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CRISE ASIÁTICA
Governo de território chinês dobra juros para defender dólar local e reafirma que câmbio não muda
Moeda de Hong Kong sofre novo ataque
MARCIO AITH
de Tóquio
O dólar de Hong Kong sofreu
ontem seu maior ataque especulativo desde outubro do ano passado, mês em que explodiu a crise
asiática.
Quatro grandes corretoras norte-americanas e pequenos fundos
de investimento venderam um volume não divulgado da moeda local (segundo a administração da
ilha, "muitos bilhões de dólares
foram vendidos''), obrigando o
governo a dobrar as taxas de juro
de um dia.
O dólar de Hong Kong é atrelado
ao dólar norte-americano há 15
anos. Essa paridade fixa é um símbolo tradicional da economia globalizada de Hong Kong. Seu valor
não flutua -ou seja, não varia
conforme a demanda ou a oferta
da moeda-, obrigando o governo
a pagar um valor fixo de dólares
norte-americanos para cada dólar
de Hong Kong vendido pelos investidores.
Para evitar um desmonte de suas
reservas num ataque como o de
ontem, o governo automaticamente defende o valor de sua moeda aumentando as taxas de juro ou
intervindo diretamente no mercado. Compra a moeda local e tenta
inverter a tendência dos investidores.
Em Hong Kong, as taxas de um
dia no interbancário (mercado
onde o Banco Central e bancos
privados emprestam entre si) subiram de 4,5% para 7% ao ano. As
taxas de juros de três meses fecharam ontem a 13%, contra 10% na
quinta-feira.
A ofensiva contra o dólar de
Hong Kong foi feita simultaneamente a uma espécie de ataque ao
yuan, moeda da China, país mais
populoso do mundo.
Embora o yuan não seja plenamente conversível (não pode ser
trocado livremente por moedas
estrangeiras), investidores com
dinheiro no país usaram o mercado negro ou aproveitaram pequenas "frestas'' deixadas pelo governo chinês para comprar dólares.
O yuan fechou o dia valendo
8,2799 por dólar. Na quinta-feira,
valia 8,2795.
Os ataques derrubaram praticamente todas as Bolsas asiáticas e
criaram um sentimento de pânico
no mercado.
A Bolsa de Hong Kong fechou
com baixa de 3,3%. A da Malásia, -
2,9%; Cingapura, -2,5%; Indonésia, -2,4%; e Tailândia, -2%. Em
Tóquio, onde o primeiro-ministro
Keizo Obuchi anunciou formalmente corte de impostos de 7 trilhões de ienes e um pacote de estímulo fiscal de 10 trilhões de ienes,
a Bolsa caiu 0,3%.
As Bolsas de Valores chinesas
também foram desvalorizadas. A
ações tipo B, restritas a investidores internacionais, caíram para
seus mais baixos patamares na
história.
O iene, que se recuperava da desvalorização desta semana, voltou a
cair. Fechou a 145,5 por dólar.
Mercado negro
O ataque foi feito no momento
em que a China sofre as maiores
enchentes dos últimos 50 anos -o
que já está afetando as exportações
do país- e a administração de
Hong Kong mostra sinais de que a
economia da ilha vai encolher
mais do que se imaginava.
Apesar das enormes reservas em
dólar da China e de Hong Kong
(US$ 140 bilhões e US$ 90 bilhões,
respectivamente), que permitem
às duas economias se defenderem
adequadamente de ataques, nunca
foi tão forte a impressão de que o
yuan e o dólar de Hong Kong serão desvalorizados em breve.
As duas moedas são as duas únicas não afetadas durante a crise
asiática. Uma eventual desvalorização do yuan ou o fim do câmbio
fixo de Hong Kong poderão provocar uma nova rodada de desvalorizações das moedas da região.
O chefe executivo de Hong
Kong, Tung Chee-hwa, disse ontem que a paridade com o dólar
norte-americano será mantida,
apesar do ataque de ontem. Ele
disse também ter recebido do governo chinês a promessa de que o
yuan não será desvalorizado.
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