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MERCADOS TENSOS
Novo ataque especulativo à moeda de Hong Kong desencadeia venda de papéis russos e brasileiros
Títulos da dívida desabam no exterior
France Presse
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Operadores na Bolsa de Hong Kong, que viveu mais um dia tenso
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CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local
Os títulos da dívida externa brasileira chamados de C-bonds tiveram ontem a pior queda em um
dia desde a crise asiática, de US$
0,04. Houve reflexos na Bolsa de
Valores de São Paulo, que fechou
em baixa de 3,82%.
O temor de que China e Hong
Kong não consigam defender suas
moedas de ataque especulativo,
com repercussões em todos os
países emergentes, detonou um
movimento forte de vendas.
O tombo no título da dívida externa russa chamado de Principal
agravou a situação. As cotações do
papel passaram de US$ 0,38 para
US$ 0,34, o pior patamar de sua
história. Comenta-se no mercado
que oito grandes bancos estrangeiros venderam tudo o que tinham desses títulos russos, contabilizando prejuízos.
Os boatos eram de demissão de
mais de 50 pessoas nos mercados
de Londres e Nova York que operavam nesses oito bancos com o
título russo Principal.
Também houve ordens de venda
de tudo o que tinham de C-bonds
por parte de dois grandes bancos
estrangeiros. O papel brasileiro fechou cotado a US$ 0,6975, seu patamar mais baixo deste ano. A
queda, de US$ 0,04 sobre o fechamento de anteontem, só foi menor
do que a registrada no dia 27 de
outubro de 97, na crise asiática, de
mais de US$ 0,10 em um dia.
Com a desvalorização, o C-bond
passou a pagar taxas de juros 7,85
pontos percentuais acima dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos de 30 anos de vencimento, a
maior diferença registrada em 98.
Na época da crise asiática, em
outubro e novembro do ano passado, essa diferença chegou a bater em 10 pontos percentuais, ficando em torno de 8 pontos nos
fechamentos dos mercados.
Essa diferença de taxas é considerada uma boa medida do chamado "risco Brasil". Representa
o quanto os investidores internacionais estão dispostos a pagar para deixar o porto seguro dos títulos do Tesouro norte-americano e
vir se arriscar no Brasil.
Com o ataque especulativo à
moeda de Hong Kong e da China,
os investidores internacionais
avaliam que o risco de uma desvalorização na moeda brasileira
cresce. O sistema cambial na Argentina, parceiro do Brasil no
Mercosul, é semelhante ao de
Hong Kong, o que torna o país especialmente susceptível.
Como muitos bancos não estão
mais operando no mercado de títulos da dívida externa russa, a
tendência é de o C-bond brasileiro
passar a apresentar oscilações
bruscas com mais frequência, avaliam os especialistas. Se a China
não mexer na sua moeda, no entanto, as cotações podem vir a se
recuperar novamente. O aumento
dos juros em Hong Kong pode ser
suficiente para defender a moeda.
Mas o nervosismo cresce com a
desvalorização da moeda do Japão
diante do dólar, que aumentou
ontem, e com o fato de o Vietnã
ter promovido uma desvalorização de 7% em sua moeda.
Quando um país desvaloriza sua
moeda contra o dólar, suas exportações se tornam mais competitivas no mercado internacional.
Com o iene mais fraco, a China
vem perdendo competitividade
para o Japão. O ritmo de crescimento econômico chinês cai com
exportações menores.
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