de patentes. Por enquanto, a China parece ter decidido que o Viagra não é um novo
produto nem inovador ou útil.
Portanto, não é digno da proteção
de uma patente.
Rapidamente após a decisão sobre o Viagra, outro grupo de empresas chinesas lançou um desafio semelhante ao popular medicamento para diabetes Avandia,
patenteado pela GlaxoSmithKline. Uma audiência sobre o caso
está marcada para 18 de agosto,
mas os fabricantes chineses já
consideram o "precedente" da
decisão sobre o Viagra como um
anúncio de seu iminente sucesso.
Esses precedentes não devem
passar despercebidos. Diante da
crescente pressão global para reprimir a infração de patentes, Pequim talvez esteja no processo de
redefinir os critérios de patentes
para proteger os laboratórios chineses de acusações de infrações. A
remoção das patentes do Viagra e
do Avandia daria às companhias
chinesas rédeas livres para fabricar medicamentos copiados no
país, sem temor de processos.
Para a indústria de pesquisa farmacêutica global, a decisão carrega a ameaça significativa de um
governo chinês que apóia tacitamente a produção de drogas fraudulentas por empresas chinesas.
Para os parceiros comerciais da
China, a decisão demonstra que o
país adotou de modo um tanto
cauteloso o sistema de regras da
OMC, à qual aderiu em 2002.
Custos
A conseqüência de várias decisões semelhantes pelas autoridades chinesas poderá ser reduzir a
receita e, portanto, o financiamento de empresas farmacêuticas internacionais para importantes iniciativas de P&D (pesquisa e
desenvolvimento) de drogas terapêuticass. Os custos nos EUA, por
exemplo, de levar uma nova droga ao mercado se aproxima de
US$ 800 milhões; a perda de lucros substanciais de um medicamento popular como o Viagra
certamente afetará novos gastos e
prioridades de P&D.
As medidas da China exigem
uma reação de um número significativo de países da OMC. A inação oferece o risco de minar as
proteções jurídicas globais para
as mais valiosas indústrias baseadas em conhecimento no mundo.
Compreensivelmente, poucos
países desejam confrontar a China no comércio sem a cobertura
representada pela liderança de
Bruxelas ou de Washington. A
decisão de repreender a China sobre sua infração da proteção de
patentes não deve ser ameaçada
pela política presidencial nos
EUA ou pela iminente troca de liderança na Comissão Européia.
Líderes de ambas as capitais deveriam agir imediatamente para
preservar as regras econômicas
internacionais de que se beneficiam empresas, trabalhadores e
consumidores em todo o mundo.
O autor, hoje no escritório Hunton & Williams LLP, é ex-diretor de planejamento
de políticas do USTR (escritório de negociação comercial dos EUA) e não está envolvido nos casos de patentes na China.
Tradução de Luiz Roberto Mendes
Gonçalves
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