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Fiscais resgatam trabalhadores em área ligada ao Bertin
Grupo frigorífico comprava alimento para gado em fazenda no Tocantins em que havia situação precária de trabalho
Ministério do Trabalho e MPT
encontram 28 trabalhadores;
Bertin diz "imaginar" que
silagem não foi produzida
por meio de trabalho escravo
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Fiscais do Ministério do Trabalho e do Ministério Público
do Trabalho localizaram e resgataram ontem no Tocantins
trabalhadores em situação considerada análoga à escravidão
numa fazenda parceira do grupo Bertin, que tem como sócio
o BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) e que foi recentemente
acusado por procuradores do
Pará de comprar gado em área
desmatada ilegalmente.
O flagrante ocorreu em fazenda em Araguaçu (sul do Estado). Segundo o Ministério do
Trabalho e o Ministério Público do Trabalho, 28 trabalhadores foram encontrados em situação de jornada exaustiva e
em condições precárias de alojamento, o que configura o trabalho escravo. Eles dormiam
em currais, sem higiene e com
alimentação inadequada.
Segundo os fiscais, a ligação
do Bertin com a área em que foram resgatados os trabalhadores é a seguinte: no momento
do flagrante, o proprietário da
fazenda, José de Paula Leão Júnior, apresentou notas fiscais
segundo as quais a empresa, para alimentar seu gado confinado num outro local, comprou
silagem produzida na fazenda.
A compra ocorreu por meio da
Comapi, braço empresarial do
Bertin para engorda, criação e
confinamento de gado.
"Havia notas fiscais avulsas
de compra e venda de silagem,
entre o proprietário da fazenda
e a empresa", disse o procurador do Trabalho Marcos Antonio Ferreira Almeida, que
acompanhou o grupo do ministério na ação. O vínculo trabalhista ocorria diretamente entre o fazendeiro e as pessoas
resgatadas. No caso do Bertin,
seus bois podem ter sido alimentados com silagem produzida sob esse tipo de mão de
obra.
Outro lado
Questionada via assessoria, a
Comapi admitiu que em algum
momento comprou a silagem
do fazendeiro. A Comapi, porém, sempre de acordo com sua
assessoria, disse "imaginar"
que a silagem comprada não foi
produzida por meio de trabalho
escravo. A empresa diz que é
cuidadosa em relação às condições trabalhistas e que sempre
está atenta à atualização da
chamada "lista suja" do Ministério do Trabalho.
O Bertin, gigante do ramo de
frigoríficos, foi recentemente
acusado pelo Ministério Público do Pará de comprar carne de
pecuaristas que atuavam em
área desmatada ilegalmente. O
Bertin é sócio do BNDES, por
meio de um investimento de
R$ 2,5 bilhões. O banco tem
26% do capital do frigorífico.
Procurado ontem, o BNDES
não quis comentar o flagrante
do grupo móvel do Ministério
do Trabalho. Em outras ocasiões, quando questionado sobre esse tipo de flagrante em
áreas de empresas financiadas,
o banco afirmou que somente
poderia avaliar a rescisão do
contrato diante de uma eventual decisão judicial.
Além de negociar a silagem
produzida na propriedade, o fazendeiro arrendou parte de sua
área para Comapi, que mantém
gado no local. Os trabalhadores
que cuidavam especificamente
desse rebanho não estavam em
situação de trabalho escravo,
segundo o Ministério Público
do Trabalho.
Ontem mesmo a Comapi assinou TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o Ministério Público, no qual se
compromete a fazer uma auditoria em campo em todas as
áreas nas quais arrendarem um
pedaço de terra ou efetuarem
algum tipo de compra, como no
caso da silagem. Nesse trabalho
in loco, a própria empresa checará as condições dos trabalhadores contratados.
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