São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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CRISE ASIÁTICA
Governo de território chinês dobra juros para defender dólar local e reafirma que câmbio não muda
Moeda de Hong Kong sofre novo ataque

MARCIO AITH
de Tóquio

O dólar de Hong Kong sofreu ontem seu maior ataque especulativo desde outubro do ano passado, mês em que explodiu a crise asiática.
Quatro grandes corretoras norte-americanas e pequenos fundos de investimento venderam um volume não divulgado da moeda local (segundo a administração da ilha, "muitos bilhões de dólares foram vendidos''), obrigando o governo a dobrar as taxas de juro de um dia.
O dólar de Hong Kong é atrelado ao dólar norte-americano há 15 anos. Essa paridade fixa é um símbolo tradicional da economia globalizada de Hong Kong. Seu valor não flutua -ou seja, não varia conforme a demanda ou a oferta da moeda-, obrigando o governo a pagar um valor fixo de dólares norte-americanos para cada dólar de Hong Kong vendido pelos investidores.
Para evitar um desmonte de suas reservas num ataque como o de ontem, o governo automaticamente defende o valor de sua moeda aumentando as taxas de juro ou intervindo diretamente no mercado. Compra a moeda local e tenta inverter a tendência dos investidores.
Em Hong Kong, as taxas de um dia no interbancário (mercado onde o Banco Central e bancos privados emprestam entre si) subiram de 4,5% para 7% ao ano. As taxas de juros de três meses fecharam ontem a 13%, contra 10% na quinta-feira.
A ofensiva contra o dólar de Hong Kong foi feita simultaneamente a uma espécie de ataque ao yuan, moeda da China, país mais populoso do mundo.
Embora o yuan não seja plenamente conversível (não pode ser trocado livremente por moedas estrangeiras), investidores com dinheiro no país usaram o mercado negro ou aproveitaram pequenas "frestas'' deixadas pelo governo chinês para comprar dólares.
O yuan fechou o dia valendo 8,2799 por dólar. Na quinta-feira, valia 8,2795.
Os ataques derrubaram praticamente todas as Bolsas asiáticas e criaram um sentimento de pânico no mercado.
A Bolsa de Hong Kong fechou com baixa de 3,3%. A da Malásia, - 2,9%; Cingapura, -2,5%; Indonésia, -2,4%; e Tailândia, -2%. Em Tóquio, onde o primeiro-ministro Keizo Obuchi anunciou formalmente corte de impostos de 7 trilhões de ienes e um pacote de estímulo fiscal de 10 trilhões de ienes, a Bolsa caiu 0,3%.
As Bolsas de Valores chinesas também foram desvalorizadas. A ações tipo B, restritas a investidores internacionais, caíram para seus mais baixos patamares na história.
O iene, que se recuperava da desvalorização desta semana, voltou a cair. Fechou a 145,5 por dólar.

Mercado negro
O ataque foi feito no momento em que a China sofre as maiores enchentes dos últimos 50 anos -o que já está afetando as exportações do país- e a administração de Hong Kong mostra sinais de que a economia da ilha vai encolher mais do que se imaginava.
Apesar das enormes reservas em dólar da China e de Hong Kong (US$ 140 bilhões e US$ 90 bilhões, respectivamente), que permitem às duas economias se defenderem adequadamente de ataques, nunca foi tão forte a impressão de que o yuan e o dólar de Hong Kong serão desvalorizados em breve.
As duas moedas são as duas únicas não afetadas durante a crise asiática. Uma eventual desvalorização do yuan ou o fim do câmbio fixo de Hong Kong poderão provocar uma nova rodada de desvalorizações das moedas da região.
O chefe executivo de Hong Kong, Tung Chee-hwa, disse ontem que a paridade com o dólar norte-americano será mantida, apesar do ataque de ontem. Ele disse também ter recebido do governo chinês a promessa de que o yuan não será desvalorizado.



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