São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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MERCADOS TENSOS
Novo ataque especulativo à moeda de Hong Kong desencadeia venda de papéis russos e brasileiros
Títulos da dívida desabam no exterior

France Presse
Operadores na Bolsa de Hong Kong, que viveu mais um dia tenso


CRISTIANE PERINI LUCCHESI
da Reportagem Local

Os títulos da dívida externa brasileira chamados de C-bonds tiveram ontem a pior queda em um dia desde a crise asiática, de US$ 0,04. Houve reflexos na Bolsa de Valores de São Paulo, que fechou em baixa de 3,82%.
O temor de que China e Hong Kong não consigam defender suas moedas de ataque especulativo, com repercussões em todos os países emergentes, detonou um movimento forte de vendas.
O tombo no título da dívida externa russa chamado de Principal agravou a situação. As cotações do papel passaram de US$ 0,38 para US$ 0,34, o pior patamar de sua história. Comenta-se no mercado que oito grandes bancos estrangeiros venderam tudo o que tinham desses títulos russos, contabilizando prejuízos.
Os boatos eram de demissão de mais de 50 pessoas nos mercados de Londres e Nova York que operavam nesses oito bancos com o título russo Principal.
Também houve ordens de venda de tudo o que tinham de C-bonds por parte de dois grandes bancos estrangeiros. O papel brasileiro fechou cotado a US$ 0,6975, seu patamar mais baixo deste ano. A queda, de US$ 0,04 sobre o fechamento de anteontem, só foi menor do que a registrada no dia 27 de outubro de 97, na crise asiática, de mais de US$ 0,10 em um dia.
Com a desvalorização, o C-bond passou a pagar taxas de juros 7,85 pontos percentuais acima dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos de 30 anos de vencimento, a maior diferença registrada em 98.
Na época da crise asiática, em outubro e novembro do ano passado, essa diferença chegou a bater em 10 pontos percentuais, ficando em torno de 8 pontos nos fechamentos dos mercados.
Essa diferença de taxas é considerada uma boa medida do chamado "risco Brasil". Representa o quanto os investidores internacionais estão dispostos a pagar para deixar o porto seguro dos títulos do Tesouro norte-americano e vir se arriscar no Brasil.
Com o ataque especulativo à moeda de Hong Kong e da China, os investidores internacionais avaliam que o risco de uma desvalorização na moeda brasileira cresce. O sistema cambial na Argentina, parceiro do Brasil no Mercosul, é semelhante ao de Hong Kong, o que torna o país especialmente susceptível.
Como muitos bancos não estão mais operando no mercado de títulos da dívida externa russa, a tendência é de o C-bond brasileiro passar a apresentar oscilações bruscas com mais frequência, avaliam os especialistas. Se a China não mexer na sua moeda, no entanto, as cotações podem vir a se recuperar novamente. O aumento dos juros em Hong Kong pode ser suficiente para defender a moeda.
Mas o nervosismo cresce com a desvalorização da moeda do Japão diante do dólar, que aumentou ontem, e com o fato de o Vietnã ter promovido uma desvalorização de 7% em sua moeda.
Quando um país desvaloriza sua moeda contra o dólar, suas exportações se tornam mais competitivas no mercado internacional. Com o iene mais fraco, a China vem perdendo competitividade para o Japão. O ritmo de crescimento econômico chinês cai com exportações menores.




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