São Paulo, sábado, 08 de agosto de 2009

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Fiscais resgatam trabalhadores em área ligada ao Bertin

Grupo frigorífico comprava alimento para gado em fazenda no Tocantins em que havia situação precária de trabalho

Ministério do Trabalho e MPT encontram 28 trabalhadores; Bertin diz "imaginar" que silagem não foi produzida por meio de trabalho escravo


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fiscais do Ministério do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho localizaram e resgataram ontem no Tocantins trabalhadores em situação considerada análoga à escravidão numa fazenda parceira do grupo Bertin, que tem como sócio o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e que foi recentemente acusado por procuradores do Pará de comprar gado em área desmatada ilegalmente.
O flagrante ocorreu em fazenda em Araguaçu (sul do Estado). Segundo o Ministério do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho, 28 trabalhadores foram encontrados em situação de jornada exaustiva e em condições precárias de alojamento, o que configura o trabalho escravo. Eles dormiam em currais, sem higiene e com alimentação inadequada.
Segundo os fiscais, a ligação do Bertin com a área em que foram resgatados os trabalhadores é a seguinte: no momento do flagrante, o proprietário da fazenda, José de Paula Leão Júnior, apresentou notas fiscais segundo as quais a empresa, para alimentar seu gado confinado num outro local, comprou silagem produzida na fazenda. A compra ocorreu por meio da Comapi, braço empresarial do Bertin para engorda, criação e confinamento de gado.
"Havia notas fiscais avulsas de compra e venda de silagem, entre o proprietário da fazenda e a empresa", disse o procurador do Trabalho Marcos Antonio Ferreira Almeida, que acompanhou o grupo do ministério na ação. O vínculo trabalhista ocorria diretamente entre o fazendeiro e as pessoas resgatadas. No caso do Bertin, seus bois podem ter sido alimentados com silagem produzida sob esse tipo de mão de obra.

Outro lado
Questionada via assessoria, a Comapi admitiu que em algum momento comprou a silagem do fazendeiro. A Comapi, porém, sempre de acordo com sua assessoria, disse "imaginar" que a silagem comprada não foi produzida por meio de trabalho escravo. A empresa diz que é cuidadosa em relação às condições trabalhistas e que sempre está atenta à atualização da chamada "lista suja" do Ministério do Trabalho.
O Bertin, gigante do ramo de frigoríficos, foi recentemente acusado pelo Ministério Público do Pará de comprar carne de pecuaristas que atuavam em área desmatada ilegalmente. O Bertin é sócio do BNDES, por meio de um investimento de R$ 2,5 bilhões. O banco tem 26% do capital do frigorífico.
Procurado ontem, o BNDES não quis comentar o flagrante do grupo móvel do Ministério do Trabalho. Em outras ocasiões, quando questionado sobre esse tipo de flagrante em áreas de empresas financiadas, o banco afirmou que somente poderia avaliar a rescisão do contrato diante de uma eventual decisão judicial.
Além de negociar a silagem produzida na propriedade, o fazendeiro arrendou parte de sua área para Comapi, que mantém gado no local. Os trabalhadores que cuidavam especificamente desse rebanho não estavam em situação de trabalho escravo, segundo o Ministério Público do Trabalho.
Ontem mesmo a Comapi assinou TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o Ministério Público, no qual se compromete a fazer uma auditoria em campo em todas as áreas nas quais arrendarem um pedaço de terra ou efetuarem algum tipo de compra, como no caso da silagem. Nesse trabalho in loco, a própria empresa checará as condições dos trabalhadores contratados.


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